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Estado de Minas GASTRONOMIA

Conheça 7 estabelecimentos inaugurados em BH durante a pandemia

Mesmo em meio a um cenário incerto, alguns empresários se recusaram a deixar a crise do novo coronavírus atrapalhar os seus planos e sonhos


postado em 05/11/2020 00:37 / atualizado em 05/11/2020 00:38

Apaixonados por chocolate, os irmãos Arthur (atrás) e Alberto Kis montaram uma linha de produtos que valorizam os ingredientes regionais, como doce de leite e café:
Apaixonados por chocolate, os irmãos Arthur (atrás) e Alberto Kis montaram uma linha de produtos que valorizam os ingredientes regionais, como doce de leite e café: "Queremos mostrar ao mundo que somos capazes de produzir chocolates excelentes", diz Arthur (foto: Mayume Kis/Divulgação)
Este está sendo um ano difícil para todo mundo. Enquanto os reflexos da pandemia ainda são sentidos em várias partes do globo, é complicado mensurar o impacto negativo que o período terá na economia. No Brasil, podemos usar alguns números para tentar ilustrar esse cenário: os mais de 150 mil brasileiros que morreram por causa do novo coronavírus e a previsão de redução de 5,28% no PIB do país. Mas, mesmo em meio a um cenário incerto, alguns empresários se recusaram a deixar a pandemia atrapalhar os seus planos e sonhos, abrindo as portas dos seus novos empreendimentos e criando novas vagas de emprego. De maneira digital ou presencial, não importa. Afinal de contas, em alguns momentos de extrema necessidade, só existe um caminho a ser seguido: para frente.

Laiza Machado explica que o ora-pro-nóbis, geralmente utilizado em receitas como costelinha e polenta, é um dos ingredientes principais do gin da Don Luchesi.
Laiza Machado explica que o ora-pro-nóbis, geralmente utilizado em receitas como costelinha e polenta, é um dos ingredientes principais do gin da Don Luchesi. "É difícil de explicar, mas ele traz uma beleza nova para o sabor" (foto: Divulgação)
Há mais de cinco anos, o empresário Arthur Kis planejava a criação de sua própria linha de chocolates, por um motivo que começou bem pessoal. "Posso dizer que desde a década de 1980, eu sou chocólatra", afirma Arthur. Uma resolução publicada em 2003 pela Anvisa, porém, mudou sua relação com o que tanto apreciava. A agência definiu que para ser considerado chocolate o produto precisaria apenas de 25% de cacau na sua composição, abrindo mais espaço nas receitas para açúcares, gorduras e aditivos artificiais. "De repente, as mesmas marcas já não tinham o mesmo sabor", lembra Arthur. Junto do irmão e da mulher, a vontade de criar se transformou em determinação. Além de visitas a países e regiões conhecidas pela produção de chocolate, como Bélgica, Suíça e a cidade de Gramado (RS), o grupo tentava criar as suas próprias receitas em casa, dentro de um pequeno laboratório de 8 metros quadrados montado na cozinha de Arthur. Um dos aprendizados mais importantes do período foi que o uso de ingredientes de boa qualidade elimina a necessidade de aromatizantes e outros produtos artificiais, além de diminuir bastante o açúcar. Isso se torna ainda mais sério quando se trata da matéria prima. "O cacau é uma fruta rica em cheiros e sabores", conta Arthur. "Acreditamos na pureza dos ingredientes. Nosso lema é: mais cacau e menos açúcar."

Assim, a Yör Chocolates estava com tudo pronto para abrir as portas de sua loja conceito, localizada perto do BH Shopping, na segunda quinzena de março. Porém, como todos sabemos, veio a quarentena. O que seriam alguns dias se tornaram semanas e meses. Até que em 16 de junho, o grupo decidiu usar as redes sociais da Yör como plataforma de lançamento, apresentando ao público a sua primeira linha de produtos, com vendas pela internet. "O foco inicial era competir nas gôndolas, mas o e-commerce ajudou bastante o começo da nossa marca." Já que não era mais possível falar sobre o produto no balcão, a empresa abraçou a tecnologia para conseguir transportar a experiência para dentro da casa dos clientes. O kit degustação conta com um QR Code que, ao ser lido por um smartphone, carrega um áudio que ajuda a orientar a experiência e apresenta o conceito por trás de cada uma das quatro barras: 70% cacau, 44% ao leite, 65% com café e chocolate branco com doce de leite. Quanto ao futuro, a expectativa da Yör vai além do Brasil. "Apostamos no uso de ingredientes regionais porque também queremos mostrar ao mundo que somos capazes de produzir chocolates excelentes", diz Arthur.

Os idealizadores da Coffee , Leo Montesanto, Pedro Brás, Rafael Terra e Tiago Alvisi (da esq. Para a dir.):
Os idealizadores da Coffee , Leo Montesanto, Pedro Brás, Rafael Terra e Tiago Alvisi (da esq. Para a dir.): "Tudo seguiu conforme o planejado, pois, ainda bem, nosso setor não foi muito impactados pela pandemia", diz Leonardo. (foto: Gustavo Belém/Studio 3K/Divulgação)
Outros ramos também tiveram os seus planos paralisados pela pandemia. Acostumada a procurar novas tendências no mercado, a empresária Laiza Machado possui um bom faro para oportunidades. Em 2015, ela fundou a Lullo Gelato, mostrando para o público de Belo Horizonte que o sorvete italiano mais consistente e sem conservantes também merecia espaço. Depois de receber uma proposta de compra da gelateria, Laiza passou um tempo pesquisando a melhor forma para mudar da área dos doces para a de destilados. "Meu marido, Alexandre Luchesi, sempre sonhou em abrir uma cachaçaria em homenagem ao pai, que era conhecido como o Velho Major", conta a empresária. "Mas, pensando no mercado, vimos que era preciso dar uma modernizada no produto". Começou aí um processo de pesquisa de dois anos, com visitas a oito países para aprender tudo que fosse possível sobre a produção do gin, bebida alcoólica que conquistou os coquetéis de bares e baladas.

A homenagem ao Velho Major se tornou realidade na escolha do nome, mas com um toque a mais da cultura italiana. A destilaria Don Luchesi estava realizando os processos de regulamentação quando a pandemia chegou, desacelerando ainda mais um processo bem moroso. "A burocracia dificulta em muito a vida de quem quer empreender no Brasil. Está tudo pronto para abrir, mas não podia vender o produto enquanto não terminar o trâmite", desabafa Laiza. No começo de outubro, a Don Luchesi finalmente recebeu o sinal verde do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a produção na destilaria localizada em Lagoa Santa pode começar a todo vapor, levando para o mercado um gin com um toque mineiro. "Nossos ingredientes são todos naturais e grande parte deles são importados. Mas na receita também vai um toque de ora-pro-nóbis", conta Laiza. "É difícil de explicar, mas ele traz uma beleza nova para o sabor do gin."

O chef Caio Soter, responsável pelas receitas d%u2019O Jardim:
O chef Caio Soter, responsável pelas receitas d%u2019O Jardim: "Aqui, nós damos preferência para os ingredientes da estação e da região. Também temos a proposta de mudar pelo menos metade do cardápio de três em três meses". Ao lado, a Costela 12h com purê de moranga (foto: Enan Correia/Divulgação)
Da terceira geração de cafeicultores, Leonardo Montesanto garante que divide suas próprias raízes com as dos pés de café. Tudo começou no dia 6 de outubro de 1953, quando o seu avô, Aprígio Tavares, adquiriu a primeira saca de grãos. "Ele comprava de produtores da região de Ponte Nova para vender às indústrias", conta Leonardo. Até que na década de 1980, junto de seu filho, Aprígio comprou uma empresa mineira que estava com dificuldades financeiras: a Três Corações. Depois, vieram as empresas voltadas para a exportação do produto: Cafebras e Atlântica Coffee. Apesar da história de sucesso no ramo, Leonardo não sonhava em seguir os passos da família. "Lutei para não trabalhar no ramo, porque é difícil crescer no meio desses gigantes." Decidido a trilhar seu caminho por outras estradas, para provar a si mesmo que era capaz, ele abriu sua transportadora aos 19 anos. "Quando completei 24, estávamos entre as maiores transportadoras de café do Brasil. Aos 27, decidi vender a empresa". Em 2015, o empresário passou a administrar a produção de café da família, na Fazenda Alegria. Sob seu comando, os seus grãos conquistaram o primeiro lugar do prêmio Cup of Excellence, que premia o melhor café do mundo.

No Brasil desde 2007, o chef cubano Julio Escalona sempre sonhou em abrir o seu restaurante com receitas preparadas do seu jeito:
No Brasil desde 2007, o chef cubano Julio Escalona sempre sonhou em abrir o seu restaurante com receitas preparadas do seu jeito: "Todos os meus temperos são naturais: minha pimenta branca, meu alho, meu cominho..." (foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Mas além das premiações e das empresas de sucesso, tinha algo não saia da cabeça de Leonardo. "Democratizar o acesso ao café sempre foi um sonho meu e do meu pai", conta. "Minas Gerais tem algumas das melhores fazendas do mundo, mas a produção acaba sendo exportada." Junto de dois amigos que também crescerem no ramo, Rafael Terra e Pedro Brás, o empresário decidiu criar uma forma de ligar produtores e clientes de uma maneira eficiente. Assim nasceu a Coffee + , um e-commerce de cafés especiais, com uma classificação maior que 84 pontos. "Esse é uma pontuação sobre a qualidade do café, definida pelo consenso de mais de 60 juízes, sendo que 30 não moram no Brasil", diz Leonardo. Um dos produtos que mais chamam a atenção é o café geisha, conhecido por ser o favorito da família real japonesa, vendido a 57 reais a embalagem com 250 gramas. A inauguração da Coffee aconteceu no dia 6 de outubro, em homenagem à compra do senhor Aprígio, que começou toda a história. "Tudo seguiu conforme o planejado, pois, ainda bem, não fomos muito impactados pela pandemia", diz, aliviado, Leonardo.

Mas nem só novos estabelecimentos precisaram dar um jeito de sobreviver em meio ao caos instalado pelo novo coronavírus. Uma das casas mais tradicionais de Lourdes, a Marília Pizzeria tinha grandes planos para 2020, ano que marca seus 18 anos. "Já não éramos mais apenas uma pizzaria", conta o proprietário, Gilson Judice. "Era a hora de mudar, de se reinventar novamente." Por meio de uma parceria com Matheus Mourthé, o nome por trás do Olga Nur e Tizé Bar e Butiquim, a maioridade da casa chegou com várias transformações. Já no final do ano passado, o Marília começou a encerrar as suas operações na rua Marília de Dirceu para começar o período de obras no seu novo CEP. E graças a uma pitada de sorte e um bom planejamento, a casa não sofreu tanto com o impacto da pandemia. "Nós tínhamos programado um período de obras de seis meses", diz Gilson, que conseguiu recontratar 90% dos seus funcionários. Agora, a poucos metros dos parceiros Olga Nur e Tizé, a Marília Empório e Forneria dá os seus primeiros passos, trazendo algumas novidades para os clientes, mas sem abrir mão de sua essência. Vinhos, pizzas, massas e outros ícones da culinária italiana, fortes no cardápio da casa, estão ao lado de receitas elaboradas pelo chef Rodrigo Viana para a nova fase. A carta de drinques foi criada pelo Filipe Brasil, mixologista e bartender com 15 anos de experiência. "Também inauguramos o empório, onde nosso cliente conseguirá levar para casa massas frescas, molhos, geleias artesanais, enfim, tudo aquilo que servimos no restaurante", afirma Gilson.

Agora Marília Forneria e Empório, a tradicional casa que ficava na rua Marília de Dirceu ganhou novo nome, endereço e proposta: seis meses de obras(foto: Túlio Barros/Divulgação)
Agora Marília Forneria e Empório, a tradicional casa que ficava na rua Marília de Dirceu ganhou novo nome, endereço e proposta: seis meses de obras (foto: Túlio Barros/Divulgação)
Já em outros lugares, a pandemia chegou de maneira impiedosa. Projetado para ser um oásis em meio à selva de pedra, com um ambiente repleto de verde, O Jardim Restô Bar estava com tudo preparado para abrir no infame mês de março. Com o começo da quarentena, não foi possível nem apresentar a nova casa ao público. "Inicialmente, acreditávamos que era algo que duraria pouco tempo. Acho que todo mundo tinha esse pensamento", diz o sócio Guilherme Rabelo. "Com o tempo, percebemos que se não mudássemos a chave do negócio, corria o risco dele nem existir." Para conseguir viabilizar a operação até a reabertura, Guilherme repensou seu plano de negócios, colocando o delivery de pedidos como parte central de toda a operação. Afinal, mesmo que as pessoas não pudessem conhecer a estrutura, ainda podias conhecer o conceito da casa, por meio dos pratos. Desde o começo de agosto, a cozinha é comandada pelo chef Caio Soter. E assim como no ambiente d’O Jardim, o cozinheiro também tem o compromisso de manter o frescor no cardápio, com opções de almoço que mudam de 15 em 15 dias. "Aqui, nós damos preferência para os ingredientes da estação e da região", diz Caio. "Também temos a proposta de mudar pelo menos metade do cardápio de três em três meses."

Para quem gosta de carne: recheada com peito de peru defumado, bacon, linguiça calabresa, salaminho, salame hamburguês, salame milanês, pepperoni, carne seca, copa lombo e lombo canadense, a Salumeira é uma das pizzas mais pedidas na Confraria 269(foto: Victor Schwaner/Divulgação)
Para quem gosta de carne: recheada com peito de peru defumado, bacon, linguiça calabresa, salaminho, salame hamburguês, salame milanês, pepperoni, carne seca, copa lombo e lombo canadense, a Salumeira é uma das pizzas mais pedidas na Confraria 269 (foto: Victor Schwaner/Divulgação)
Já se tornou chavão dizer que durante as crises surgem as oportunidades. Mas é essa exatamente a frase usada por Fred Barros, um dos nomes por trás do LayBack Park, centro gastronômico de Nova Lima que combina cozinhas diferentes com um ambiente despojado, marcado pela pista de skate nos fundos. "Por causa da pandemia, vimos nossos inquilinos indo embora", conta. Fred transformou, então, um hobby em oportunidade de negócio. Ele costumava reunir os amigos na sede da Play Cultural, produtora de eventos na qual é sócio, para um happy hour recheado de músicas e pizzas. O conhecimento adquirido nos encontros informais acabou ganhando nome e um formato mais profissional dentro do LayBack, com a criação da Confraria 269. "Ela é comandada por três sócios: eu, que cuido do marketing; o Diego Kfoury, à frente das finanças; e Ricardo Garcia, que, literalmente, põe a mão na massa", brinca Fred. Para se destacar em meio ao concorrido mercado de pizzas da cidade, a casa decidiu incorporar nas suas receitas o uso do levain, fermento natural que deixa a massa mais leve e com um gosto diferenciado. Entre as favoritas da casa, está a Salumeira, que conta com três tipos diferentes de salame no seu recheio, além de outras carnes variadas, como copa lombo, peito de peru defumado, bacon e lombo canadense. "Também estamos trabalhando com burratas, um carpaccio de lagarto fenomenal, pratos executivos e outros petiscos para variar ainda mais o cardápio."

Para o chef cubano Julio Escalona, a pandemia foi um momento de tirar um plano antigo da gaveta. No Brasil desde 2007, o cozinheiro já trabalhou dentro de restaurantes conhecidos de BH, como Maurizio Gallo, Boi Werneck, Raja Grill, Tizé e Galeto Itália. "Mas nesse tempo todo, eu nunca compartilhei com ninguém as minhas receitas, pois sempre sonhei em abrir o meu lugar", diz. E o momento para abrir o restaurante chegou enquanto outros fechavam as portas. O chef decidiu pedir demissão após ter o seu salário reduzido algumas vezes e dias de folga negados. Isso, mesmo sem ter uma visão de clara de como seria o futuro. "Eu não tinha dinheiro para pagar as contas do próximo mês. Mas graças à uma amiga, a Lília Michailowsky, eu consegui ter forças para abrir um lugar com as minhas receitas."

Tendo o filho de Lilia, Mateus, como sócio, o chef Julio deu início, no começo de setembro, aos trabalhos no Paladar do Cubano. Em Cuba, os paladares são restaurantes modestos, voltados para atender poucas pessoas com muita atenção. E o estabelecimento do chef não foge do modelo. Com uma entrada modesta, poucas mesas, ambiente decorado e um cardápio com receitas bastante peculiares, o restaurante localizado perto da avenida Prudente de Morais oferece uma viagem culinária sem sair da capital mineira. Um dos pratos mais pedidos da casa é o Cubano Clássico, feito com congri (uma versão cubana do arroz com feijão), tostones (banana da terra empanada e frita), mandioca e pernil grelhado no molho da casa. "Todos os meus temperos são naturais: minha pimenta branca, meu alho, meu cominho. O resultado? Só provando pra descobrir", diz o chef, com ar misterioso.

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