

Assim, a Yör Chocolates estava com tudo pronto para abrir as portas de sua loja conceito, localizada perto do BH Shopping, na segunda quinzena de março. Porém, como todos sabemos, veio a quarentena. O que seriam alguns dias se tornaram semanas e meses. Até que em 16 de junho, o grupo decidiu usar as redes sociais da Yör como plataforma de lançamento, apresentando ao público a sua primeira linha de produtos, com vendas pela internet. "O foco inicial era competir nas gôndolas, mas o e-commerce ajudou bastante o começo da nossa marca." Já que não era mais possível falar sobre o produto no balcão, a empresa abraçou a tecnologia para conseguir transportar a experiência para dentro da casa dos clientes. O kit degustação conta com um QR Code que, ao ser lido por um smartphone, carrega um áudio que ajuda a orientar a experiência e apresenta o conceito por trás de cada uma das quatro barras: 70% cacau, 44% ao leite, 65% com café e chocolate branco com doce de leite. Quanto ao futuro, a expectativa da Yör vai além do Brasil. "Apostamos no uso de ingredientes regionais porque também queremos mostrar ao mundo que somos capazes de produzir chocolates excelentes", diz Arthur.
A homenagem ao Velho Major se tornou realidade na escolha do nome, mas com um toque a mais da cultura italiana. A destilaria Don Luchesi estava realizando os processos de regulamentação quando a pandemia chegou, desacelerando ainda mais um processo bem moroso. "A burocracia dificulta em muito a vida de quem quer empreender no Brasil. Está tudo pronto para abrir, mas não podia vender o produto enquanto não terminar o trâmite", desabafa Laiza. No começo de outubro, a Don Luchesi finalmente recebeu o sinal verde do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a produção na destilaria localizada em Lagoa Santa pode começar a todo vapor, levando para o mercado um gin com um toque mineiro. "Nossos ingredientes são todos naturais e grande parte deles são importados. Mas na receita também vai um toque de ora-pro-nóbis", conta Laiza. "É difícil de explicar, mas ele traz uma beleza nova para o sabor do gin."


Mas nem só novos estabelecimentos precisaram dar um jeito de sobreviver em meio ao caos instalado pelo novo coronavírus. Uma das casas mais tradicionais de Lourdes, a Marília Pizzeria tinha grandes planos para 2020, ano que marca seus 18 anos. "Já não éramos mais apenas uma pizzaria", conta o proprietário, Gilson Judice. "Era a hora de mudar, de se reinventar novamente." Por meio de uma parceria com Matheus Mourthé, o nome por trás do Olga Nur e Tizé Bar e Butiquim, a maioridade da casa chegou com várias transformações. Já no final do ano passado, o Marília começou a encerrar as suas operações na rua Marília de Dirceu para começar o período de obras no seu novo CEP. E graças a uma pitada de sorte e um bom planejamento, a casa não sofreu tanto com o impacto da pandemia. "Nós tínhamos programado um período de obras de seis meses", diz Gilson, que conseguiu recontratar 90% dos seus funcionários. Agora, a poucos metros dos parceiros Olga Nur e Tizé, a Marília Empório e Forneria dá os seus primeiros passos, trazendo algumas novidades para os clientes, mas sem abrir mão de sua essência. Vinhos, pizzas, massas e outros ícones da culinária italiana, fortes no cardápio da casa, estão ao lado de receitas elaboradas pelo chef Rodrigo Viana para a nova fase. A carta de drinques foi criada pelo Filipe Brasil, mixologista e bartender com 15 anos de experiência. "Também inauguramos o empório, onde nosso cliente conseguirá levar para casa massas frescas, molhos, geleias artesanais, enfim, tudo aquilo que servimos no restaurante", afirma Gilson.


Para o chef cubano Julio Escalona, a pandemia foi um momento de tirar um plano antigo da gaveta. No Brasil desde 2007, o cozinheiro já trabalhou dentro de restaurantes conhecidos de BH, como Maurizio Gallo, Boi Werneck, Raja Grill, Tizé e Galeto Itália. "Mas nesse tempo todo, eu nunca compartilhei com ninguém as minhas receitas, pois sempre sonhei em abrir o meu lugar", diz. E o momento para abrir o restaurante chegou enquanto outros fechavam as portas. O chef decidiu pedir demissão após ter o seu salário reduzido algumas vezes e dias de folga negados. Isso, mesmo sem ter uma visão de clara de como seria o futuro. "Eu não tinha dinheiro para pagar as contas do próximo mês. Mas graças à uma amiga, a Lília Michailowsky, eu consegui ter forças para abrir um lugar com as minhas receitas."
Tendo o filho de Lilia, Mateus, como sócio, o chef Julio deu início, no começo de setembro, aos trabalhos no Paladar do Cubano. Em Cuba, os paladares são restaurantes modestos, voltados para atender poucas pessoas com muita atenção. E o estabelecimento do chef não foge do modelo. Com uma entrada modesta, poucas mesas, ambiente decorado e um cardápio com receitas bastante peculiares, o restaurante localizado perto da avenida Prudente de Morais oferece uma viagem culinária sem sair da capital mineira. Um dos pratos mais pedidos da casa é o Cubano Clássico, feito com congri (uma versão cubana do arroz com feijão), tostones (banana da terra empanada e frita), mandioca e pernil grelhado no molho da casa. "Todos os meus temperos são naturais: minha pimenta branca, meu alho, meu cominho. O resultado? Só provando pra descobrir", diz o chef, com ar misterioso.