Ainda não se adaptou ao home office? Saiba como ter bom desempenho trabalhando em casa

Em 2021, um dos grandes desafios será gerenciar o tempo. Se, antes, as famílias estavam cada vez mais presentes no ambiente corporativo, após a Covid-19 o trabalho invadiu os lares, sendo necessário definir limites para manter a produtividade e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. "Sem essa prática, as chances de burnout, estafa que gera estresse e adoece, impactar nos resultados e na qualidade de vida das pessoas é grande", diz David Braga, presidente da empresa de recrutamento de executivos Prime Talent, autor do livro digital Contratado ou Demitido – Só Depende de Você. Se trabalhar em casa era um sonho, esse desejo virou realidade para muita gente. O que nem todos esperavam era que a mudança de ambiente significaria um rebuliço nas horas em frente ao computador, sem intervalos ou prazo para desligar. Por isso, é preciso aprender a lidar com essa nova realidade.

Acordar e logo engatar uma primeira e acelerar, sem perder tempo, não é a melhor estratégia. Segundo especialistas, se arrumar, mesmo em home office, estimula a capacidade de focar e produzir. Por isso, nada de passar o dia de pijama. Professor da Faculdade de Letras da UFMG, Marcos Rogério Cordeiro conhece bem a rotina de quem trabalha em casa. É lá que escreve artigos, avalia teses e elabora trabalhos e projetos. O isolamento social, no entanto, alterou completamente a sua rotina. "Antes tínhamos a obrigação das atividades externas", diz. "Hoje, aulas, reuniões, orientações, bancas de seleção e avaliações são todas feitas online. Com isso, toda uma prática de trabalho, métodos de ensino e pesquisa tiveram de ser reinventados." Antônio, de 6 anos, filho de Marcos, cuja mãe também é professora, já se tornou figurinha conhecida pelos alunos e colegas que participam das atividades remotas realizadas pelos pais. Além de correr, pular e brincar, não dispensa uma boa conversa. "Sentimos muita alegria pois, apesar dos alvoroços, temos a oportunidade de acompanhá-lo mais de perto", afirma Marcos.

Tempos difíceis exigem mudanças e, principalmente, protagonismo. Tão importante quanto estabelecer limites é vencer o tabu de que tem-se de estar disponível a qualquer hora e de que não se pode dizer não ao chefe ou ao cliente. "Com embasamento, persuasão e apresentação de dados e fatos, é possível definir prazos exequíveis, saudáveis e respeitosos para todos", reforça David. O chamado home office, explica, tem colocado a palavra "disrupção" em evidência, especialmente para as organizações que saem do modelo de "poder e controle", ou seja, gestão de horas trabalhadas, para um modelo de "performance", onde o que importa é a entrega das demandas e dos resultados.

A assistente administrativa Zélia Pires da Silveira trabalha há 27 anos na UFMG. Sua rotina incluía acordar às cinco horas da manhã para evitar o trânsito do anel rodoviário e chegar com tranquilidade ao trabalho. Cumpria a carga horária e voltava ao final do dia, antes do trânsito se complicar. "Agora passo o dia todo em casa e tenho de administrar os cuidados com marido, irmão doente, afazeres domésticos, cães, além de gerenciar o trabalho de seis pessoas a distância. Confesso que são muitos os desafios." Ela aposta na disciplina para dar conta do recado. No "novo normal", a rotina fechada de horários fixos, de 8 às 18 horas, caiu em desuso, permitindo conciliar trabalho com afazeres domésticos e a solução de questões pessoais. "A necessidade de autogestão nunca se fez tão necessária", diz David. Para ele, uma das principais habilidades colocada em xeque atualmente é o controle emocional. Por isso, reforça, é preciso buscar um autoconhecimento através de terapia ou um processo qualificado de coaching para entender quais são suas principais competências.

Gerente administrativa e financeira de uma empresa de produtos de limpeza, há oito anos Paola Alves Melo sai cedo de casa para trabalhar fora. Com a pandemia, se viu às voltas com uma nova rotina. "Para ter um ambiente funcional e harmônico, tendo sobrinhos e animais em casa, foi preciso uma readaptação na convivência familiar." O ajuste da carga horária também foi necessário. "Percebi que estava me estendendo muito, mas nada que não pudesse ser adequado." Estar aberto a mudanças é a postura ideal, segundo a psicóloga Milene Darc. "Ainda não temos a maestria para lidar com tudo isso, mas podemos fazer o movimento de nos acolher. Cuidar das nossas dores e inseguranças para então poder cuidar do resto e estabelecer uma nova rotina." Para ter bons resultados, diz ela, é preciso estar inteiros em cada atividade realizada e isso requer planejamento. Os modelos de trabalho se diversificaram, abrindo possibilidades. Agora é possível trabalhar de forma presencial, em home office ou em modelo híbrido. O que não mudou foi a responsabilidade de cumprir os combinados. "A pandemia não pode ser jamais usada como desculpa para atrasos ou qualidade comprometida", afirma David.