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Estado de Minas ESPECIAL SAÚDE

Mineiros do Ano 2020 - Amanda Carolina Barreto Fagundes

Coordenadora da Enfermagem do CTI do hospital Eduardo de Menezes, referência estadual em doenças infectocontagiosas, diz que foi à exaustão durante o pico da pandemia, em agosto, mas nunca esqueceu o seu propósito


postado em 16/02/2021 16:37 / atualizado em 16/02/2021 16:41

(foto: Geraldo Goulart/Encontro)
(foto: Geraldo Goulart/Encontro)
Ainda no Ensino Médio, Amanda Carolina Barreto Fagundes viu despertar o desejo que carregaria por toda a vida: o de cuidar de pessoas. Foi nesta época que decidiu seguir a carreira de enfermeira. Mas a vontade de ajudar era tamanha que mal conseguia esperar pela faculdade. Quando fazia o cursinho pré-vestibular, queria de todas as formas ficar com o avô no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Por ser menor de idade, o acesso lhe foi negado. O avô, infelizmente, morreu.

Os anos passaram e Amanda ingressou no curso de enfermagem na PUC-Minas, unidade Betim. A partir daí a belo-horizontina encarnou de vez o papel de alguém que veio ao mundo para contribuir com o bem-estar e a saúde das pessoas. Certa vez, não pensou duas vezes em socorrer um homem que havia se machucado durante uma cavalgada em Lagoa Santa, onde mora atualmente. Detalhe: Amanda estava enfrentando uma gravidez de alto risco e só saía de casa para ir ao médico. Ela, aliás,  acumula histórias como essas. "Acho que daria um livro", diz.

Quis o destino que Amanda, hoje com 37 anos, fosse uma das profissionais de saúde na linha de frente contra a pandemia do novo coronavírus. Ela é a coordenadora de enfermagem do CTI do Hospital Eduardo de Menezes, localizado no bairro Bonsucesso, em BH. Referência em doenças infectocontagiosas, o hospital foi o primeiro do estado a destinar 100% dos seus leitos de enfermaria e de terapia intensiva aos pacientes com suspeita ou com confirmação de infecção por Covid-19. "Já estávamos acostumados com epidemias. Foi assim com a H1N1, dengue e febre amarela. Nesses casos, a rotina do hospital começava a mudar em janeiro, mas em abril tudo voltava ao normal. Desta vez foi diferente", afirma.

Entre os momentos mais difíceis de 2020 estão o registro de mortes em série no hospital, mas também de altas. "Um senhor ficou dois meses internado. Entrava e saía do CTI. Mas foi muito emocionante quando ele saiu pela porta da frente do hospital e caminhando", diz. A exaustão dela e dos colegas também colocou à prova o seu propósito forjado ainda na adolescência. "Em meados de agosto, estava muito cansada. Tive um problema gástrico importante, talvez pelo nervosismo. Emagreci 13 quilos. Mas não parei de vir um só dia", diz Amanda que atualmente entra às 7h da manhã no hospital, sem hora para sair.

Desafio rotineiro para ela que lida também com a gestão é conseguir completar a equipe de trabalho. De acordo com Amanda, um dos chamamentos para preencher 12 vagas de técnicos de enfermagem atraiu apenas duas pessoas. "O profissional tem de estar disposto a colocar a vida em risco para atender o outro." É o caso da Amanda, mãe de Eduarda, de 3 anos, e Theo, de 6. Enquanto trabalha, os filhos ficam com os pais dela, já idosos. "Na primeira vez que tive contato com um paciente com Covid-19, respirei fundo e rezei para que a partir dali eu não infectasse a minha família". Vem dando certo.

Eduarda e Theo já entenderam o propósito de vida da mãe. Se isso não bastasse, eles mesmos já não veem a hora de crescer para seguir seus passos. Prova disso é que quando ela retorna para casa, a pequena Eduarda, a Duda, sempre pergunta: "Mãe, ajudou muitas pessoas hoje?". "Sim, filha! Ajudei sim", responde Amanda, exausta, porém feliz por cumprir o seu propósito.

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