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Estado de Minas ESPECIAL SAÚDE

Mineiros do Ano 2020 - Daniel Fontes

Médico intensivista do Hospital Felício Rocho relata que só o alívio de saber que a equipe estava salvando o maior número possível de vidas colocou em segundo plano a sobrecarga psicológica do enfrentamento à pandemia


postado em 16/02/2021 16:28 / atualizado em 16/02/2021 16:31

(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Controlar o medo. Medo de enfrentar uma doença desconhecida, medo de morrer, medo de infectar pessoas queridas. Para o médico Daniel Fontes, intensivista dos Centros de Terapia Intensiva (CTIs) do Hospital Felício Rocho, da Polícia Militar de Minas Gerais e do Hospital da Baleia, esse foi o principal desafio para enfrentar a Covid-19. Apesar de muitas vezes serem vistos como super herois, os profissionais da saúde são seres humanos, providos de carne, osso e sentimentos, e também enfrentam seus "monstros" diariamente. Desta vez, um monstro invisível, altamente contagioso e totalmente imprevisível. O segundo grande desafio, diz ele, foi estabelecer uma rotina no manejo e tratamento dos pacientes infectados.

Coragem para tomar decisões sob pressão, o médico sempre teve. Mas nada que se comparasse a um acontecimento dessa proporção. A solução era fazer o que parecia impossível para minimizar os riscos. Juntamente com as equipes do CTI e da pneumologia do Hospital Felício Rocho, onde trabalha há 17 anos, Daniel definiu protocolos e treinamentos. Meses depois, tem a certeza de que o esforço conjunto valeu a pena. "Desde o início da pandemia, foram adquiridos equipamentos e material para proteção individual em quantidade suficiente, instalados sistemas de pressão negativa em dezenas de leitos de CTI para evitar a contaminação do ambiente externo, entre outras medidas preventivas", diz. Para diminuir a distância e amenizar a saudade dos familiares dos pacientes internados, a solução foi implantar "visitas virtuais".

Com o tempo, a sobrecarga psicológica se mostrou presente. Mas a compensação de salvar o maior número de vidas possíveis colocou as dificuldades em segundo plano. "Alívios vieram com o convívio diário com os colegas de trabalho e com o apoio da equipe de psicologia do hospital, que presta uma grande ajuda." Parte difícil da pandemia, desabafa o intensivista, é ter de afastar-se da família, para proteger os pais, e ainda não poder contar com o conforto de estar com os amigos. "Gosto muito de viajar, ir ao cinema. Sem dúvidas, têm sido perdas bem doídas para mim".

Único médico da família, acredita que o fato de ter estudado no Colégio Técnico da UFMG (Coltec), onde cursou patologia clínica, o incentivou a seguir na profi ssão. "Adoro a medicina intensiva e os seus desafi os. Sinto-me à vontade nessa especialidade", diz. Lamenta, apenas, o fato de ser uma área pouco valorizada no mercado. "A pandemia trouxe foco para essa especialidade e todos agora entendem a sua importância nos momentos mais difíceis." Sobre uma possível segunda onda do coronavírus no Brasil, ele é taxativo: ela já chegou. Até que todos sejam vacinados, "e tomara que a vacina seja eficaz", destaca o médico, é imperativo se proteger. Os cuidados não são novidade: uso de máscara, limpeza das mãos e evitar aglomerações. Com a experiência de quem vai para a guerra na linha de frente de combate, Daniel aprendeu uma importante lição e se arrisca a dar um conselho: "Cuide de si, cuide dos outros, ame mais, não se preocupe com bobagens, somos frágeis."

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