Sem raça definida, a gatinha Titi se acostumou com a presença constante dos donos em casa por causa do isolamento social. Tanto que, quando é deixada sozinha, reclama. "O protesto dela é silencioso. Quando precisamos sair para resolver alguma coisa, faz logo cara de vítima", diz o fisioterapeuta Arno Ribeiro. "Enquanto não voltamos ela não come nem faz xixi." Se algum estranho dá o ar da graça no recinto, mostra logo os caninos afiados.
Quando atingidos pelos distúrbios da ansiedade, os gatos podem ter aumento ou redução de apetite e sofrer com obesidade ou deficiência nutricional. "Eles também tendem a apresentar aumento de grooming, resultando na formação de bolas de pelo que podem funcionar como corpo estranho no trato gastrointestinal", diz Myrian. O excesso de lambedura, explica, pode ser tão intenso a ponto de ocasionar lesões de pele. Outro distúrbio comportamental muito comum é fazer xixi fora da caixinha de areia, em locais nada usuais.
Daniela teve a sorte de seus gatos não apresentarem sintomas de cistite felina. Desencadeada pelo estresse, a doença tem como principais sintomas dor, excesso de lambedura da região genital, sangue na urina e dificuldade na micção. Os machos também podem ter obstrução uretral, devido à formação de tampão mucoso, o que exige intervenção emergencial. "Outra patologia muito comum é a dermatite psicogênica, que leva os felinos a adquirir o hábito de arrancar os pêlos com a boca", explica a veterinária especialista em felinos Marina Moller Nogueira, da Clivet.

Especializado em terapias alternativas, o veterinário Denerson Ferreira Rocha, da clínica Vida Animal, entende que, nos tempos atuais, todos têm sido atingidos. "Com os animais não é diferente. Eles também sentem as transformações sociais impostas. Alguns animam-se com as novidades. Outros, porém, são afetados de forma negativa", diz. Isso acontece sobretudo com indivíduos dono de personalidades mais delicadas, reservadas e territorialistas, ou ainda com limitações de saúde e idade avançada. Para esses, algumas abordagens e recursos terapêuticos podem ser utilizados, entre elas o enriquecimento ambiental (colocar estímulos para otimizar a qualidade de vida dos bichinhos), hormônios sintéticos dispersados no ambiente, homeopatia, florais e óleos essenciais. "Quem quiser ir mais a fundo, e descobrir a origem do problema, também pode recorrer às técnicas de comunicação animal através do reiki e thetahealing", diz o médico.
A assessora científica Lilian Carolina de Oliveira decidiu "gatificar" a casa com objetos que tragam entretenimento e estimulem Shakti, fêmea de 11 anos, e Miró, macho de 10, ambos sem raça definida, a se distraírem e praticarem atividades físicas. "Percebi que ele a mordia, enquanto dormia, e depois passou a tentar bater nela, sem motivo aparente", conta. O tratamento homeopático tem ajudado a controlar a ansiedade do bichano. A consultora comportamental Isabela Jardim alerta que humanos entediados, tendem a querer mudar a rotina dos bichos. "Isso acontece exigindo atenção a toda hora, dando comida de forma exagerada e, principalmente, não respeitando o seu espaço." Para ela, em se tratando de gatos, é cada um no seu quadrado.