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Estado de Minas PET

Como evitar que gatos sofram com mudanças frequentes na rotina

Territorialistas de carteirinha, os bichanos costumam se estressar ao terem o espaço invadido e a programação diária alterada


postado em 30/04/2021 00:45 / atualizado em 30/04/2021 01:17

Para a artista visual Daniela Schneider, a revolta dos gatos Nino e Amélie piorou com a chegada de Lupita, uma charmosa cadelinha SRD:
Para a artista visual Daniela Schneider, a revolta dos gatos Nino e Amélie piorou com a chegada de Lupita, uma charmosa cadelinha SRD: "Recorremos a um terapeuta canino para controlar o levante", brinca ela, com o marido Thiago e os filhos Lucas e Fernando (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
A mudança de rotina, muitas vezes tão desejada pelos humanos, para os gatos é um verdadeiro Deus nos acuda. E não é para menos. A expressão "lar doce lar" é levada muito a sério pelos bichanos. Extremamente territorialistas, quando têm o espaço invadido é problema na certa. Para eles, o dono é o líder do bando e a casa, o seu refúgio. Quando não se sentem seguros, não descansam. E se não estão satisfeitos, protestam. Predadores natos, consideram tudo uma ameaça. E, é claro, detestam visitantes indesejados. Com todo esse histórico, a pandemia chegou para bagunçar ainda mais a vida da bicharada.

Sem raça definida, a gatinha Titi se acostumou com a presença constante dos donos em casa por causa do isolamento social. Tanto que, quando é deixada sozinha, reclama. "O protesto dela é silencioso. Quando precisamos sair para resolver alguma coisa, faz logo cara de vítima", diz o fisioterapeuta Arno Ribeiro. "Enquanto não voltamos ela não come nem faz xixi." Se algum estranho dá o ar da graça no recinto, mostra logo os caninos afiados.

Acostumada com a presença constante dos donos em casa por conta da pandemia, a gatinha Titi passou a reclamar quando se vê sozinha:
Acostumada com a presença constante dos donos em casa por conta da pandemia, a gatinha Titi passou a reclamar quando se vê sozinha: "O protesto dela é silencioso. Faz cara de vítima, não come nem faz xixi enquanto não voltamos", diz o fisioterapeuta Arno Ribeiro, ao lado da mulher, Edna Ribeiro (foto: Arquivo pessoal)
Mudanças repentinas podem afetar a saúde física e emocional dos bichanos. A dica dos especialistas é ficar atento aos sinais e respeitar os seus limites. "Além de adoráveis, eles possuem comportamento e necessidades bem peculiares. Gostam de rotina e qualquer alteração em seu cotidiano pode resultar em estresse com graves desdobramentos", explica a veterinária Myrian Kátia Iser Teixeira, da Gato Leão Dourado, clínica especializada em gatos. Com mais gente em casa, mais chances ainda de eles se irritarem. Isso porque também precisam de um "esconderijo" para fugir do tumulto e ficar em paz. Por isso, respeitar os espaços que os gatos determinam como deles é fundamental para preservá-los. Então, se ele curte uma toca e tem o hábito de tirar aquela soneca durante a tarde, não o incomode.

Quando atingidos pelos distúrbios da ansiedade, os gatos podem ter aumento ou redução de apetite e sofrer com obesidade ou deficiência nutricional. "Eles também tendem a apresentar aumento de grooming, resultando na formação de bolas de pelo que podem funcionar como corpo estranho no trato gastrointestinal", diz Myrian. O excesso de lambedura, explica, pode ser tão intenso a ponto de ocasionar lesões de pele. Outro distúrbio comportamental muito comum é fazer xixi fora da caixinha de areia, em locais nada usuais.

A assessora científica Lilian Carolina de Oliveira decidiu
A assessora científica Lilian Carolina de Oliveira decidiu "gatificar" a casa com brinquedos e apostar na homeopatia para acalmar  a gatinha Shakti e o gato Miró: "Ele estava bem agressivo" (foto: Divulgação)
Para a artista visual Daniela Schneider e sua família, a revolta dos gatos começou quando eles passaram a conviver mais com os donos em casa e viram sua rotina tranquila ir para o espaço. Para piorar a situação, tiveram de engolir a presença de Lupita, uma charmosa cadelinha sem raça defi nida e com energia para dar e vender. A confusão estava formada. Aos 11 anos de idade, Nino, SRD, teve dermatite por estresse e decidiu descontar suas frustrações nas plantas. Não sobrava uma inteira. Já Amélie, SRD de 12 anos, perdeu a compostura e partiu mesmo foi para a agressão. Contra a Lupita, é claro. Foi preciso pedir ajuda. "Recorremos a um terapeuta canino para controlar o levante", brinca a artista visual.

Daniela teve a sorte de seus gatos não apresentarem sintomas de cistite felina. Desencadeada pelo estresse, a doença tem como principais sintomas dor, excesso de lambedura da região genital, sangue na urina e dificuldade na micção. Os machos também podem ter obstrução uretral, devido à formação de tampão mucoso, o que exige intervenção emergencial. "Outra patologia muito comum é a dermatite psicogênica, que leva os felinos a adquirir o hábito de arrancar os pêlos com a boca", explica a veterinária especialista em felinos Marina Moller Nogueira, da Clivet.

A mudança de casa levou os gatos Merlot, Cabernet e Salomé a sofrerem com a cistite felina:
A mudança de casa levou os gatos Merlot, Cabernet e Salomé a sofrerem com a cistite felina: "Todos estão tomando medicamentos alopáticos e antidepressivos para combater o estresse", diz a jornalista Maíra Lobato (na foto, com Cabernet) (foto: Divulgação)
Nos primeiros seis meses da pandemia, a jornalista Maíra Lobato não notou alterações no comportamento dos seus cinco gatinhos, mesmo passando a ficar o dia todo em casa. Dois meses após sua mudança de residência, em agosto de 2020, a gatinha Merlot, mestiça da raça Persa, apresentou sintomas de cistite. Pouco tempo depois, Cabernet, seu irmãozinho, também sofreu com o mesmo problema, chegando a ter uma obstrução urinária. Salomé, mãe dos dois, apareceu com o mesmo quadro. "Todos estão tomando medicamentos alopáticos e antidepressivos para combater o estresse", diz. "Acreditamos que as mudanças os afetaram bastante." Outra solução encontrada por Maíra foi recorrer à homeopatia.

Especializado em terapias alternativas, o veterinário Denerson Ferreira Rocha, da clínica Vida Animal, entende que,  nos tempos atuais, todos têm sido atingidos. "Com os animais não é diferente. Eles também sentem as transformações sociais impostas. Alguns animam-se com as novidades. Outros, porém, são afetados de forma negativa", diz. Isso acontece sobretudo com indivíduos dono de personalidades mais delicadas, reservadas e territorialistas, ou ainda com limitações de saúde e idade avançada. Para esses, algumas abordagens e recursos terapêuticos podem ser utilizados, entre elas o enriquecimento ambiental (colocar estímulos para otimizar a qualidade de vida dos bichinhos), hormônios sintéticos dispersados no ambiente, homeopatia, florais e óleos essenciais. "Quem quiser ir mais a fundo, e descobrir a origem do problema, também pode recorrer às técnicas de comunicação animal através do reiki e  thetahealing", diz o médico.

A assessora científica Lilian Carolina de Oliveira decidiu "gatificar" a casa com objetos que tragam entretenimento e estimulem Shakti, fêmea de 11 anos, e Miró, macho de 10, ambos sem raça definida, a se distraírem e praticarem atividades físicas. "Percebi que ele a mordia, enquanto dormia, e depois passou a tentar bater nela, sem motivo aparente", conta. O tratamento homeopático tem ajudado a controlar a ansiedade do bichano. A consultora comportamental Isabela Jardim alerta que humanos entediados, tendem a querer mudar a rotina dos bichos. "Isso acontece exigindo atenção a toda hora, dando comida de forma exagerada e, principalmente, não respeitando o seu espaço." Para ela, em se tratando de gatos, é cada um no seu quadrado.

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