Como investir em momentos de crise

O mercado financeiro sofre influência direta do que acontece fora dele. Por isso, não precisa ser nenhum especialista para saber que a pandemia do novo coronavírus impactou diretamente os números. Afinal, o mundo parou e afetou em cheio a economia. Em março de 2020, o iBovespa, principal índice da B3, a bolsa de valores brasileira, registrou em uma semana queda de 42%, o que significou que as empresas inscritas ali perderam R$ 1,746 trilhão em valor de mercado. O cenário repleto de incerteza imposto pelo surto sanitário motivou, portanto, uma fuga de investidores, que tiraram o pé do acelerador e correram para opções mais conservadoras para investir seu rico dinheirinho, certo? Errado!

Refeita do susto, a B3 registrou aumento de 114% na base de investidores de renda variável em 2020. Foi contabilizado um lucro líquido na ordem de R$ 1,159 bilhão no quarto trimestre do ano passado: 34,1% maior que o mesmo período de 2019. Mas há uma explicação para as pessoas terem entrado de vez no mercado financeiro mesmo em um período tão complicado como este. "As pessoas tiveram mais tempo para estudar sobre o assunto", diz João Resende, co-fundador da Toro Investimentos, sobre o período de quarentena obrigatória. Outra informação importante, segundo João, é que o mercado da bolsa de valores lida com expectativa futura, ou seja, há sempre uma expectativa de melhora a longo prazo. O lema para quem investe, não apenas durante crises econômicas, é ter disciplina. Nada de afobação. É importante ter sangue frio. "Quem consegue ter mais disciplina, tem mais chances de obter um bom retorno financeiro", diz João.

Lucas Radd, superintendente de portfólios e advisory da Inter Invest, acrescenta que a baixa taxa de juros motivou uma corrida para o mercado de renda variável. Leia-se bolsa de valores. A diversificação é algo que um bom investidor deve sempre buscar, afirmam os especialistas. Não é saudável colocar todos os ovos em uma mesma cesta, sobretudo, em um país no qual a calmaria é algo difícil de apostar em um cenário próximo. "Temos um ambiente econômico e político muito complexo. Ano que vem ainda tem eleição. Por isso, é importante montar uma carteira de investimento diversificada e ter calma", diz Lucas. O investidor que demonstra paciência para superar momentos de turbulência costuma ser recompensado a longo prazo. "Uma boa carteira de ações ou fundos de investimentos precisa estar ligada a vários setores e empresas, como bancos, mineração, varejo e outras", afirma Thiago Penna, sócio-fundador da 3A Investimentos. "Assim, se uma ação cai, ela pode ser compensada por outra."

É uma boa hora para investir? Essa é uma das perguntas que Pedro Hermanny Diniz, gestor e fundador da Impacto Investimentos, sempre ouve. Ele é, no entanto, um dos especialistas que engrossam o coro de que não é nada saudável tentar fazer qualquer tipo de previsão neste cenário. "É impossível prever, pois a economia é algo dinâmico formado por pessoas, por agentes financeiros. Você nunca deve investir baseado em uma previsão", afirma Pedro. De acordo com ele, muitos dos clientes que investem com a Impacto, e que estavam em uma linha mais conservadora, optaram pelo mercado de renda variável durante a pandemia. "Sempre digo aos meus clientes que é importante aumentar o horizonte do seu investimento, montar uma carteira diversificada e estudar", afirma. Então, o lema é o mesmo para qualquer tipo de cenário: seja racional quando for investir, tenha calma, não espere por milagres e estude o tema.

(Colaborou Gabriel Marques)