Publicidade

Estado de Minas PET

Como é o trabalho de voluntários que ajudam animais vítimas de desastres

Salvar vidas, independentemente da espécie, é uma missão difícil, sofrida e até arriscada, assumida por pessoas de várias partes do país


postado em 10/03/2022 12:19

Junto ao Corpo de Bombeiros, o veterinário Marcos de Mourão Motta ajudou no resgate de vários animais após o rompimento da barragem em Mariana:
Junto ao Corpo de Bombeiros, o veterinário Marcos de Mourão Motta ajudou no resgate de vários animais após o rompimento da barragem em Mariana: "O olhar deles diz tudo. Para quem gosta de bicho, é um sentimento de tristeza e impotência sem fim" (foto: Divulgação)
Em meio às catástrofes que vêm assolando o estado, algumas delas devido às fortes chuvas, vítimas silenciosas e, frequentemente, invisíveis aos olhos da população e do poder público pedem socorro. Muitas delas tiveram a sorte de se deparar não com anjos, mas com seres realmente "humanos" que atenderam ao seu chamado. O médico veterinário Marcos de Mourão Motta é um deles. Com mãos ágeis e coração calejado, o fundador da ONG Asas e Amigos, localizada em Juatuba (MG), já perdeu as contas de quantos resgates de animais realizou ao longo de 30 anos de carreira. Atualmente é responsável por 560 bichos - destes, 430 silvestres e 130 domésticos - mantidos com a ajuda de padrinhos e voluntários.

Acostumado a lidar com a dor, ainda hoje Marcos acha difícil não se comover com o olhar de desespero e agonia de bichos atingidos por desastres. Em 2015, quando ocorreu o rompimento da barragem em Mariana, se prontificou a ser socorrista junto ao Corpo de Bombeiros. "O olhar deles diz tudo. Para quem gosta de bicho, é um sentimento de tristeza e impotência sem fim." Muito se especulou na mídia e redes sociais, diz Marcos, mas só quem vivenciou o caos sabe que ele não acaba quando os trabalhos locais se encerram. Existem dores que nunca saram. "Foram dias de luta sem precedentes. Doía na alma ver alguns animais vivos, exaustos, agonizando, sem que tivéssemos condição de chegar até eles pelo menos para aliviar o seu sofrimento", diz. Mas ressalta que cada vida salva é única. "Sem dúvidas, é o que nos motiva a seguir em frente"

O Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD) foi criado em 2011 para auxiliar os bichos atingidos por inundações e deslizamentos: com atuação em vários estados, tornou-se um braço do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal(foto: Divulgação)
O Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD) foi criado em 2011 para auxiliar os bichos atingidos por inundações e deslizamentos: com atuação em vários estados, tornou-se um braço do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (foto: Divulgação)
Salvar vidas, independentemente da espécie, é uma missão difícil, sofrida e até arriscada, assumida por voluntários de várias partes do país. Em 2011 o Grupo de Resgate de Animais em Desastres (GRAD) foi criado para auxiliar os bichos atingidos pelas inundações e deslizamentos ocorridos em Nova Friburgo (RJ). Composto por 60 membros, entre médicos veterinários, biólogos, oceanógrafos, analistas de sistemas, administradores, zootecnistas, bombeiros civis, estudantes de veterinária e auxiliares, o grupo já atuou em vários estados prestando ajuda humanitária aos animais. "Somos um braço do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal", diz a médica veterinária Carla Sassi, coordenadora do GRAD. "Só esse ano, nas enchentes ocorridas em MG e Bahia, foram mais de mil animais assistidos, entre eles cães, gatos, porcos, cavalos, bois, aves e cabras", diz ela. O grupo se dirigiu também para Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro que sofreu com deslizamento de terras.

Vencer o desgaste físico e emocional e a complexidade logística para reunir pessoas, transporte, equipamentos e outros recursos, são apenas alguns dos desafios enfrentados pelos voluntários. O que com garra e determinação, são superados. Já a ausência de ações dos municípios para dar continuidade ao trabalho realizado pelas equipes é desolador e preocupante. Mesmo assim, Carla comemora. "Fazer com que os animais sejam vistos como vítimas nesses cenários, com certeza é um grande avanço."  Em janeiro deste ano, o GRAD atuou junto à prefeitura de Nova Lima nas enchentes que atingiram várias regiões do município localizado na região metropolitana da capital mineira. "Para nós, a política de proteção e bem-estar animal também é prioridade. Vários animais acompanharam os seus tutores até os abrigos e muitos outros foram resgatados e receberam atendimento veterinário", diz o secretário de Meio Ambiente, Gabriel Coutinho.

Criado em 2019, o Grupo de Resgate Animal UniBH atua em situações de desastre: equipe, que hoje conta com 35 voluntários (como a estudante de medicina veterinária Eduarda Lopes), já agiu em algumas regiões, entre elas Belo Horizonte, Sabará, Ribeirão das Neves, Contagem, Salinas, além de outros estados(foto: Aldair Pinto/UniBh/Divulgação)
Criado em 2019, o Grupo de Resgate Animal UniBH atua em situações de desastre: equipe, que hoje conta com 35 voluntários (como a estudante de medicina veterinária Eduarda Lopes), já agiu em algumas regiões, entre elas Belo Horizonte, Sabará, Ribeirão das Neves, Contagem, Salinas, além de outros estados (foto: Aldair Pinto/UniBh/Divulgação)
Em 2019, o Grupo de Resgate Animal UniBH, coordenado pelo  médico veterinário Aldair Pinto, também passou a agir em situações de desastre. "O nosso trabalho começou em Brumadinho. Na ocasião, eu e alguns alunos ajudamos no resgate e na montagem de hospital de campanha para atender os animais vitimados", diz. Desde então, a equipe, que hoje conta com 35 voluntários, já atuou em algumas regiões, entre elas Belo Horizonte, Sabará, Ribeirão das Neves, Contagem e Salinas. Agindo em enchentes e queimadas, suas ações foram expandidas para outros estados, chegando à Bahia, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. "São inúmeros os resgates. Somente em uma rua de Juatuba foram 11 animais resgatados com bote salva-vidas e devolvidos a seus tutores", comemora.

Entre alegrias e tristezas, Aldair lamenta o fato de, na maioria das vezes, os municípios sequer cogitarem a possibilidade de socorro e salvamento dos animais, mesmo tendo o dever de fazê-lo. Isso porque segundo o artigo 225 da Constituição Federal, "incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade". Apesar de no Brasil esta ainda ser uma lei "para inglês ver", os voluntários seguem dando um exemplo de cidadania e, é claro, torcendo para não precisar ser acionados.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade