Acostumado a lidar com a dor, ainda hoje Marcos acha difícil não se comover com o olhar de desespero e agonia de bichos atingidos por desastres. Em 2015, quando ocorreu o rompimento da barragem em Mariana, se prontificou a ser socorrista junto ao Corpo de Bombeiros. "O olhar deles diz tudo. Para quem gosta de bicho, é um sentimento de tristeza e impotência sem fim." Muito se especulou na mídia e redes sociais, diz Marcos, mas só quem vivenciou o caos sabe que ele não acaba quando os trabalhos locais se encerram. Existem dores que nunca saram. "Foram dias de luta sem precedentes. Doía na alma ver alguns animais vivos, exaustos, agonizando, sem que tivéssemos condição de chegar até eles pelo menos para aliviar o seu sofrimento", diz. Mas ressalta que cada vida salva é única. "Sem dúvidas, é o que nos motiva a seguir em frente"

Vencer o desgaste físico e emocional e a complexidade logística para reunir pessoas, transporte, equipamentos e outros recursos, são apenas alguns dos desafios enfrentados pelos voluntários. O que com garra e determinação, são superados. Já a ausência de ações dos municípios para dar continuidade ao trabalho realizado pelas equipes é desolador e preocupante. Mesmo assim, Carla comemora. "Fazer com que os animais sejam vistos como vítimas nesses cenários, com certeza é um grande avanço." Em janeiro deste ano, o GRAD atuou junto à prefeitura de Nova Lima nas enchentes que atingiram várias regiões do município localizado na região metropolitana da capital mineira. "Para nós, a política de proteção e bem-estar animal também é prioridade. Vários animais acompanharam os seus tutores até os abrigos e muitos outros foram resgatados e receberam atendimento veterinário", diz o secretário de Meio Ambiente, Gabriel Coutinho.

Entre alegrias e tristezas, Aldair lamenta o fato de, na maioria das vezes, os municípios sequer cogitarem a possibilidade de socorro e salvamento dos animais, mesmo tendo o dever de fazê-lo. Isso porque segundo o artigo 225 da Constituição Federal, "incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade". Apesar de no Brasil esta ainda ser uma lei "para inglês ver", os voluntários seguem dando um exemplo de cidadania e, é claro, torcendo para não precisar ser acionados.