
O hepatologista Osvaldo Couto, do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas, dos hospitais Vila da Serra e Biocor e da Rede Mater Dei de Saúde, diz que algumas pesquisas mostram que mais de 60% da população utiliza ou já utilizou chás e ervas com o intuito de se tornar mais saudável. De acordo com o médico, no entanto, essas substâncias são pouco estudadas e, normalmente, aparecem nas prescrições associadas a outros produtos. "Existem fórmulas que misturam plantas, medicamentos, hormônios etc. São compostos que não apresentam nenhum respaldo científico, apenas somam potenciais efeitos tóxicos", diz Couto. "Frequentemente, eles são passados de pessoa para pessoa ou comprados diretamente em farmácias de manipulação. Muitas vezes, são prescritos por personal trainers, coaches, nutricionistas e até médicos despreparados, colocando a saúde dos pacientes em risco."
Mas, afinal, por que o fígado é tão afetado? Couto explica que ele é o principal responsável pelo metabolismo das substâncias que ingerimos. Portanto, de uma maneira geral, todos os medicamentos, chás e ervas passam por esse órgão e interagem com enzimas específicas que, por meio de processos químicos, promovem a biotransformação das substâncias para que elas possam ser aproveitadas ou excretadas. Essas funções, contudo, podem ser afetadas pelos emagrecedores, provocando lesões. "Um dos desafios da prática clínica é que não existe um exame específico que detecte a alteração causada pelos medicamentos ou pelos compostos à base de ervas", afirma. "Muitas vezes, o paciente não sente nada e a lesão pode progredir de forma silenciosa e se agravar posteriormente. Em alguns casos, o indivíduo pode sentir mal-estar, náuseas, desconforto abdominal ou perceber uma coloração amarelada na pele e na conjuntiva ocular (icterícia)."

Além do fígado e dos rins, outros órgãos podem ser severamente prejudicados pelo uso indiscriminado e contínuo de chás, ervas e fitoterápicos emagrecedores. Em longo prazo, a ingestão de determinadas substâncias aumentaria também as chances de ocorrência de alguns tipos de cânceres - a exemplo dos de bexiga, orofaringe e laringe -, conforme sugerido por estudos da área. "Os chás são 'sujos' do ponto de vista químico. Muitas vezes, não sabemos exatamente o que estamos tomando, pois junto a um composto benéfico pode haver outro que é maléfico", explica o oncologista gastrointestinal do Grupo Oncoclínicas Alexandre Jácome. "Diferentemente de uma droga que se compra na farmácia, nos produtos naturais não há reprodutibilidade de doses." Na avaliação do especialista, embora as pessoas se sintam mais seguras ao consumirem produtos naturais, na dúvida, é melhor evitá-los. "Isso não quer dizer que não devemos saborear os chás. Mas, para tratamento médico, como elemento terapêutico, é necessário que se tenha bastante cuidado com eles porque ainda há muitas incertezas."

Anselmo rechaça as dietas mirabolantes e as dicas de influenciadoras digitais, e também reforça a importância de se tomar cuidado com as propagandas enganosas de produtos milagrosos. "Devemos ter em mente que qualquer substância química, seja ela industrializada, seja natural, possui um potencial tóxico. Em relação aos chás e fitoterápicos, uma meta-análise publicada recentemente, em janeiro de 2020, na revista Diabetes, Obesity and Metabolism mostrou que eles não possuem a capacidade de promover a perda de peso", diz o endocrinologista. "Como toda substância química, no entanto, eles podem levar a quadros graves de intoxicação e até mesmo à morte.