Estado de Minas VEÍCULOS

Como carros elétricos mudaram o perfil do mercado automotivo no Brasil

As marcas chinesas BYD e GWM trouxeram para um patamar "aceitável" os preços desses veículos


postado em 23/01/2024 01:32 / atualizado em 23/01/2024 01:33

O hatch compacto Dolphin, da BYD: boa surpresa com preço de R$ 150 mil e acabamento que em nada fica a dever aos concorrentes(foto: BYD/Divulgação)
O hatch compacto Dolphin, da BYD: boa surpresa com preço de R$ 150 mil e acabamento que em nada fica a dever aos concorrentes (foto: BYD/Divulgação)
Não há como questionar que o principal ator no mercado de automóveis no Brasil foi o carro elétrico. E nesse panorama, também não há dúvidas, sobre a proeminência de duas marcas chinesas: a BYD (Build Your Dream) e a GWM (Great Wall Motors). Foram elas que, com uma estratégia agressiva de entrada no campo dos carros elétricos, fez com que a oferta dos elétricos saísse da fase embrionária em que engatinhava para a corrida pela preferência do consumidor, deixando alvoraçadas as marcas tradicionais que esticavam e ainda esticam a sobrevivência dos carros a combustão.

A BYD chegou como um vendaval iniciado com o lançamento do hatch compacto Dolphin, que a todos surpreendeu com o preço de R$ 150 mil para um carro completo e bem-acabado que em nada fica a dever aos concorrentes. E o mais importante foi o preço, finalmente acessível. Os concorrentes diretos das demais marcas têm (ou tinham) preço de quase o dobro desse valor. O resultado foi que em poucos meses, acrescentando o anúncio da decisão de comprar a unidade industrial abandonada pela Ford na Bahia e oferecendo vantagens e garantias inovadoras aos compradores, a BYD logo assumiu a liderança em vendas de carros 100% elétricos. Em outubro o Dolphin foi o líder de emplacamentos nesse segmento no Brasil com 1.366 unidades, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico). No acumulado de janeiro a outubro deste ano foram 2.868 unidades, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), lembrando que o lançamento do modelo ocorreu em julho deste ano, há menos de seis meses.

SUV Haval, da GWM: no mês de outubro, modelo foi o líder entre os 10 grupos de eletrificados mais emplacados, com 1.450 unidades registradas(foto: GWM/Divulgação)
SUV Haval, da GWM: no mês de outubro, modelo foi o líder entre os 10 grupos de eletrificados mais emplacados, com 1.450 unidades registradas (foto: GWM/Divulgação)
Em paralelo, e até antes da BYD, outra chinesa, a GWM deu início à sua não menos agressiva ação de entrada no mercado de veículos no Brasil. Ela, por sua vez, apostou inicialmente no segmento de SUVs, que tomou conta do mercado. Mais cautelosa, a GWM lançou concomitantemente a linha de SUVs Haval, com versões híbridas sem recarga externa e plug in (com recarga externa). O resultado foi um sucesso imediato. Apesar de chinês, com acabamento e qualidade comparável a seus concorrentes europeus e norte-americanos, o Haval literalmente inundou o mercado. No mês de outubro o modelo foi o líder entre os 10 grupos de eletrificados mais emplacados, com 1.450 unidades registradas, segunda a ABVE. No acumulado de janeiro a outubro deste ano, 7.234 unidades do Haval foram vendidas e emplacadas no Brasil, levando o SUV chinês ao 18º lugar no ranking dos SUVs, que totalizou mais de 625.285 unidades registradas, segundo a Fenabrave.

Diante dos resultados positivos da BYD com o hatch compacto Dolphin, a GWM se movimentou e traz agora para o Brasil o Ora 03, também compacto com qualidade que nada deixa a desejar aos rivais europeus. O Ora 03 vendido na Europa é montando na Bavária, na unidade industrial da BMW. Em duas versões o Ora 03 terá preços de R$ 150 mil e R$ 184 mil, informou a Bamaq, que representa a marca GWM em Belo Horizonte.

O compacto Ora 03, da GWM: em duas versões, terá preços de R$ 150 mil e R$ 184 mil(foto: GWM/Divulgação)
O compacto Ora 03, da GWM: em duas versões, terá preços de R$ 150 mil e R$ 184 mil (foto: GWM/Divulgação)
Tendo em vista os números até outubro, fica claro que 2023 será marcado na história do setor automotivo com o ano de primeiro recorde da eletromobilidade. Os registros a ABVE mostram um total de 9.537 veículos eletrificados leves emplacados. Na comparação com o mesmo mês de 2022 (4.460), o crescimento foi de 114%. Em relação a setembro (8.458), de 13%. De janeiro a outubro, o mercado brasileiro emplacou 67.047 veículos eletrificados leves (entre híbridos, híbridos com plug-in e 100 elétricos), um aumento de 73% sobre o mesmo período de 2022 (38.663) e de 36% sobre as vendas totais do ano passado (49.245). O Brasil já se aproxima dos 200 mil veículos eletrificados leves em circulação, desde o início da série histórica da ABVE (2012). Em outubro, chegou a 193.486.

Em uma análise mais ampla, somando as vendas de automóveis de passeio e comerciais leves, o ano de 2023 deverá ser marcado como o pior dos três últimos anos. A marca de 2 milhões de unidades comercializadas e emplacadas esteve próxima, mas a dificuldade para ser atingida é grande. Até outubro deste ano, segundo a Fenabrave e ABVE, o total de emplacamentos de automóveis de passeio e comerciais leves foi de pouco mais de 1,5 milhão de unidades, contra 1,7 milhão em 2022 e 1,6 milhão em 2021.

A Volvo trouxe para o Brasil o EX3, um SUV compacto que já tem fila de espera: com quatro versões e preços entre R$ 219.950 e R$ 279.950(foto: Volvo/Divulgação)
A Volvo trouxe para o Brasil o EX3, um SUV compacto que já tem fila de espera: com quatro versões e preços entre R$ 219.950 e R$ 279.950 (foto: Volvo/Divulgação)
Tudo indica que o segmento "veículos de entrada", os chamados populares, está minguando. Nos registros da Fenabrave de janeiro a outubro, esse segmento totalizou 115.910 unidades enquanto os hatches pequenos (um degrau acima) foram mais que o dobro, com 373.450 unidades. Isso mostra que os carros estão realmente caros no Brasil e a diferença de preço entre um modelo de entrada ("popular), hoje representado principalmente pelo Fiat Mobi e o Renault Kwid não compensa na comparação com os "hatches pequenos", hoje liderados pelo VW Polo e Chevrolet Onix.

Voltando aos elétricos, a concorrência acirrada com os compactos eletrificados parece estar fazendo bem ao mercado. Alguns rivais na categoria já anunciaram redução de preço e novas ofertas interessantes. A Volvo, por exemplo, decidiu trazer para o Brasil o EX3, um SUV compacto que já tem fila de espera, com quatro versões e preços entre R$ 219.950 e R$ 279.950. Esses são os preços de hoje, mas tudo pode mudar já a partir de janeiro, com a intervenção do governo que pretende voltar a cobrar a alíquota de importação de 35% também para veículos eletrificados, comentou com a nossa reportagem um consultor de vendas da Euroville Volvo de Belo Horizonte.

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