
O fenômeno tomou tal proporção que têm impactado diretamente no consumo por obras literárias, especialmente pela geração Z (nascidos entre 1995 e 2019). O levantamento Retratos da Leitura em Eventos do Livro e Literatura, do Instituto Pró-Livro, realizado durante a Bienal do Livro de São Paulo em 2022, no qual foram ouvidas 1 mil pessoas com idade superior a 10 anos, revelou que as redes sociais influenciaram 28% das pessoas no interesse em leitura de livros - esse dado foi de 3% na Bienal de 2019. Não é à toa que uma pesquisa rápida no TikTok pela hashtag "#booktokbrasil" aponta a publicação de 2,3 milhões de conteúdos desse tipo. Em um país no qual as pessoas leem uma média de apenas 2,5 livros por ano, segundo dados da última edição do Instituto Pró-Livro, existir um segmento na internet que incentiva a literatura é uma notícia animadora, conforme avalia a doutora em educação e especialista em neuroeducação Flávia Alcântara. "Durante muito tempo, perpetuou-se a ideia de que ler era algo para as elites, inacessível para a maioria das pessoas", afirma Flávia, professora do curso de Pedagogia da Estácio BH. "Mas as redes sociais, com a sua ampla divulgação, mostram que é possível fazer leitora parte dessa comunidade e encontrar prazer e satisfação na leitura."

A influenciadora Amanda Menezes de Matos Augusto, de 25 anos, também indica livros em seu perfil (@mandymma) a partir da sua própria leitura. "Eu adoro recomendar obras que mexeram bastante comigo. Como em minhas redes eu compartilho mais do meu dia a dia com as leituras, minhas recomendações mais marcantes acabam sendo dos livros que tiram reações genuínas minhas em frente à câmera. Acho que dois bons exemplos disso seriam ‘Como Se Fôssemos Vilões’, da M. L. Rio, ou ‘Babel’, da R. F. Kuang", conta.

Boa parte das indicações de leitura feitas pelos booktokers é voltada para escritores contemporâneos. Esse é o caso, por exemplo, da norte-americana Colleen Hoover, autora de "Assim que Acaba" (2016) e "Verity" (2018). A hashtag com o nome dela acumula mais de 52 mil publicações, e suas obras sempre figuram nas listas de livros mais vendidos não só do Brasil, como do mundo inteiro. Em suas pesquisas, a professora Flávia Alcântara tem notado que, de fato, boa parte das indicações é para novos autores. "Tenho observado que os vídeos são voltados especialmente para literatura norte-americana traduzida para o português. Ainda assim, é melhor ler um best-seller do que não ler nada", diz ela, ponderando que, "quando alguém começa a ler algo considerado mais simples, acaba desenvolvendo um traquejo para começar também a consumir os clássicos". A influenciadora Maria Júlia Alves tenta balancear tanto recomendações de obras clássicas como de contemporâneas na produção de seus conteúdos. "Esse equilíbrio acontece naturalmente porque tenho acesso a obras mais obscuras. Sempre acompanho lançamentos e visito livrarias. Se algum livro chama atenção, mesmo não sendo um best-seller, eu levo para casa e incluo na minha lista."
