
A PhD em tendências, professora e consultora Suzana Cohen explica que a ideia, ao nomear uma nova geração, é antecipar movimentos e buscar uma melhor compreensão dessas populações – "seja para estratégias de marketing, para o entendimento de padrões de consumo, para estratégias políticas e regulatórias", diz. Segundo a especialista, essas divisões servem para um entendimento de grupos etários, partindo da premissa de que eles terão determinados comportamentos em consequência dos tempos em que vivem, com mentalidades que correspondem a questões como a criação que recebem de seus pais e responsáveis, das tecnologias disponíveis, das conjunturas políticas ou sociais, e do espírito do tempo em que estão vivendo.
Bom, do que depender dos millennials, pessoas nascidas entre 1980 e 1995 e potenciais pais do mais recente grupo etário, esse novo ciclo tem tudo para ser solar, a despeito da hiperconectividade. Ao menos é o que podemos inferir considerando a relação de nomes mais populares do último ano, quando Ravi, originário do sânscrito e cujo significado é "raio de sol", foi o quarto nome mais registrado no Brasil.
Neste ano, a leva de Ravis se renova. Um deles é o filho da arte-educadora e escritora Moniara Barbosa, 30, que deve nascer em fevereiro. "Acho que esse nome vai ser uma febre entre os primeiros representantes da geração Beta", brinca a mãe, que se considera uma genuína representante dos millennials, definidos por ela como aqueles que souberam viver os tempos da internet discada e da era sem celular, mas que, hoje, não saberiam o que fazer sem acesso a um smartphone.

Mas o fato de se dar conta da novidade só mais recentemente não significa, de forma alguma, que ela já não pensasse e se preocupasse com o mundo que o filho vai encontrar. "Sempre tento pensar em como vai ser o futuro em que ele vai viver. E sinto muita preocupação em relação à vivência nas redes sociais, à experiência virtual e ao fato de que ele vai crescer tendo tudo e todo tipo de informações ao alcance das mãos", assegura.
Pensamento semelhante tem Jaqueline Oliveira, 31, mãe de Joaquim, com previsão de nascimento para meados da segunda quinzena de março. Ela também admite se sentir representada por algumas características atribuídas aos millennials, como a flexibilidade e a capacidade de se adaptar a mudanças constantes. "É uma coisa que vivi durante toda a minha vida e nunca vi como obstáculo. Ao contrário, é algo que me fez amadurecer e ampliou meus horizontes", garante. "Além disso, também me sinto alinhada a alguns valores, como a preocupação com o futuro do planeta e o meio ambiente", acrescenta.
Sobre a geração Beta, a que seu filho pertence e que representará 16% da população mundial até 2035, Jaqueline vem buscando se inteirar. "Sim, eu já parei para pensar, eu já refleti, já li artigos na internet sobre essas crianças. E, sim, me sinto preocupada. Eu não imaginava, mas o ambiente em que meu filho vai crescer me preocupa", pontua.
Ela lembra que a sua própria geração experimentou um mergulho de cabeça em um mundo mais tecnológico, em um crescente processo de virtualização das relações humanas. A diferença, que motiva sua aflição maternal, é que seu filho já vai nascer mergulhado nesse mundo. E não em um mergulho superficial, em que é fácil sair para tomar fôlego, mas em profundidade.

As aflições dessas duas mulheres têm sua razão de ser, como indica Suzana Cohen. "A geração Beta será filha majoritariamente de millenials e da geração Z (nascidos entre meados de 1997 a 2011). Enquanto a geração Z e a Alfa são de nativos digitais, a geração Beta será a primeira que provavelmente viverá em um mundo em estágio avançado de inteligência artificial (IA), automação, experiências imersivas, por exemplo", examina.
"Então, fatores como a hiperconectividade, a urgência de endereçar questões climáticas, a integração de IA, avanços tecnológicos com impactos amplos, seja na saúde, educação, mobilidade são previstos como molduras definidoras dessa geração", considera. Mas ela pondera: "Ainda é cedo para compreendermos em profundidade, pois começa a nascer por agora".
Diante desse cenário, Jaqueline tem refletido em como proteger o filho de uma completa imersão virtual. "Fico pensando em como vou criar um ser humano nesse mundo. Ao mesmo tempo, não penso em tirar isso dele, mas quero evitar que esse contato seja precoce. A gente vê que muitos pais, por necessidade muitas vezes, colocam seus filhos frente a telas muito cedo, o que não é bom para o desenvolvimento de uma criança. Então, pretendo e quero, dentro das minhas possibilidades, deixar que esse momento de contato com a tecnologia venha mais tarde, para que, antes, ele experimente as trocas reais", assinala.
Moniara faz coro às reflexões de Jaqueline, e acrescenta outras questões. "Tenho visto que, atualmente, a juventude tem se tornado muito conservadora, mais fechada em si, mais individualista, sem disposição para se articular coletivamente e vidrada no mundo digital", avalia ela que, apesar das discordâncias, afirma ter boa relação com essas pessoas, geralmente da geração Z. Seu temor é que essas características se acentuem entre os Beta. "E também tem a questão das mudanças climáticas, cujos efeitos estamos convivendo com cada vez mais frequência e intensidade", cita.

Jaqueline, por sua vez, faz votos que a geração Beta venha para confrontar a atual lógica que rege o mundo: "Torço que eles venham para pensar em formas de usar a nosso favor tudo isso que temos hoje ao alcance das mãos. Então, apesar do medo que tenho de como essa geração vai lidar com tudo isso, ainda tenho esperança. E acho que cabe a nós, da geração Y (como os millennials também são chamados) ajudar essas crianças que vêm agora a trilhar um bom caminho."
Essa perspectiva, que volta seu olhar para a ação presente, para a forma como essa novíssima população vai ser educada, ainda que atenta ao futuro, faz sentido à luz das análises de Suzana. "É sempre complexo antecipar tendências e fazer projeções do futuro, principalmente em termos de mudanças aceleradas", sinaliza. "O mais importante, então, é debruçar-se sobre os sinais do presente, sejam eles econômicos, políticos, sociais ou tecnológicos, e atentar-se às inovações, ao desenvolvimento científico e tecnológico, colhendo sinais embrionários de mudanças que são a chave para entender melhor o contexto em que vivemos e possíveis caminhos a serem trilhados", finaliza.
Em qual geração você se encaixa?
- Alpha: nascidos a partir de 2010
- Z: nascidos entre 1995 e 2009
- Millenials: nascidos entre 1984 e 1995
- X: nascidos entre 1964 e 1983
- Babyboomers: nascidos entre 1947 e 1963
- Silenciosa: nascidos entre 1923 e 1946