
Após a reforma para a Copa, o novo Mineirão se consolidou como a casa do futebol mineiro e sediou partidas da Copa das Confederações, da Copa do Mundo, das Olimpíadas de 2016 e da Copa América de 2019. Entrou também na rota dos grandes eventos. Entre os espetáculos que recebeu nos últimos anos estão shows internacionais como dos cantores Paul McCartney, Elton John e Beyoncé, além das bandas Black Sabbath e Kiss. Entre os nacionais, Skank e Milton Nascimento lotaram o estádio com os shows de despedida de suas carreiras. “O Mineirão é um ícone, um lugar carregado de paixão, seja para os torcedores, seja para fãs de eventos”, diz Jacqueline. Para este ano, estão confirmadas a segunda edição da corrida de stock car, o festival Prime Rock Brasil e o Bop Games, maior evento multiesportivo da América Latina. O Gigante da Pampulha foi escolhido também para sediar partidas da Copa do Mundo feminina, que será realizada entre junho e julho deste ano no Brasil.
Trajetória
Natural de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Jacqueline Alves trabalhou em usinas de álcool e açúcar e na área de siderurgia, cuidando de grandes obras em Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando engravidou pela primeira vez, resolveu viajar menos e cuidar de obras menores em sua região mesmo. Foi quando surgiu o convite para o Mineirão, para dar apoio no pós-obras, três meses antes do pontapé inicial para a Copa do Mundo. Sua vinda foi, segundo ela mesma, bastante despretensiosa. “Pensei que minha carreira ligada ao futebol acabaria logo depois da Copa, quando fizesse a vistoria de entrega da Fifa”, lembra. Enganou-se. Foi acumulando funções até que, em 2015, engravidou novamente. Ao voltar da licença maternidade, foi convidada a assumir a gerência administrativo-financeira. “Até me lembro que um consultor nosso falou que era a primeira vez que ele via uma mulher voltar da licença maternidade e ser promovida.”
Para Jacqueline, ter trabalhado por uma década na área administrativa e financeira do Mineirão antes de assumir o desafio atual a credencia a entender o funcionamento do estádio como um todo. “Mesmo quando trabalhei em obras, eu acompanhava tanto o planejamento físico, o andamento e o desenvolvimento quanto a parte econômica”, conta. Para ela, principalmente nas empresas privadas, “o financeiro é o coração do negócio”. Uma empresa só é considerada de sucesso quando é sustentável, tem boa situação econômica e traz bons resultados. No setor financeiro, ela se envolveu com os vários parceiros como os clubes, os prestadores de serviço e o próprio governo de Minas Gerais. “Isso abre a possibilidade de participar de todas as etapas do negócio, desde a operação até o final, que é o fechamento da temporada.”
Parceria Público Privada
A Minas Arena tem contrato com o governo de Minas Gerais até 2037. O consórcio formado pelas empresas de engenharia Construcap, Egesa e HAP financiou a reforma de modernização do Mineirão e recebe um valor mensal do Estado pelos investimentos realizados. Em 2022, um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas (Ipead), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), constatou que os eventos realizados no estádio promoveram a injeção imediata de R$ 963 milhões na economia, com um público de quase 3 milhões de pessoas. A pesquisa mostra ainda que para cada R$ 1 gasto em ingressos, alimentos, bebida e estacionamento no Mineirão, outros R$ 3,35 são gastos do lado de fora, em serviços de hospedagem, alimentação e transporte, entre outros. “Por números assim, acredito que essa é uma parceria de muito sucesso e queremos consolidá-la ainda mais, garantindo a satisfação não só do poder concedente como da população mineira, mantendo o Mineirão como protagonista em arena multiuso no cenário nacional”, afirma Jacqueline. No ano passado, o estádio bateu o recorde de média de público após a reforma, com 37.864 torcedores por partida.
Futebol x shows
Um dos desafios de Jacqueline é balancear o uso do Mineirão para eventos esportivos e espetáculos. Em 2023, a relação da Minas Arena com os clubes mineiros ficou estremecida. A Arena MRV estava prestes a ser inaugurada e o Cruzeiro, na gestão Ronaldo Fenômeno, firmou contrato com a Arena Independência, para mandar seus jogos ali. A administração do Mineirão preencheu, então, a agenda com eventos, festivais, shows… A entrega do estádio do Galo acabou atrasando e o alvinegro quis realizar partidas no Gigante. Isso gerou uma crise, mas que serviu de aprendizado para os próximos anos. “Hoje, nossa agenda é pensada de forma inteligente para preservar o gramado. O palco, por exemplo, não é mais montado sobre a grama natural, e sim sobre a área sintética”, diz. Aliás, levar gramado sintético para o Mineirão é algo que não está nos planos da administração.
Receber cada vez mais jogos de equipes de outros Estados como faz, por exemplo, o Mané Garrincha, em Brasília, já é algo que aparece no horizonte. No início de 2024, por exemplo, o Mineirão sediou a final da Supercopa, em que o São Paulo venceu o Palmeiras nos pênaltis. O próprio América decidiu mandar a final do Campeonato Mineiro deste ano contra o Atlético no estádio, no que foi a maior renda da história do clube americano.
Inspiração para outras mulheres
Jacqueline tem dito que a experiência à frente do Mineirão pode servir de inspiração para outras mulheres, já que a área ainda é vista, por muitas pessoas, como essencialmente masculina. Ela acredita, inclusive, que mulheres em postos de comando conseguem mais resultados para as companhias. “Nós extraímos o melhor das nossas equipes, porque a gente consegue humanizar, fazer multitarefas, ter esse olhar 360”, afirma. “Talvez até por causa da maternidade, temos um olhar cuidadoso com todos os pontos.”
E em dias de clássico, quando seus filhos se reúnem para torcer por clubes distintos, de que lado Jacqueline fica? Num Estado fortemente marcado pela rivalidade entre dois clubes, Cruzeiro e Atlético, ela garante que evita tomar partido. “Eu brinco que torço para o time Mineirão.”