
Os investimentos em “strip malls” ou “street shoppings” estão em alta no bairro. Pelo menos três novos deles serão abertos ao público nos próximos meses, outros cinco foram inaugurados recentemente. Esses centros comerciais, com lojas alinhadas em um único edifício e acesso direto ao estacionamento, são uma resposta às mudanças nos padrões de consumo e no desenvolvimento urbano dos últimos anos.
“A pandemia intensificou consideravelmente o varejo de proximidade, fazendo com que várias redes aderissem a esse modelo”, explica Janice Mendes, diretora-executiva da ABMalls (Associação Brasileira de Strip Malls), ao comentar um estudo conduzido pela entidade, segundo o qual o número de unidades cresceu 50% no país desde 2020.

Brandi, morador do Belvedere desde 1985 e um apaixonado pelo bairro, conta que o Botânico foi construído a partir do local onde era sua casa. “Fui comprando as residências dos vizinhos, foram 13 aquisições, e decidimos fazer um mall. Como o projeto cresceu muito, virou um shopping.” O nome é uma homenagem ao paisagismo que privilegia o verde, com uma grande praça central de mais de 1.000 m², em um total de 2.000 m² de área verde permeável.
O projeto arquitetônico, assinado pelos arquitetos Lucy Volpini e Thiago Junqueira, foi desenhado em formato de U e busca integrar o urbano com a natureza, criando uma experiência de compras afetiva. E o projeto paisagístico é de Ronaldo Moraes, da Forma Garden. O objetivo do Botânico Shopping é trazer a natureza para todos os ambientes do shopping, onde a pessoa estiver ela vai ter contato com o verde, tanto na praça e na fachada dos ambientes internos e externos”, comenta.
No mix de lojas, a primeira academia sete estrelas do Brasil, The Beat Club, e lojas inéditas em Belo Horizonte, como a Lauf Sports, de moda fitness feminina, e a Empório Frutaria São Paulo, restaurante de comida saudável. O mall ainda contempla a gelateria Mi Garba, o buffet infantil Casa do Sol, a ótica alemã Zeiss, entre outras operações.
“Fizemos uma pesquisa abrangente sobre os principais shoppings-jardins do país e do mundo. Para isso nos inspiramos no conceito de life-center, um espaço cheio de vida, elegante, bucólico e aconchegante. As pessoas não querem mais estar entre paredes, elas precisam da integração com o verde”, afirma Lucy Volpini.

O investimento no complexo é de R$ 100 milhões, segundo Gabriel Pentagna Guimarães, sócio-diretor da Pentagna Incorporadora. “Estamos no principal cruzamento do bairro, entre a avenida Paulo Camilo Pena e a rua Djalma Andrade, uma região com a maior densidade de pessoas e fluxos, além de belíssimas áreas verdes. Essa área se transforma cada vez mais em um polo de moda, gastronomia e lazer”, afirma ele.
O Pátio Belvedere I foi inaugurado em 2022, com marcas como Track&Field, Patbo, lojas By Dany Duarte e o chef Ivo Faria, que trouxe para o empreendimento o Instituto Ivo Faria. O Pátio Belvedere II, inaugurado recentemente, possui 19 lojas, incluindo drogaria, padaria, estúdio de ioga e loja de móveis, com 2.230 m² de área.

O Pátio 3, conectado à praça, será inaugurado no final de agosto, com cafeteria, loja de roupas e uma unidade da Panini. Já o Pátio 4, em fase de construção, deve ser inaugurado em março de 2026. Gabriel Pentagna destaca que a praça Arquiteto Ney Werneck já recebeu R$ 200 mil em investimentos e receberá mais R$ 800 mil em obras de revitalização, com objetivo de valorizar a região próxima ao centro de compras, incluindo melhorias no parquinho e passeio. “Queremos valorizar o entorno do shopping, pois acreditamos que isso vai trazer movimento para os nossos empreendimentos”.
O novo Jardins?
Questionado se existe mercado para tantas lojas no mesmo reduto, o empresário Gabriel Pentagna diz que sim, e que os projetos já em operação estão com 100% de ocupação. Ele faz uma analogia: o Belvedere está para Belo Horizonte como os Jardins estão para São Paulo - este bairro paulista abriga a rua Oscar Freire, um dos endereços mais nobres da cidade paulistan, conhecida por suas lojas de luxo, restaurantes internacionais e calçadas arborizadas.
Esse fenômeno imobiliário se intensificou após mudanças na Lei de Uso e Ocupação do Solo da capital mineira, há cerca de quatro anos, mas já existia em função do próprio crescimento urbano da região Centro-Sul de Belo Horizonte. Com o esgotamento dos terrenos em bairros tradicionais como Lourdes, Sion, Savassi, e do próprio Belvedere, cerca de 80% dos novos lançamentos residenciais de luxo se concentram em Nova Lima e região, onde mais quatro bairros estão sendo abertos atualmente. Uma região com topografia desfavorável para o comércio, com muitos morros e vales.
“Todos esses novos moradores de Nova Lima vão consumir onde? No Belvedere, que é um bairro plano, arborizado, tem ruas largas e uma divisão de prédios e casas muito bem definida”, analisa o empreendedor.
Atmosfera cosmopolita
A administradora de empresas Luciana Corradi Drummond mora no Belvedere há 21 anos e aprova a atual transformação do bairro. “Existe uma demanda real por espaços cada vez mais convenientes e exclusivos. Esses novos shoppings trazem para o bairro uma atmosfera cosmopolita e atraem um público mais exigente, movimentando bastante a economia local”.
No entanto, ela pondera que esse fenômeno não é livre de impactos na dinâmica de vida dos moradores, especialmente no trânsito. Mas o público parece disposto a pagar esse preço, ainda mais porque os imóveis em que moram estão se valorizando. “Você não precisar sair do bairro é muito bom, inclusive para ir em bons restaurantes. Compro tudo no Belvedere e no Vila da Serra”.
A empresária Juliana Medeiros, que também mora no bairro, se diz impressionada com o número de novos shoppings e galerias no Belvedere. Também com a ressalva de impactos no já caótico trânsito, ela diz que aprova a oferta maior de produtos e serviços de alto padrão, mas teme não haver demanda para tantas lojas. “Não tenho visto muito movimento quando passo por eles”, afirmou.

Para Pitchon, a localização do mall é um grande atrativo. “A avenida Celso Porfírio Machado é a mais nobre do Belvedere. Larga, arborizada e com pouco movimento, o que faz do Avenue um espaço tranquilo e sofisticado, ideal para grandes marcas”, afirma.
O projeto é composto por oito lojas de frente para a rua, além de um subsolo com 35 vagas de garagem. Acima das lojas, o Avenue conta com dois conjuntos corporativos, sendo que um deles, com cerca de 500 metros quadrados, será ocupado pela própria Pitchon, uma das sócias do empreendimento.

Algumas das marcas no Avenue são Iorani, Talento, Cris Carneiro Arte, Klus, além das operações de Pitchon e da construtora Capanema no andar superior. A expectativa é de um ticket médio de consumo de cerca de R$ 2.000, considerando o perfil da clientela que o empreendimento atrairá.
Ricardo Pitchon também comenta a transformação do Belvedere e sua relevância estratégica no crescimento de Belo Horizonte. “Há alguns anos, o centro da cidade era o ponto mais luxuoso. Hoje, vejo um movimento de deslocamento dessa área para o Belvedere. O bairro tem se tornado cada vez mais um destino comercial devido a sua localização privilegiada, próximo da zona sul de Belo Horizonte e de regiões em crescimento, como Nova Lima e Vila da Serra”, analisa.
Ele observa ainda que a oferta de imóveis, como o Avenue, que conta com paisagismo cuidadoso, fácil acesso e estacionamentos amplos, tem atraído empresários e consumidores da Zona Sul de BH, Savassi e Lourdes para o Belvedere. Para Pitchon, “o Belvedere se consolidou como o melhor bairro de Belo Horizonte, e, com empreendimentos como o Avenue, ele se reafirma como um centro de negócios de alto padrão”.
Mirante Vista Real
“Todos esses empreendimentos reforçam esse novo perfil do bairro, que se torna realmente um destino para quem visita Belo Horizonte. Vamos nos fortalecer como comunidade e como destino”, afirma Karla Sena, superintendente do Meeting Shops.

“Temos 4.000 metros de área bruta locável e conseguimos cobrir todos os segmentos do varejo no nosso mix, possibilitando uma experiência de compra completa para nosso cliente. Ele consegue adquirir desde um artigo de casa, infantil, feminino, masculino, a serviços de beleza, por exemplo, e artigos de arte. Temos hoje o Satya Luz, de ioga, com uma experiência sensorial única, a primeira NK Stores de Minas Gerais, a ZD Galerie, Ananás Petit, Da Vila Cerâmica, Adega Andes & Biscoitê, além dos restaurantes do Leo, que estão super consolidados”.
“O meeting se propôs a trazer um formato de compras diferente, uma opção intermediária para o lojista que não quer uma loja de rua, mas também não quer um shopping tradicional”.
Também foi inaugurado recentemente o Vista Real Belvedere Mall, localizado em frente ao Mirante Vista Real, onde é possível contemplar uma das mais belas vistas da cidade de Belo Horizonte. A vista exuberante do local foi o ponto principal para a concepção do projeto, com grandes aberturas, e varandas nos três pavimentos.
Impactos no trânsito e na segurança
O aumento de empreendimentos comerciais, como strip malls, shoppings e centros corporativos, atrai um maior número de consumidores, empresários e trabalhadores para o bairro, o que naturalmente resulta em um aumento na quantidade de carros e outros veículos nas ruas. Além disso, o perfil mais sofisticado da região, com novos empreendimentos de alto padrão, atrai um público com maior poder aquisitivo, o que contribui para o crescimento do tráfego de carros de luxo, como também de pessoas que buscam o comércio e serviços locais.
Esse aumento de tráfego tem gerado congestionamentos, especialmente durante horários de pico, o que pode causar um impacto na qualidade de vida dos moradores. A infraestrutura viária, que foi projetada em uma época em que o Belvedere era mais voltado para residências, não foi inicialmente pensada para suportar grandes fluxos comerciais e de pessoas.
Mudanças na Lei de Uso e Ocupação do Solo geraram “boom”
A Lei 11.181/2019, que fez parte da última revisão do Plano Diretor de Belo Horizonte, tem um impacto significativo no uso e ocupação do solo, especialmente em áreas como o Belvedere. Essa lei concedeu maior permissividade de uso em algumas vias da cidade, permitindo uma maior diversidade de atividades comerciais e de serviços em regiões anteriormente mais restritas.
A alteração na legislação foi aprovada pela Câmara Municipal em agosto de 2019, após a aprovação das propostas que envolviam mudanças nas zonas de uso do solo, incluindo áreas residenciais e comerciais. Esse processo transformou o Belvedere de um bairro quase exclusivamente residencial para uma área que agora abriga tanto moradias quanto comércios, criando um polo de consumo e de serviços na capital mineira.
Portanto, a Lei 11.181/2019 tem como objetivo ajustar a cidade ao seu crescimento, buscando incentivar novos empreendimentos, promover a revitalização de áreas específicas e atender às novas demandas econômicas e sociais, tudo isso dentro de um processo que envolveu ampla discussão com a sociedade.
O que vem por aí
Terrazzo Belvedere Mall

Mirante Garden
