No dia 14 de maio, a médica Luciana Xavier Oliveira, de 26 anos, morreu enquanto treinava em uma academia do bairro Sagrada Família, em BH. De acordo com testemunhas, ela sofreu um mal súbito durante um dos exercícios. Oito dias depois, no dia 22, o jogador Juan Izquierdo caiu desacordado durante a partida entre São Paulo e Nacional (URU), no estádio do Morumbi. Ele sofreu uma parada cardiorespiratória e morreu no dia 27, após ficar internado no hospital Albert Einstein, também na capital paulista.
Chama a atenção que os dois tenham se sentido mal enquanto praticavem atividades físicas, e morreram em decorrência de falha no coração. Vale lembrar que, tanto no caso de Juan como no de Luciana, não há qualquer comprovação de relação direta do óbito com os exercícios que praticavam.
Entretanto, as duas situações levantaram debates sobre uma possível relação entre exames preventivos e a prática de atividades físicas. Será que eles são necessários antes de se matricular em uma academia, por exemplo? E, se sim, será que são capazes de prever problemas como os que aconteceram com a médica e o jogador que morreram?
Para entender melhor essas, e outras questões relacionadas à saúde e segurança nas atividades físicas, Encontro conversou com o especialista Cleverson Costa, diretor de Ciência e Educação em Saúde do Grupo Pratique. Confira:
Encontro - Exames preventivos para a realização de atividades físicas são importantes?
Cleverson Costa - Contrariando o senso comum, a maior parte das pessoas não precisa fazer nenhum exame antes de começar a fazer exercícios. Uma revisão de estudos recentes mostrou que a alta prevalência de fatores de risco de doenças cardiovasculares entre adultos, combinada com a extrema raridade de morte súbita cardíaca relacionada ao exercício, sugere que a capacidade de prever esses eventos é baixa. Dessa forma, protocolos restritivos de pré-participação podem resultar num aumento exagerado de consultas médicas, impondo uma barreira à participação dos indivíduos em exercícios e gerando custos individuais ou ao sistema público de saúde desnecessários. Além disso, há evidências consideráveis de que o exercício é seguro para a maioria das pessoas, oferecendo diversos benefícios à saúde em geral. Apesar de tudo isso, existe um protocolo bastante simples que pode apontar a necessidade ou não de se consultar um médico antes de começar a fazer exercícios: o Questionário de Prontidão para Atividades Físicas, conhecido popularmente como PAR-Q (Physical Activity Readiness Questionnaire). É um instrumento muito simples composto por 7 perguntas para marcar "sim" ou "não". Se o respondente marcar “não” para todas as perguntas, pode começar a se exercitar, de maneira leve ou moderada, sem consultar nenhum especialista da área da saúde.
Como o educador físico avalia a quais atividades uma pessoa está apta, e o nível de intensidade que ela pode se submeter?
Existem diversas formas de avaliar o nível de intensidade ou esforço para a prescrição de exercícios, desde testes objetivos - um teste de esforço em esteira ergométrica por exemplo - até medidas indiretas. No dia a dia, um instrumento muito simples e válido para avaliar a intensidade de esforço é a chamada escala de Percepção Subjetiva de Esforço ou PSE. A PSE é uma forma simples, rápida e válida tanto para atletas como para pessoas comuns avaliarem o nível de intensidade na prática de exercícios. Já com relação ao tipo de atividade, a melhor atividade é aquela que o indivíduo goste e se sinta confortável ou competente para praticar! Qualquer exercício é melhor do que ficar parado. Com base nos interesses pessoais e no nível atual de aptidão, um profissional competente pode orientar as melhores opções de exercícios.
Os chamados "atletas de final de semana" correm algum tipo de risco?
A maior parte das atividades físicas voluntárias são auto-reguladas. As respostas fisiológicas como frequência cardíaca, frequência ventilatória e pressão arterial emitem sinais de retroalimentação que provocam sensações como stress, cansaço excessivo e desmotivação, que são formas de auto-defesa que impedem a maior parte das pessoas de se expor a um grande risco na prática esportiva. A maior parte das lesões são de ordem muscular ou ortopédica. Isso se dá devido à técnica inadequada ou falta de preparação dos músculos e do sistema ligamentar para suportar esforço físico. É o caso das pessoas que decidem ir jogar beach tennis por exemplo (ou qualquer outro esporte coletivo) depois de meses ou anos paradas sem fazer um mínimo de preparação para isso! Na hora do jogo o corpo será exposto a mudanças bruscas de direção e movimentos explosivos que podem lesionar o organismo despreparado. Então, o ideal é fazer uma preparação física geral para minimizar o risco de lesões. A prática da musculação pode reduzir em até 70% as lesões no esporte.
Pensando na segurança, o que uma pessoa deve observar para garantir que está se matriculando em uma boa academia?
Basicamente duas coisas. Primeiro, a presença de pessoal qualificado para fornecer orientações sobre a prática segura de exercícios, tanto do ponto de vista técnico quanto cardiovascular. Em segundo lugar, a aparência importa. Se as instalações e os equipamentos não estiverem em boas condições, eles podem representar risco ao praticante. Então, o zelo com a estrutura física é um indicador indireto do quanto a academia se preocupa com o conforto e segurança dos seus integrantes.