
São três os momentos do etanol como combustível automotivo nesses 40 anos, relata João Irineu, diretor de assuntos regulatórios e compliance da FCA. O primeiro é marcado pela busca de um combustível alternativo à gasolina, impulsionada também pela crise do petróleo, que marcou o final da década de 1970 e início dos anos 1980 do século passado.


Para marcar as quatro décadas de existência, a Fiat colocou na pista de testes da fábrica de Betim nada menos que uma unidade do primeiro lote dos 147 a álcool daquele mês de julho, exatamente como há 40 anos. O exemplar raro - que na época foi vendido para o Ministério da Fazenda, de Brasília - faz parte do acervo de clássicos da Fiat e está praticamente original, sem restauração. "É emocionante ver esse carro de perto não só pela importância de ser realmente o primeiro Fiat 147 a etanol, mas também por estar funcionando perfeitamente com todos os elementos de época originais, como partida a frio e afogador, além de preservar a tampa vermelha do motor e a pintura original", afirma Robson Cotta, gerente de Engenharia Experimental da Fiat Chrysler Automóveis (FCA). Na Fiat desde o início da década de 1980, Cotta tem muitos motivos para se lembrar do "Cachacinha". "O primeiro veículo zero km que eu comprei foi um Fiat 147 a etanol."
A história do Fiat 147 a etanol começou em 1976, quando as pesquisas e desenvolvimento do motor movido com o derivado da cana-de-açúcar começaram. "Vivíamos a era do Proálcool, um programa nacional para combater a crise do petróleo", lembra Robson Cotta. Ainda em 1976, em sua primeira participação no Salão do Automóvel de São Paulo, a Fiat expôs um protótipo do 147 a etanol.

Entre os diferenciais, a taxa de compressão do motor 1.3 foi elevada, de 7,5:1 da versão a gasolina para 11,2:1, e a carburação passou a trabalhar com mistura ar-combustível mais rica (com maior percentual de combustível). Essa era a razão de seu maior consumo - 30% mais alto. "O propulsor ficou com potência pouco maior que a do similar a gasolina, devido à necessidade de conter o consumo: 62 cv brutos contra 61. Por outro lado, a taxa de compressão mais alta favorecia o torque e, portanto, as retomadas e acelerações em baixa ou média rotação", dataca Cotta. "Mas o número que realmente importava era o custo por quilômetro rodado, menos da metade da versão a gasolina, com os preços dos combustíveis na época." De 1979 a 1987, período em que foi comercializado no Brasil, foram vendidas 120.516 unidades do Fiat 147 movido a etanol.
Supervisor de Engenharia de Produto da FCA, Ronaldo Ávila, que na década de 1980 trabalhava no laboratório químico da montadora, acompanhou os aperfeiçoamentos do 147 a etanol. "Minha equipe analisava as peças dos motores. No início havia oxidação dos componentes. Para que viesse a funcionar com o etanol, o sistema de alimentação como um todo [tanque de combustível, bomba, tubulações, carburador, etc.] precisou ser mais resistente para suportar um combustível extremamente corrosivo", conta. A solução encontrada para proteger as peças do motor foi o uso de níquel químico, que cria uma camada de proteção nos componentes, inibindo as ações do etanol. Outra providência foi a instalação do conjunto de escapamento aluminizado.

"Na época do 147, o sistema de injeção de combustível era o carburador, que de início não tinha um tratamento tão eficaz para conter a corrosão do etanol. Passamos a adotar materiais que protegessem o componente, mas ao mesmo tempo trabalhamos para atingir um outro nível tecnológico, que passaria pelo carburador duplo até chegar à injeção eletrônica", lembra Ronaldo Ávila. Foi justamente a tecnologia do carburador duplo que, no início dos anos 1990 trouxe mais um feito histórico para a marca: o carro 1.0 mais rápido e veloz do mundo, o Uno Mille Brio. A evolução do sistema de injeção melhorou a mistura de ar e combustível nos motores. Com isso, houve ganhos significativos de desempenho e, ao mesmo tempo, redução de consumo. Hoje, o tanquinho de partida a frio está no museu graças ao sistema de pré-aquecimento dos bicos injetores.