É verdade que o estádio foi projetado para eventos esportivos, mas, já que decidiram transformá-lo em uma arena multiuso, há que se esperar qualidade que compense o preço pago pelos ingressos. O publicitário Ivan Pawlow, de 31 anos, estava lá enquanto o Guns n’ Roses apresentava seu novo álbum. A lembrança não é nada agradável. “Na pista, de cara para o palco, o som é perfeito, mas dessa vez foi bizarro. Entrei do lado do palco, com o show começando, e não dava para ouvir”, conta. O psicólogo Diogo Monte-Mór, de 33 anos, é outro que lamenta as experiências sonoras tidas no ginásio. Ele viu shows como o de Bruce Dickinson, em 1997, e o dos Scorpions, em 2008. A apresentação de Dickinson, então, foi de dar nos nervos. “Lembro-me de sair de lá irritado, mesmo sendo um adolescente”, recorda.
Na verdade, o Mineirinho até teve um projeto de tratamento acústico na época de sua construção, na década de 1980, mas acabou não saindo do papel, como conta o diretor geral da Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais (Ademg), Ricardo Afonso Raso, de 57 anos. “Não tivemos dinheiro para fazer”, revela. Para ele, o ginásio tornou-se “maldito” pela falta de qualidade dos equipamentos, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, incapazes de preencher seu imenso volume.
Segundo o arquiteto e produtor musical Leonardo de Moraes, de 42 anos, os principais problemas do Mineirinho estão no material usado na construção – concreto – e no formato – côncavo (veja infográfico). “O formato arredondado concentra a reflexão das ondas sonoras no centro. Com isso, uma pessoa que está na pista recebe o som de forma exagerada e quem está na arquibancada é confundido pela reverberação e pelo eco”, explica.
A solução que aliviaria o ouvido dos fãs pode ser investir em revestimentos nas paredes para distribuir uniformemente as ondas sonoras. Quem aposta nessa ideia é o professor de engenharia e coordenador do Laboratório de Acústica e Dinâmica de Estruturas da UFMG, Marco Antônio Vecci, de 57 anos. “Há soluções criativas”, diz. Como o Mineirinho é um dos principais palcos culturais da cidade, o investimento seria válido. “Tão importante quanto transporte e educação, é ter um ambiente adequado para extravasar e se tornar mais humano”, afirma Vecci. Tomara que nos próximos shows as distorções venham de guitarras envenenadas, e não de uma acústica para lá de inadequada.
As principais reclamações
- Ecos demais
- Impossível entender claramente palavras e sons
- Reverberação, que é a reflexão de som nas paredes e no teto do ginásio
O que causa os problemas
- Material utilizado na construção: o Mineirinho é feito de concreto, que não absorve as ondas sonoras. O nível de reflexo dessas ondas é alto
- Formato arredondado: o teto côncavo concentra a reflexão das ondas sonoras no centro criando na pista um local de concentração de ondas sonoras refletidas, enquanto alguém na arquibancada seja confundido pela reverberação e pelo eco. A batida de um tambor pode demorar mais de 10 segundos para desaparecer
A grande vilã
- Um fenômeno conhecido na física como reverberação pode ser considerado o maior problema no Mineirinho. Isso é a persistência do som em continuar chegando aos ouvidos mesmo quando já parou de ser emitido. Como o som se propaga em todas as direções, ele vai voltar de pontos diferentes para o ouvinte. Em grandes galpões ou ginásios, as pessoas acabam não entendendo bem as músicas ou os diálogos porque o som não chega de forma rápida, clara e uniforme.
Soluções
Investir no tratamento acústico de toda a estrutura interna, revestindo as paredes com os seguintes materiais:
- Refletores: para refletir o som em pontos pouco atingidos
- Absorventes: para absorver as ondas onde há muito eco e reverberação (no chão e teto também)
- Difusores: para absorver e refletir ondas sonoras uniformemente
É bom ficar sabendo
- Shows de rock, heavy metal e outros sons "pesados" tendem a causar mais reverberação devido a maior incidência de frequências médias e graves. Músicas mais agudas reverberam menos
- Quanto maior o volume, maior a confusão sonora