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Estado de Minas ACúSTICA

Mineirinho: que som é esse?!

Um palco onde dezenas de milhares de pessoas se reúnem para curtir megashows de atrações internacionais e nacionais, mas com um grande incômodo: a qualidade do som é péssima


postado em 13/11/2013 17:28 / atualizado em 13/11/2013 17:44

Fora do padrão: o arquiteto e produtor musical Leonardo de Moraes explica que nem o material e nem o formato do local são bons fatores para uma boa acústica (foto: Roberto Rocha/Encontro)
Fora do padrão: o arquiteto e produtor musical Leonardo de Moraes explica que nem o material e nem o formato do local são bons fatores para uma boa acústica (foto: Roberto Rocha/Encontro)
Quando o Guns n’ Roses aterrissou em Belo Horizonte em março de 2010 com uma nova formação, na turnê Chinese Democracy World Tour, a euforia entre novos e antigos roqueiros foi geral, mas precedida de uma grave preocupação. A última vez que Axl Rose e sua turma pisaram no Brasil para um show havia sido em 2001, no Rock in Rio 3, no Rio de Janeiro, mas agora a banda estava de volta com apresentação marcada para acontecer em um megapalco considerado maldito por muitos fãs:  o Ginásio Poliesportivo Jornalista Felipe Drummond, mais conhecido como Mineirinho. O motivo do descontentamento parece até brincadeira, mas  o espaço acabou ganhando fama entre frequentadores de shows por apresentar péssima acústica. Grandes shows como Green Day, Iron Maiden, Deep Purple, Ozzy, Titãs, Roberto Carlos, Xuxa, Sandy & Júnior e RBD não se safaram de terem sido criticados durante a execução e mais tarde, em rodas de amigos até hoje. Vazio ou cheio – alguns shows reuniram mais de 20 mil pessoas –, o Mineirinho sempre foi motivo de reclamações devido ao som.

É verdade que o estádio foi projetado para eventos esportivos, mas, já que decidiram transformá-lo em uma arena multiuso, há que se esperar qualidade que compense o preço pago pelos ingressos. O publicitário Ivan Pawlow, de 31 anos, estava lá enquanto o Guns n’ Roses apresentava seu novo álbum. A lembrança não é nada agradável. “Na pista, de cara para o palco, o som é perfeito, mas dessa vez foi bizarro. Entrei do lado do palco, com o show começando, e não dava para ouvir”, conta. O psicólogo Diogo Monte-Mór, de 33 anos, é outro que lamenta as experiências sonoras tidas no ginásio. Ele viu shows como o de Bruce Dickinson, em 1997, e o dos Scorpions, em 2008. A apresentação de Dickinson, então, foi de dar nos nervos. “Lembro-me de sair de lá irritado, mesmo sendo um adolescente”, recorda.

Tremenda frustração: para o psicólogo Diogo Monte-Mór o show de Bruce Dickinson foi um fiasco por causa da falta de qualidade do som(foto: Júnia Garrido/Encontro)
Tremenda frustração: para o psicólogo Diogo Monte-Mór o show de Bruce Dickinson foi um fiasco por causa da falta de qualidade do som (foto: Júnia Garrido/Encontro)
Na verdade, o Mineirinho até teve um projeto de tratamento acústico na época de sua construção, na década de 1980, mas acabou não saindo do papel, como conta o diretor geral da Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais (Ademg), Ricardo Afonso Raso, de 57 anos. “Não tivemos dinheiro para fazer”, revela. Para ele, o ginásio tornou-se “maldito” pela falta de qualidade dos equipamentos, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, incapazes de preencher seu imenso volume.

Segundo o arquiteto e produtor musical Leonardo de Moraes, de 42 anos, os principais problemas do Mineirinho estão no material usado na construção – concreto – e no formato – côncavo (veja infográfico). “O formato arredondado concentra a reflexão das ondas sonoras no centro. Com isso, uma pessoa que está na pista recebe o som de forma exagerada e quem está na arquibancada é confundido pela reverberação e pelo eco”, explica.

A solução que aliviaria o ouvido dos fãs pode ser investir em revestimentos nas paredes para distribuir uniformemente as ondas sonoras. Quem aposta nessa ideia é o professor de engenharia e coordenador do Laboratório de Acústica e Dinâmica de Estruturas da UFMG, Marco Antônio Vecci, de 57 anos. “Há soluções criativas”, diz. Como o Mineirinho é um dos principais palcos culturais da cidade, o investimento seria válido. “Tão importante quanto transporte e educação, é  ter um ambiente adequado para extravasar e se tornar mais humano”, afirma Vecci. Tomara que nos próximos shows as distorções venham de guitarras envenenadas, e não de uma acústica para lá de inadequada.


As principais reclamações


  • Ecos demais

  • Impossível entender claramente palavras e sons

  • Reverberação, que é a reflexão de som nas paredes e no teto do ginásio

O que causa os problemas

  • Material utilizado na construção: o Mineirinho é feito de concreto, que não absorve as ondas sonoras. O nível de reflexo dessas ondas é alto

  • Formato arredondado: o teto côncavo concentra a reflexão das ondas sonoras no centro criando na pista um local de concentração de ondas sonoras refletidas, enquanto alguém na arquibancada seja confundido pela reverberação e pelo eco. A batida de um tambor pode demorar mais de 10 segundos para desaparecer

A grande vilã

  • Um fenômeno conhecido na física como reverberação pode ser considerado o maior problema no Mineirinho. Isso é a persistência do som em continuar chegando aos ouvidos mesmo quando já parou de ser emitido. Como o som se propaga em todas as direções, ele vai voltar de pontos diferentes para o ouvinte. Em grandes galpões ou ginásios, as pessoas acabam não entendendo bem as músicas ou os diálogos porque o som não chega de forma rápida, clara e uniforme.

Soluções

Investir no tratamento acústico de toda a estrutura interna, revestindo as paredes com os seguintes materiais:

  1. Refletores: para refletir o som em pontos pouco atingidos
  2. Absorventes: para absorver as ondas onde há muito eco e reverberação (no chão e teto também)
  3. Difusores: para absorver e refletir ondas sonoras uniformemente

É bom ficar sabendo

  • Shows de rock, heavy metal e outros sons "pesados" tendem a causar mais reverberação devido a maior incidência de frequências médias e graves. Músicas mais agudas reverberam menos

  • Quanto maior o volume, maior a confusão sonora

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