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Estado de Minas INTERNACIONAL

Fim do conflito na faixa de Gaza pode levar até 20 anos, diz representante árabe

A Encontro tenta entender o que causa uma guerra que deixa tantas vítimas inocentes, e que se repete há tantos anos, nessa disputada região do Oriente Médio


postado em 04/08/2014 20:22 / atualizado em 05/08/2014 14:15

Entre os principais assuntos que disputam espaço nos noticiários internacionais está o conflito na faixa de Gaza, entre Israel e palestinos. Estes, são ligados ao grupo extremista hamas, que controla a região desde 2007, quando as tropas israelenses evacuaram o território que fica próximo ao Egito e ao mar Mediterrâneo. A guerra teria se originado após o sequestro e o assassinato de três jovens judeus por militantes da organização terrorista palestina, em junho de 2014.

Porém, muito além dessa origem sanguinária, em que sobram acusações para os dois lados – o hamas, até hoje, não confirmou nem negou participação na morte dos adolescentes israelenses –, é preciso entender também como a falta de um território palestino afeta o "clima" nessa região do Oriente Médio. "A explicação mais moderna começa em 1947, quando, na ONU, é aprovada a partilha da região entre judeus e palestinos. Mas, em 1948, é criado oficialmente o estado de Israel, sem se delimitar também o território da Palestina. Esse talvez seja o início de todos os problemas que vemos hoje", explica Dawisson Lopes, professor de política internacional da UFMG. Segundo ele, esse seria o estopim para as sucessivas guerras se deram após a criação do estado judeu.

(foto: Heitor Antonio/Encontro Digital)
(foto: Heitor Antonio/Encontro Digital)


Devemos lembrar que a região em que se encontra a cidade de Jerusalém, em Israel, é também considerada sagrada para três das maiores religiões monoteístas do mundo: o cristianismo, o judaismo e o islamismo. "Em alguns lugares do planeta você percebe a convivência pacífica dessas três religiões. O problema no Oriente Médio é político. Surgiu um sentimento de usurpação terrirorial. Os palestinos, por não terem um território próprio, percebem uma assimetria com o estado de Israel", diz o professor.

Questionado se a criação do estado da Palestina traria paz para a região, Dawisson Lopes se mostra pouco animado, já que, em sua opinião, Israel está cada vez mais rico e os muçulmanos, mais pobres. "Isso não deve ser entendido como desculpa para o conflito, e sim, a prática terrorista promovida pelo hamas na faixa de Gaza. A criação de um estado palestino não iria resolver magicamente o conflito. Pelo menos ajudaria a amenizar um dos principais problemas [o territorial]. O restante teria de ser trabalhado com muita diplomacia internacional", completa.

Do ponto de vista israelense, está claro que o conflito na região está relacionaoa a um grupo bem específico. "A guerra não é entre o estado de Israel e os palestinos, e sim, do grupo terrorista hamas contra os israelenses", diz Marcos Brafman, presidente da Federação Israelita de Minas Gerais (Fisemg). Para ele, a questão do território também envolve os demais estados árabes, já que, como ele mesmo diz, há 20 anos, as áreas de Gaza e da Cisjordânia pertenciam ao Egito e à Jordânia, respectivamente, e nada foi feito para se dar uma identidade territorial aos palestinos.

"Para se ter uma ideia, o índice de desenvolvimento humano na Cisjordânia é maior que o do Egito. Então, ali, ao lado de Israel, tem-se o povo palestino vivendo bem. Ao invés de investirem em túneis e compra de mísseis, usam o dinheiro para o desenvolvimento, gastando com hospitais e escolas", conta o presidente da Fisemg. Esse seria um bom exemplo de como os palestinos, sob o governo do fatah, na figura do presidente da autoridade palestina Mahmoud Abbas, podem construir um país com capacidade de se desenvolver.

"Por outro lado, em 2006, quando Israel saiu totalmente da faixa de Gaza, o movimento terrorista hamas, financiado pelo Irã e pelo hezbollah [organização política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita com sede no Líbano], assumiu o governo da região, e começou a comprar mísseis e a jogá-los contra os israelenses", critica Marcos Brafman. Ele conta que até no estatuto do hamas consta como um dos principais objetivos da organização, a "destruição do estado de Israel".

Até agora, no conflito, já foram mortos 1831 palestinos e 67 israelenses – a grande maioria, soldados. Do lado muçulmano, quase todas as mortes são de civis, incluindo cerca de 300 crianças. Como explica o representante da comunidade judaica em BH, os terroristas do hamas estariam usando como pontos de disparo de projéteis, mesquitas, hospitais e escolas. "Eles têm mísseis de longo alcance, e miram a população civil. Só não temos, hoje, milhares de mortos, entre crianças e idosos, em Israel, porque temos o sistema de defesa, chamado de escudo de ferro", diz. Ele ainda fala sobre a busca da paz: "Enquanto o povo palestino em Gaza tiver como interlocutor um movimento terrorista, é muito difícil que se consiga o armistício.  Sempre, na história, que Israel teve um interlocutor interessado na paz, ela ocorreu, como foi o caso dos conflitosque tínhamos com o Egito e a Jordânia, que não mais existem".

Quem não vê uma solução a curto prazo para a guerra no Oriente Médio é o diretor da Federação das Entidades Árabes do Brasil (Fearab), Jean Skaf. Para ele, muito além das explicações religiosas ou territoriais, existem outros poderes atuando por trás do conflito: "Infelizmente a grande realidade é que os poderes econômicos querem prevalecer, e isso é próprio de qualquer guerra. O gasto bélico é um dividendo econômico. Quem morre, quem sofre, são os civis, que querem viver em paz, com ou sem território".

Além desse interesse da indústria de munições e armas, outro problema são os grupos radicais, que não querem a paz. "Impossível termos um território palestino unificado, enquanto existir a divisão entre o hamas e o fatah. Existe disputa de poder dentro da mesma região. Nem todos os palestinos sabem realmente como está a situação na área do conflito", explica Jean Skaf.

Uma coisa o líder árabe concorda com o representante judeu em BH: a atuação da ONU. Ambos lembram que a entidade está presente na região, mas nada fez para evitar a escalada da violência e da ofensiva terrorista do hamas, nem consegue demonstrar força para uma solução amigável. "A ONU é um factóide. Ela é manipulada e não é respeitada em lugar nenhum do mundo. Ela tenta ameaçar e impor embargos, mas não consegue", critica o diretor da Fearab. Ele chega ao ponto de dizer quem nem um "gênio da lâmpada" conseguiria resolver a falta de consenso que existe na região.

"Acho que leva, no mínimo, 20 anos para que se amenizem as rixas e a raiva dos palestinos mais radiciais", afirma.

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