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Estado de Minas PATRIMÔNIO

Após três anos de trabalho de restauração, Presépio do Pipiripau será reinaugurado

A grande obra de Raimundo Machado, conhecida em todo o Brasil, poderá ser visitada novamente no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG


postado em 25/04/2017 08:50

O Presépio do Pipiripau começou a ser criado em 1906, pelas mãos do artesão Raimundo Machado Azeredo. Em 2014, teve início sua restauração e, agora, será entregue de volta ao público(foto: Tati Motta/Boletim UFMG/Reprodução)
O Presépio do Pipiripau começou a ser criado em 1906, pelas mãos do artesão Raimundo Machado Azeredo. Em 2014, teve início sua restauração e, agora, será entregue de volta ao público (foto: Tati Motta/Boletim UFMG/Reprodução)
A mistura da narrativa da vida de Cristo com a reprodução de aspectos do cotidiano mineiro do início do século XX, que tanto encantou gerações de crianças e adultos, está de volta. Com suas 45 cenas, 586 personagens e cerca de três mil objetos, o Presépio do Pipiripau, instalado no Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, será reinaugurado ainda em abril depois de um minucioso processo de restauração.

A revitalização do Pipiripau, que passou a contar, entre outras melhorias, com patamares de madeira livres de infestação de insetos, estrutura elétrica mais segura e materiais com tecnologia de ponta, foi coordenada pelo Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais da Escola de Belas Artes, com participação de cerca de 30 bolsistas do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFMG. A reforma também aglutinou o esforço voluntário de professores e estudantes da Escola de Engenharia, além de outros profissionais e empresas.

Segundo o reitor da UFMG, Jaime Ramírez, o presépio é um dos maiores patrimônios da cultura mineira, a obra da vida de um grande artista popular, o artesão Raimundo Machado Azeredo. "As cenas e personagens que ele construiu aliam a religiosidade do nosso povo, a simplicidade de seu cotidiano e o deslumbre com os engenhos. À medida que ia mantendo contato com as tecnologias, que rapidamente se sobrepunham no século XX, foi incorporando-as à instalação, sempre com objetivo de possibilitar uma nova representação. Para a UFMG, é um orgulho devolvê-lo restaurado à cidade de Belo Horizonte", afirma o professor.

O projeto de restauração e modernização da obra foi aprovado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com financiamento regulamentado pela Lei Rouanet. A captação, iniciada em 2005, foi firmada com o Instituto Unimed, em dezembro de 2011, no valor de R$ 565 mil. Em janeiro do ano seguinte, o presépio foi fechado para execução do diagnóstico para a restauração. A partir daí, foram elaborados os projetos complementares, como instalações elétricas, hidráulicas e de prevenção a incêndio, segurança eletrônica, sonorização, sinalização de emergência, entre outros. A restauração começou em 2014 e foi finalizada no mês de fevereiro de 2017.

Milho, musgo e folhas

O Pipiripau começou a ser construído em 1906, quando Raimundo Machado Azeredo, que tinha apenas 12 anos, acomodou uma pequena imagem do Menino Jesus em uma caixa de papelão e compôs sua manjedoura com cabelo de milho, musgo e folhas. Ao longo das décadas seguintes, o presépio ganhou personagens e adereços feitos de materiais do cotidiano, como barro, papel machê, gesso, tubo de pasta de dente, tampa de perfume, conchas, cacos de vidro, entre outros.

"Tudo foi construído por acumulação, não houve projeto prévio. A genialidade do artista é demonstrada em todo o presépio", comenta a professora Bethania Veloso, diretora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais. Com o passar dos anos, Raimundo Machado agregou outros autores à obra, como a esposa, Ermenegilda, e os filhos.

Muitos materiais originais da instalação tiveram de ser substituídos. "A vegetação natural era úmida, continha terra e trazia para o presépio insetos e cupins de solo. Além disso, tinha de ser molhada periodicamente, o que favorecia o surgimento de fungos e a oxidação das bases metálicas", comenta a restauradora Thaís Carvalho. Essa etapa demandou a aquisição de vegetação cenográfica artificial, muito semelhante ao musgo empregado pelo criador do presépio.

Ainda segundo ela, foi preciso costurar toda a nova vegetação em uma tela, posteriormente amarrada nas bases do presépio. A técnica, além de facilitar substituições futuras, dispensa o uso de cola, que "com o passar do tempo, torna-se ácida, amarela e provoca deterioração".

As lâmpadas incandescentes originais do presépio, que aquecem e podem queimar o papelão e a madeira da obra de arte, foram trocadas por similares de LED, que não geram calor. A estrutura metálica do Pipiripau, por sua vez, passou por procedimento semelhante à lanternagem de automóveis, com laminação e remoção da ferrugem.

A equipe do restauração da UFMG realizou várias análises químicas e radiografias das peças e estruturas, a fim de compreender as técnicas originais e manter a autenticidade da obra. Além disso, foram feitos registros fotográficos e pequenas filmagens prévias para ajudar na remontagem da cenografia. "Dessa forma, foi possível mapear a posição de todas as peças e, após seu tratamento, recolocá-las no lugar exato", afirma Thaís Carvalho. Ela relata que cada peça foi catalogada com "uma ficha, como se fosse um prontuário médico, em que foram diagnosticadas todas as patologias e danos".

Como muitos dos bonequinhos de plástico estavam correndo risco de quebrar, eles foram reproduzidos com o uso de resina de poliéster – material que, além de mais resistente, dificulta a propagação das chamas.

(com Boletim UFMG)

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