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Estado de Minas CIÊNCIA

Embrapa cria mamona sem veneno que serve para alimentação animal

A planta modificada geneticamente não contém a substância tóxica ricina


postado em 18/07/2018 10:46 / atualizado em 18/07/2018 11:02

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Cientistas da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia do Distrito Federal desenvolveram uma mamona (Ricinus communis L.) sem ricina, uma das substâncias mais tóxicas conhecidas (chega a ser citada na Convenção Internacional para Proibição de Armas Químicas), e que pode ser usada na alimentação animal. Os pesquisadores preveem que o novo material deve demorar, no mínimo, quatro anos para estar disponível no mercado.

Proteína presente na semente da planta, a ricina inviabiliza o uso da torta de mamona, subproduto do processamento do óleo da planta, na alimentação animal. A toxina também apresenta riscos durante o processo de obtenção do óleo, que é valorizado na indústria por sua alta qualidade e empregado em cosméticos, tintas, lubrificantes e vários outros produtos.

Por isso, mesmo sendo potencialmente interessante para a alimentação animal, a torta de mamona passou a ser descartada pelos produtores rurais por causa da substância tóxica que é encontrada exclusivamente nas sementes da planta.

O estudo da Embrapa foi conduzido pelo pesquisador Francisco Aragão e conseguiu gerar mamoneiras sem a presença de ricina por meio de silenciamento genético, técnica que permite "desligar" genes específicos – neste caso, os responsáveis pela produção do veneno.

Proteínas das sementes foram usadas em experimentos com ratos em uma quantidade de 15 a 230 vezes os valores da dose letal, suficiente para matar metade da população dos animais pesquisados, e todo o grupo sobreviveu sem sequelas. "Uma vez incorporado, esse resultado promoverá grandes impactos econômicos na cadeia produtiva da mamona e da produção animal, com inserção estratégica e competitiva na bioeconomia", diz Aragão á Agência Embrapa Notícias.

O teor de óleo nas sementes da mamona varia de 40% a 43%. Após a extração do produto, a torta resultante é utilizada como fertilizante orgânico, com baixo valor no mercado. Agora, esse mesmo subproduto, sem ricina, poderá ser usado na formulação de rações animais, elevando, assim, seu valor de mercado.

Próximos passos

Para que a mamona sem ricina chegue ao mercado, há diversas etapas a serem percorridas, segundo explica o pesquisador José Manuel Cabral, chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia do DF. "O próximo passo deverá ser a associação da Embrapa com empresa privada para incorporar a característica genética em cultivares de interesse comercial", comenta o especialista. Após essa fase, a ser desenvolvida em laboratórios e casas-de-vegetação, Cabral conta que será iniciada a etapa de experimentos em campo, para determinação dos parâmetros necessários para o registro dessas novas cultivares no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Em seguida, será necessário preparar o processo para aprovação pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). "Para percorrer todo esse caminho, o lançamento comercial da mamona sem ricina deverá demorar entre quatro a cinco anos, prazo necessário para cumprir todas as exigências da legislação brasileira", afirma José Manuel Cabral.

A mamona

A planta é a única fonte comercial de ácido ricinoleico, que apresenta o maior índice de viscosidade e estabilidade entre os óleos vegetais. Por isso, seu emprego é valorizado na indústria automobilística, em sistemas de freios, e até na aeroespacial, que o utiliza em forma de fluidos de aeronaves e foguetes.

O óleo de rícino, também conhecido como óleo de mamona, e seus derivados são utilizados na indústria química, farmacêutica, cosmética e de lubrificantes de alta qualidade.

Produção

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), os principais países produtores de mamona são Índia (74%), China (13%), Brasil (6,1%) e Moçambique (2,5%). Os maiores consumidores são China, Estados Unidos, França, Alemanha e Japão.

A produção brasileira na safra 2017/2018 teve um incremento de 23,7% em relação à safra anterior, atingindo cerca de 16,2 mil toneladas em uma área de pouco menos de 34 mil hectares. A principal região produtora é o nordeste, sendo que a Bahia responde por mais de metade da produção.

(com assessoria de comunicação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia )

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