Publicidade

Estado de Minas CIÊNCIA

Unicamp desenvolve vacina contra meningite e zika

A pesquisa inovadora já foi testada com sucesso em cobaias


postado em 30/08/2018 11:22 / atualizado em 30/08/2018 11:22

(foto: Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)
(foto: Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação)
Mais uma pesquisa promissora realizada no Brasil está chamando a atenção na internet. Desta vez, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp desenvolveram uma vacina que tem capacidade de proteger contra meningite meningocócica e contra o zika vírus. Os testes, realizados em cobaias, obtiveram resultados positivos – já foi feito até pedido de registro de patente. O estudo foi publicado na revista científca Scientific Reports.

De acordo com o professor Marcelo Lancellotti, orientador da pesquisa, a ideia do método que seria usado no desenvolvimento do protótipo da vacina surgiu quando ele estava em casa, lavando louça, e observou duas bolhas de sabão se juntando. Neste momento, o docente considerou que algo parecido poderia ser tentando em relação ao meningococo causador da meningite e o vírus da zika, dado que ambos apresentam estruturas químicas semelhantes. "O meningococo produz uma série de vesículas extremamente pequenas, que são parecidas com o que a gente conhece como lipossomo. Ou seja, são semelhantes às nossas membranas celulares. O zika vírus também apresenta uma membrana constituída por células do hospedeiro, com proteínas deste na superfície. Minha ideia foi juntar as duas estruturas, para verificar o que poderia acontecer", relata o cientista em entrevista para o Jornal da Unicamp.

A técnica escolhida para promover essa junção foi o cisalhamento, que consiste na agitação [aumento da energia cinética] como forma de promover a mistura das duas estruturas. "Obtivemos êxito, mas não sabíamos qual seria o resultado desse processo. Foi algo totalmente inovador. Depois de algum tempo, ao analisarmos a fusão, constatamos que as estruturas, agora fundidas, aumentavam de tamanho. Algo estava acontecendo, embora não tivéssemos uma ideia exata do que era", comenta o professor.

O passo seguinte foi usar a estrutura obtida na imunização de camundongos. "O que nós vimos foi que os animais desenvolveram anticorpos contra a bactéria, bem como contra o vírus da zika. Vale assinalar que nós só observamos a resposta imunológica. Não verificamos a reposta contra as doenças, uma vez que os camundongos não se infectam com zika nem com a meningite. De todo modo, constatamos que essa resposta imunológica não somente era alta contra os dois patógenos, como não causava qualquer comprometimento do DNA recombinante", explica a estudante Paula Martins, responsável pelo estudo.

Na técnica que utiliza o DNA recombinante, conforme a pesqusiadora, o gene do zika vírus é removido e em seguida introduzido na bactéria. O problema é que esse processo é bastante trabalhoso, custoso e demorado, principalmente no momento de escalonar a produção. Isso acontece porque as normas brasileiras e internacionais impõem dificuldades logísticas ao método. "A metodologia que desenvolvemos é mais simples e barata. Agora, precisamos avançar com a pesquisa. A próxima etapa corresponderá aos testes de escalonamento, para saber se conseguiremos produzir a vacina em escala industrial. Também precisamos entender melhor o mecanismo de funcionamento, o que já está sendo feito em trabalhos conduzidos por pós-graduandos", comenta Paula Martins.

Marcelo Lancellotti observa, ainda, que o protótipo desenvolvido na Unicamp, diferentemente de outras vacinas, não usa ovos embrionários na sua preparação. O método é completamente celular. "Isso evita problemas com alergias e efeitos colaterais e obviamente barateia o processo. Nossa vacina utiliza o vírus morto ou atenuado. Ainda não conseguimos separar totalmente a partícula viral no processo de fusão, mas acreditamos que alcançaremos esse objetivo com o aprimoramento da técnica. É preciso lembrar que a vacina ainda está longe de poder ser usada pela população, mas o protótipo tem se mostrado muito promissor", esclarece o professor.

(com Jornal da Unicamp)

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade