
Depois das edições de outono (abril a novembro de 2024) e primavera (novembro de 2024 a junho de 2025), é a vez do inverno, período em que o recolhimento e a contemplação guiam a experiência. Essa cadência está presente na prática de Paulo Nazareth, que reorganiza as obras para convidar o público a um olhar atento, ora voltado para si, ora para diferentes camadas da história. Com isso, ruínas vêm à tona, símbolos são ressignificados e fronteiras, visíveis e invisíveis, se revelam em um diálogo entre passado, presente e futuro.
Entre os destaques da fase de inverno está “Medals of honor [or 49 medals + 1]” (2019), coleção de medalhas criadas pelo artista para homenagear lideranças indígenas e negras que resistiram ao domínio colonial em regiões de Abya Yala — nome ancestral para a América Latina. A obra apresenta medalhas em estojos de veludo vermelho, usando cores que remetem às bandeiras dos territórios onde essas figuras atuaram.
Outra obra que passa a integrar a exposição é “Mitologia modernista” (2025), desdobramento da série “Produtos de genocídio” (2010). Nela, objetos comerciais com nomes de povos ancestrais são preservados em resina sintética que imita âmbar, transformando-os em cápsulas do tempo que questionam os ciclos de apropriação simbólica e apagamento cultural.
No espaço externo, a instalação “Obra y trabalho” (2024–2025) será montada no Eixo Laranja, próxima a “Palm Pavilion” (2006–2008), de Rirkrit Tiravanija. Construída com andaimes, a estrutura cria um espaço de descanso com redes sob a sombra, trazendo ao público a possibilidade de pausa em meio ao espaço de trabalho, em sintonia com o inverno mineiro, de chuvas raras e brumas matinais.
A proposta de Paulo Nazareth em “Esconjuro” permanece voltada a ativar o espaço expositivo como lugar de presença e transformação. A mostra segue em cartaz até 2026, quando se encerra com a etapa de verão.
Trajetória da exposição
Na etapa de outono, entre abril e novembro de 2024, “Esconjuro” apresentou obras que abordavam formas de relação com a terra e seus ciclos, além de práticas de exploração e disputa no território. Entre os trabalhos estavam “Casa de Exu” (2015–2024), “Bananal” (2024), “Sambaki I e II” (2024), além de vídeos, pinturas, lambes e instalações que compuseram o conjunto inicial.
Em novembro de 2024, a primavera trouxe a primeira reconfiguração do espaço, com novas obras e experiências visuais. Um dos destaques foi a série “Notícias de América” (2012), que acompanha o artista em travessias pelo continente a pé e de carona, em diálogo com “Marco Temporal” (2024). A fase também incluiu a obra externa “Casas de pássaros” (2024), no Jardim Sombra e Água Fresca, com estruturas de madeira inspiradas na arquitetura modernista, pensadas como abrigo para aves da região. A estação trouxe ainda uma nova paleta ao espaço expositivo, utilizando o preto como símbolo de espiritualidade em contraste com o efum, pó calcário branco usado em rituais do Candomblé.