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Estado de Minas TRAGÉDIA DE BRUMADINHO

Água do Paraopeba está imprópria em 305 km do rio

Isso segundo relatório da Fundação SOS Mata Atlântica


postado em 27/02/2019 09:21 / atualizado em 27/02/2019 09:26

(foto: Alexandre Rezende/Encontro)
(foto: Alexandre Rezende/Encontro)

De acordo com relatório divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica, nesta quarta, dia 27 de fevereiro, o nível de cobre nas águas do rio Paraopeba, em Minas Gerais, chega a ser 600 vezes maior do que o permitido em redes fluviais usadas para o abastecimento humano, irrigação de culturas, pesca e atividades de lazer.

O limite aceitável de cobre é 0,009 mg/l (miligramas por litro), mas variou de 2,5 a 5,4 mg/l nas 22 amostras recolhidas pela SOS Mata Atlântica em expedição realziada ao longo de 305 km do Paraopeba.

A conclusão do relatório é de que o rio perdeu a condição de importante manancial de abastecimento público e usos múltiplos da água em razão das 14 toneladas de rejeitos de minérios arrastadas e depositadas nele após o rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), ocorrido no dia 25 de janeiro.

Segundo o levandamento da fundação, 112 hectares de florestas nativas foram devastados por causa da lama de rejeitos, sendo 55 hectares de áreas bem preservadas.

"Os metais que nós encontramos [no Paraopeba] são ferro, cobre, manganês. Não fazem mal à saúde em pequenas quantidades. A diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem. Eles se tornaram tóxicos por conta da quantidade que temos na água, muito superior ao que é determinado por lei", comenta a bióloga Marta Marcondes, professora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, em entrevista à Agência Brasil.

O consumo de quantidades relativamente pequenas de cobre pode provocar náuseas e vômitos, mas, se ingeridas em grandes doses, podem causar danos nos rins, inibir a produção de urina e gerar anemia devido à destruição de glóbulos vermelhos, segundo o relatório da SOS Mata Atlântica.

A bióloga explica que altos níveis de cobre causam oxidação de vitamina A, o que provoca a redução de vitamina C no organismo. Com isso, podem surgir dores musculares, fadiga, distúrbios de aprendizado e até potencializar quadros de depressão. "O cobre ocasiona muito o processo de depressão. Imagina uma pessoa que perdeu família e tudo que ela tinha, tem um acúmulo de cobre e já está em um processo depressivo, isso vai potencializar tudo isso", diz Marta Marcondes.

Além de ferro, manganês e cobre, foi encontrado nível de cromo até 42 vezes maior do que o aceitável na legislação, que seria 0,05 mg/l. Como consequência, o consumo desse metal pode causar efeitos mutagênicos e até morte. "O cromo é um dos mais perigosos porque ele vai alterar a questão genética dos organismos e também pode afetar o sistema nervoso. Isso tudo com certeza vai alterar todo processo de homeostase [equilíbrio do organismo], podendo ocasionar, por exemplo, lesões no sistema nervoso e doenças degenerativas", afirma a especialista à agência estatal de notícias.

Alerta

O rio Paraopeba era responsável por 43% do abastecimento público da região metropolitana de Belo Horizonte. Diante da impossibilidade de uso de suas águas em pelo menos 305 km de seu leito, a SOS Mata Atlântica apela para que a comunidade economize o recurso hídrico, mesmo que o abastecimento esteja sendo realizado por afluentes que não foram contaminados, por cisternas e poços.

"Mesmo tendo outros rios, [é importante que] as pessoas economizem, porque a gente não sabe por quanto tempo não vai poder se utilizar a água do Paraopeba e quanto tempo esses outros rios têm condições de atender as necessidades dessas comunidades afetadas. É uma situação de emergência", comenta Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica, também em entrevista à Agência Brasil.

Outra questão que requer atenção, segundo a especialista, é a maior proliferação de doenças que têm como vetores os insetos – como dengue, zika, chikungunya e febre amarela –, na região da bacia do rio Paraopeba.

"Porque, como a fauna que existia no ambiente do Paraopeba, os peixes, os anfíbios, os predadores dos insetos morreram, vai haver um aumento de insetos. E com isso aumenta o risco de doenças causadas por esses vetores", adverte Malu, lembrando da vacinação e do cuidado no armazenamento de água.

(com Agência Brasil)

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