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Estado de Minas MEIO-AMBIENTE

Cientista descobrem fungo que dizimou inúmeros anfíbios

Micro-organismo causou a extinção de ao menos 91 espécies


postado em 29/03/2019 09:12 / atualizado em 29/03/2019 09:15

(foto: Pexels)
(foto: Pexels)

Um estudo conduzido por pesquisadores de 16 países, publicado na última quinta, dia 28 de março, na revista científica Science, aponta que um fungo microscópico encontrado na água, responsável por uma doença infecciosa conhecida como quitridiomicose, provocou nos últimos 50 anos a redução das populações de, pelo menos, 501 espécies de anfíbios em todo o mundo. A estimativa é de que 91 delas tenham sido extintas. No Brasil, no mínimo 50 espécies foram afetadas, sendo que 12 foram extintas e 38 sofreram com a perda populacional.

De acordo com a pesquisa, em algumas populações de anfíbios no mundo, as espécies ficaram restritas a menos de 10% da distribuição original. Os pesquisadores estimam que pelo menos 6,5% das espécies conhecidas de anfíbios sofreram declínios causados pelo fungo. De acordo com o pesquisador Luís Felipe Toledo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coautor do estudo, citado pela Agência Fapesp, a perda de biodiversidade pode ser ainda maior, pois o fungo patogênico só foi descoberto em 1998.

"O pico de declínio aconteceu nos anos 1980. O registro dos dados ficou meio deficiente, então deve ter até mais espécies que sofreram, mas a gente não sabia que isso estava acontecendo. Não se fazia o monitoramento das populações na natureza para acompanhar e ver que estavam ocorrendo declínios", esclarece o cientista. O estudo foi desenvolvido por meio de coleta de dados e pesquisa histórica em museus. "A gente consegue saber como estava a prevalência do fungo nos locais e nas épocas. A gente viu que, quando o fungo aumenta, as espécies são extintas. Conseguimos listar essas espécies que tinham sofrido por causa do fungo. Isso foi feito no mundo todo", completa Toledo.

O professor da Unicamp acrescenta que, no Brasil, é possível perceber, por meio dos dados coletados, um aumento da quantidade de animais infectados entre meados da década de 1970 e metade dos anos 1980. "Os fungos já existiam aqui, aí alguma coisa aconteceu e eles mataram mais animais. O micro-organismo pode ter evoluído ou pode ter chegado uma nova cepa desse fungo, pode ter havido alguma alteração climática que o afetou de alguma maneira", diz o pesquisador, esclarecendo que não se sabe ao certo o que ocorreu.

As conclusões apresentadas no artigo recém publicado se baseiam também em revisão da literatura e consultas a especialistas, além do uso da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).

Impactos

A diminuição da população de anfíbios e até mesmo a extinção de espécies provocam desequilíbrio no meio-ambiente, tendo em vista que eles estão no meio da cadeia alimentar. "Você tem os grandes predadores, que são os mamíferos, répteis, aves, que se alimentam de anfíbios. Por outro lado, eles comem um monte de insetos e outros invertebrados", comenta Luís Felipe Toledo à Fapesp. Ele acrescenta que, do ponto de vista dos seres humanos, por exemplo, os anfíbios são controladores de pragas agrícolas e outros mosquitos transmissores de doenças, como Aedes aegypti, vetor de arboviroses como dengue, chikungunya e zika.

O cientista lembra ainda que em alguns países os anfíbios são um item alimentar importante e são usados também no desenvolvimento de remédios. "Existe um componente que estava sendo desenvolvido para tratar úlcera e gastrite a partir de um sapinho da Austrália, mas ele foi extinto pelo fungo".

A hipótese defendida pela maior parte dos especialistas envolvidos no estudo é de que uma linhagem virulenta do fungo originária da Ásia tenha chegado à América Central no último século e se disseminado para o continente sulamericano. Este processo, segundo os estudiosos, foi favorecido pelo transporte dos anfíbios – tanto para consumo humano, quanto para o mercado de bichos de estimação. "Uma das medidas práticas seria somente fazer comércio de rãs congeladas, e não vivas. A Europa, por exemplo, já adotou essa medida, mas não no Brasil e nos Estados Unidos, que são um dos maiores importadores do mundo", afirma Toledo.

(com Agência Fapesp e Agência Brasil)

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