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Estado de Minas USP

Estudo desmistifica a ideia de 'no pain, no gain'

Exercício de força não precisa ser doloroso para ter eficácia


postado em 05/11/2018 10:16 / atualizado em 05/11/2018 13:14

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

"No pain, no gain [sem dor, sem ganho]", diz um ditado muito comum no universo da musculação. Fisiculturistas e praticantes de atividade física costumam acreditar que o "dano" é essencial para o aumento de massa muscular. Porém, uma pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte da USP mostra que não há relação entre lesões no treino e crescimento dos músculos. Eles vão crescer apenas com o aumento da síntese proteica após a redução das lesões no decorrer do treinamento, informa o pesquisador Felipe Damas, responsável pelo estudo, e entrevista ao Jornal da USP.

O dano muscular (ou microlesões adaptativas na musculatura) envolve também perda de função muscular no curto prazo e dor tardia na musculatura pós-treino. "A pesquisa investigou se o dano muscular induzido pelo treinamento de força [com pesos] tem algum papel na hipertrofia muscular [aumento da área muscular], ou seja, se o dano seria o processo que explicaria como nossos músculos crescem com o treinamento de força ou se ao menos potencializa o processo de crescimento muscular", comenta Damas.

Segundo o pesquisador, até recentemente a crença de muitos cientistas, treinadores e praticantes de fisiculturismo era de que o dano muscular seria o processo por trás do crescimento dos músculos com o treino. "Essa crença se intensificou com o ditado 'no pain, no gain', ou seja, sem dor, sem ganho. A pesquisa trouxe informações que refutam essa premissa, demonstrando que o dano muscular não é o processo que explica a hipertrofia muscular, nem mesmo a potencializa", diz o autor do estudo ao Jornal da USP.

Avaliação

A pesquisa avaliou 10 homens jovens que realizaram treinamento de força durante 10 semanas. "Todas as variáveis envolvidas na pesquisa [taxa de síntese proteica, dano muscular e hipertrofia muscular] foram medidas no começo, na terceira e na última semana de treino. Com isso, pudemos avaliar como estas medidas variam no decorrer do treinamento e as relações entre elas", relata o cientista, que contou também com apoio da Universidade McMaster, do Canadá.

A taxa de síntese proteica, que mostra o quanto de proteína está sendo incorporado na musculatura no decorrer do tempo, foi avaliada por meio de biópsias musculares, coletas de saliva e ingestão de água pesada. "O dano muscular foi verificado por meio de marcador direto [microlesões presentes nas biópsias musculares] e marcadores indiretos [perda de força muscular, aumento de dor tardia, alguns marcadores sanguíneos de lesão e inflamação]. A hipertrofia muscular foi apontada por meio da área das fibras musculares e análise da área de secção transversa muscular por ultrassom", conta o autor do artigo, que foi publicado no site especializado PubMed.

Os resultados da pesquisa indicam que o dano muscular faz com que a taxa de síntese de proteínas seja utilizada para reparar o tecido muscular, e não para fazê-lo crescer. "Somente quando o dano muscular é progressivamente diminuído, o que acontece com o passar das sessões de treino, é que a síntese de proteínas é ‘liberada’ para contribuir com a hipertrofia muscular. Desta forma, o dano parece impedir que o músculo cresça, e só quando o dano é atenuado ou mesmo inexistente, a taxa de síntese de proteínas é direcionada para aumentar a área muscular [hipertrofia muscular]. Ou seja, sem dor, com ganho", afirma Felipe Damas.

Treinamento

Com base nas conclusões do estudo, treinadores e praticantes de treinamento de força podem modular melhor seus treinos, segundo o pesquisador. "Por exemplo, eles podem começar nas primeiras semanas com treinos mais 'leves', não necessariamente só em termos de intensidade ou peso, mas que não acarretem tanto dano muscular, como contrações concêntricas ou isométricas isoladas, baixo volume de treino etc.. O interessante é que o dano é rapidamente atenuado no decorrer do treino (em duas semanas já há pouquíssimo dano) e o praticante pode treinar ‘forte’, sem problemas, que a hipertrofia irá acontecer", orienta o pesquisador.

O cientista da USP lembra que o fato do dano muscular não explicar ou potencializar a hipertrofia, não quer dizer que não temos que treinar "forte", ou seja, com alto grau de esforço e fadiga. "Só indica que não precisamos sentir dor muscular para hipertrofiar, podendo começar 'leve', evitando tanto dano e dor, para nas próximas semanas treinar com altos graus de esforço e fadiga que maximizarão a hipertrofia muscular no médio e longo prazo".

(com Jornal da USP)

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