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Estado de Minas MERCADO

Food trucks enfrentam desafios para se estabelecerem nas ruas de BH

Empresários e chefs se mobilizam para trazer autênticos food trucks para BH. Projeto de lei já foi protocolado na Câmara Municipal. Saiba como funciona o universo da comida de rua e suas particularidades na capital mineira


postado em 11/03/2015 09:14 / atualizado em 31/10/2016 13:41

Márcio Silva e Jorge Gonzalez são os sócios/chefs/motoristas do Buzina Food Truck: um dos primeiros carros autênticos está em SP(foto: Renata D'Almeida/Divulgação)
Márcio Silva e Jorge Gonzalez são os sócios/chefs/motoristas do Buzina Food Truck: um dos primeiros carros autênticos está em SP (foto: Renata D'Almeida/Divulgação)
Um chef insatisfeito com os rumos do restaurante em que trabalha resolve servir receitas na rua, em um food truck. É o roteiro do filme Chef, que foi exibido nos cinemas no ano passado, mas a história tem feito parte da vida cotidiana em muitas grandes cidades – aliás, o longa é baseado em fatos reais. Se o argumento não for a briga entre o chef e o dono da casa, como na telona, há outros pontos para motivar a abertura desse negócio que deve mudar, em breve, também a cara da comida de rua em Belo Horizonte. Em 2013, o município de São Paulo saiu na frente e foi o primeiro do país a regulamentar a prática. Em vigor desde maio, a lei permite a comercialização de todo tipo de alimento em caminhões com o comprimento máximo de 6,30 m e largura de 2,20 m. Por aqui, empresários, chefs, consultores e vereadores já se uniram para efetivar que isso aconteça de forma similar.
O filme Chef, de 2014, mostra bem a realidade da comida de rua e serve de inspiração para muitos aventureiros na gastronomia regional(foto: Imagem Filmes/Divulgação)
O filme Chef, de 2014, mostra bem a realidade da comida de rua e serve de inspiração para muitos aventureiros na gastronomia regional (foto: Imagem Filmes/Divulgação)

Ao pé da letra, food truck quer dizer caminhão de comida, porém o conceito engloba mais que isso. Popularizados nos Estados Unidos, sobretudo após a crise imobiliária que expulsou donos de restaurantes e chefs de seus “hábitats”, em 2009, os automotores ganharam fama em razão das opções rápidas e acessíveis de pratos e lanches gourmet – que usam produtos nobres e são feitos com técnicas refinadas. Para que isso ocorra, é necessário criar uma espécie de minicozinha industrial sobre rodas, com itens como fogão, freezer, chapa, fritadeira, forno, geradores, coifas e toda linha de serviço, além de sistemas hidráulico e de detritos independentes.
Clique para ampliar e conhecer o funcionamento de um food truck(foto: Editoria de Arte/Encontro)
Clique para ampliar e conhecer o funcionamento de um food truck (foto: Editoria de Arte/Encontro)

Os defensores do food truck contam que o maior benefício é a redução dos custos, como impostos e aluguel. Em média, eles apontam que a abertura de um restaurante sofisticado rentabiliza cerca de R$ 700 mil na capital mineira, ao passo que uma unidade do food truck equipada ficaria em torno de R$ 180 mil. “Eu tenho um restaurante de custo fixo mensal de R$ 30 mil; na rua, vou gastar R$ 2 mil”, diz o chef Felipe Corrêa, do Dip’s Burguer, que montou sua casa de hambúrgueres artesanais em um espaço fixo, no Santo Antônio, devido à ausência de uma legislação específica em BH. “Hoje, vendo sanduíches entre R$ 25 e R$ 40 e, com o food truck, creio que cairia para R$ 15”, explica ele, que já está legalizando um veículo em São Paulo.
(foto: Editoria de Arte/Encontro)
(foto: Editoria de Arte/Encontro)

Outro ponto positivo é a divulgação da marca em diferentes locais, o que amplia a possibilidade de fidelização do público. “Quando uma casa abre e o ponto não funciona, ele fica empacado e os equipamentos estragam. Com o carro, há a vantagem de se montar uma cozinha com qualidade e levá-la para qualquer lugar”, diz o administrador da página do Facebook Comida de Rua BH (um dos primeiros pontos de encontro dos entusiastas), chef Flávio Dornas. Ele também defende que o movimento valoriza o costume de alimentar-se na rua, enquanto sonha em abrir um para, “de repente, servir paella com ingredientes daqui”, explica.

Na opinião do consultor e administrador da página do Facebook Food Truck Brasil, Josias Reis, que vivenciou os food trucks quando morava em Nova York e está envolvido no movimento em São Paulo e em Minas, a tendência é o fortalecimento com o interesse de outros empreendedores. “Rio, Curitiba, Brasília e Recife estão se mobilizando também”, diz.

Na capital paulista, o movimento para legalizar os “caminhões” começou depois que os primeiros apareceram nas ruas e em espaços privados. Em BH, o grupo de entusiastas preferiu procurar integrantes do Legislativo, especialmente os vereadores Marcelo Aro (PHS) e Pablo César de Souza (Pablito-PV), na intenção de estrear dentro da lei. “O food truck já é uma realidade nos Estados Unidos, na Europa, e não adianta querermos não enxergar o que é visível, é uma tendência mundial”, diz Aro.

A base do projeto, protocolado na Câmara Municipal em julho, é similar à lei paulistana, mas o grupo também observou a legislação internacional e itens do Código de Posturas de BH, que já traz considerações sobre alimentos vendidos nas ruas (veja box com as propostas).

Representantes da prefeitura se reuniram com os entusiastas em abril, dois meses depois da primeira audiência pública. “Fizemos uma apresentação de como é e como funciona o food truck. Cada representante, como BHTrans, Guarda Municipal, disse que não via problema na iniciativa”, comenta o ex-proprietário do bar Particular, Luigi Russo, que estudou as leis norte-americanas e europeias e ficou responsável pela minuta que deu origem ao projeto. “A lei de BH está obsoleta porque o avanço da tecnologia sobre rodas dá possibilidade para manipulação de muitos alimentos”, diz. Luigi também pretende abrir um food truck, mas ainda não definiu exatamente o que vai fazer: “Estou estudando e acredito que possa ser algo revolucionário”, diz. Ele pretende investir cerca de R$ 250 mil para montar o seu caminhão, com sistema de energia solar com autonomia de 12 horas e coleta de resíduos.

Segundo Aro, até que o projeto de lei entre em vigor, ainda há um processo, que deve consumir, ao menos, este semestre: primeiro, é necessária sua aprovação por comissões específicas, depois votação no plenário e, por fim, sanção ou veto do prefeito.
(foto: Editoria de Arte/Encontro)
(foto: Editoria de Arte/Encontro)

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