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Estado de Minas PANDEMIA

Como está a vida de mineiros que vivem no exterior

Muitos não têm previsão de vinda ao país natal, porque o Brasil está na lista de "países de alto risco" de várias nações


postado em 28/06/2021 17:47 / atualizado em 28/06/2021 18:02

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(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Vacinados, sem necessidade de uso de máscaras, eventos com dezenas e até centenas de pessoas já autorizados, com público imunizado e testado. Essa é a realidade de alguns mineiros neste momento, em determinados países. Em outros, ainda há restrições e obrigatoriedade de uso de máscara, poucas possibilidades de encontros e com a vacinação começando a deslanchar.

Muitos desses conterrâneos não têm previsão de vinda ao país natal, porque o Brasil está na lista de "países de alto risco" de várias nações. Isso significa que, ao retornarem ao local onde moram, seria necessário cumprir protocolos complicados e exigentes - e nem sempre viáveis. Adaptação à vida um pouco mais normal, saudade dos amigos e familiares brasileiros e preocupação com o momento pelo qual estamos passando por aqui estão entre as questões desses mineiros pelo mundo. Confira:

Maria Rita Antunes Col, 37 anos, assistente financeira
Londres, Inglaterra

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Eu moro em Londres há 7 anos e meio. Moro em uma região bem central com meu noivo. Passamos toda a pandemia aqui e apesar de a família do meu noivo morar a pouco mais de uma hora de distância, ficamos mais de 6 meses sem nos encontrarmos por causa das restrições. Desde março de 2020 tivemos 3 lockdowns em Londres. O último foi em janeiro deste ano, e durou quase 4 meses durante o inverno. Não foi um período fácil, passamos 4 meses em um apartamento podendo apenas sair pra ir ao supermercado ou parque, o que foi bastante desafiador. Além disso, tive que cancelar minhas viagens ao Brasil e não vejo minha família desde janeiro de 2019.

Hoje, aproximadamente 64% da população do Reino Unido já foi vacinada com uma dose e 47% com duas. Eu já fui vacinada com a primeira dose e a segunda está agendada para julho. Ainda assim, não temos viagens marcadas para este ano na Europa, devido às restrições, e muito menos para o Brasil, já que, na volta para Londres, devemos nos hospedar em um hotel (pago por nós, e custa caro) por 10 dias, como forma de quarentena, ao retornar de países na lista vermelha, que inclui o Brasil.

O fim de todas as restrições foi adiado de 21 de junho para 19 de julho devido ao recente aumento no número de casos. Hoje algumas poucas restrições ainda estão em vigor, mas a vida parece estar voltando ao normal. Podemos ir a bares, restaurantes e cinemas (ainda com distanciamento social e capacidade reduzida), encontrar com alguns amigos fora e dentro de casa e casamentos podem ser realizados com um número maior de convidados. Eventos esportivos, shows e teatros também podem ser realizados com capacidade reduzida. Ainda devemos trabalhar de casa se possível e usar máscaras em estabelecimentos fechados e transporte público. Além disso, temos acesso a testes rápidos gratuitos que são sempre úteis quando vamos nos encontrar com outras pessoas que não fazem parte da nossa bolha.

Raphael Brescia, 37 anos, engenheiro
Dublin, Irlanda

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Cheguei em Dublin em janeiro de 2021, no meio do inverno, com o país no nível mais alto do lockdown (nível 5). Somente serviços essenciais como farmácias, supermercados, telecomunicações estavam funcionando presencialmente. Existia uma restrição de circulação de pessoas, só era permitido sair para motivos essenciais e para se exercitar num raio de 5km de casa. Mudar de emprego e de país por si só já é um desafio. No meio de uma pandemia, foi ainda mais desafiador.

A pior parte foi estar longe da minha esposa e da minha filha. Tomamos a decisão de que eu viria na frente para alugar a casa, porém, logo após minha chegada aqui, as regras de imigração foram alteradas, em especial para países considerados de "alto risco", como o Brasil. Minha família acabou ficando "presa" no Brasil. Somente em meados de junho os processos de reunificação familiar foram retomados e agora estou contando os dias para a chegada da minha família.

Hoje ainda existem algumas restrições em vigor, mas o país vai dando sinais de retorno a um certo grau de normalidade. Existe uma expectativa grande para o dia 5 de julho, data em que os restaurantes e pubs poderão receber clientes novamente em seus espaços internos. As pessoas aqui tem uma relação muito forte com os seus pubs do coração, é uma parte importante da cultura local, e por isso estão todos ansiosos para beber uma pint de Guinness. O verão chegou, a temperatura está agradável, então as pessoas têm aproveitado bastante para utilizar os espaços públicos como parques e praças. Finalmente consegui cortar o cabelo, depois de 6 meses!

Houve alguns problemas no início do programa de vacinação aqui, o que atrasou bastante o começo da aplicação, mas assim que o ritmo de entrega foi normalizado, a vacinação acelerou bastante, e hoje 20% da população é considerada totalmente imunizada. Além disso, 50% da população adulta já recebeu pelo menos uma dose. Recebi a primeira dose e devo tomar a segunda dose ainda na primeira quinzena de julho.

Barbara Nogueira Cesar Martins, 27, mestranda em Políticas públicas
Erfurt, Alemanha

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Moro em Erfurt, Alemanha, desde outubro de 2019. No final de fevereiro de 2020 eu viajei para o Brasil para um casamento. Ainda não havia lockdown nem no Brasil nem na Alemanha. Três semanas depois, começaram as restrições em BH. O casamento não aconteceu até hoje e a viagem de volta foi cancelada várias vezes. Voltei para Erfurt em junho de 2020, dois meses depois do planejado, e tive que fazer quarentena de duas semanas em casa.

A campanha de vacinação começou em janeiro e de forma bem lenta, porque o sistema de saúde não é tão capilarizado quanto o SUS. A partir de março, começou a acelerar o ritmo (atualmente, 50% da população já tomou ao menos a primeira dose e 30%, as duas doses. Eu já me vacinei com a primeira dose, estou aguardando a segunda). Com essa aceleração do ritmo, iniciou-se a reabertura gradual. Há pouco menos de um mês, restaurantes abriram. Atualmente, as medidas restritivas são uso obrigatório de máscara em lugares fechados (máscaras cirúrgicas ou equivalentes à N95, então aqui não se usa mais máscara de pano) e medidas de isolamento e testes para quem volta de viagem.

Antes de o comércio ser reaberto, o governo já havia disponibilizado centros de testagem rápida, com resultado que sai em 15 minutos. Assim que o comércio começou a reabrir, mas a vacinação ainda não estava tão ampla, uma das obrigatoriedades era você se testar. Era gratuito um teste por semana, e com o negativo você tinha o prazo de 24 horas para ir a restaurantes, lojas, entrar em estabelecimentos não essenciais que sejam fechados. Vejo que a questão da testagem e rastreio de contato tem uma diferença grande para o Brasil. Um exemplo: meu namorado foi a uma ótica aqui na Alemanha e alguns dias depois, recebeu uma ligação da loja avisando que o vendedor que o havia atendido tinha testado positivo para Covid-19. No mesmo dia, ligou uma pessoa da secretaria da saúde para explicar o procedimento, ele ficou sem poder sair de casa até se testar. Existe a possibilidade de alguém ir te fiscalizar, ver se você saiu de casa ou não.

Luiza Moreira, 28, engenheira civil
Dysart, Austrália

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Moro na Austrália há três anos e me mudei há seis meses de Brisbane para Dysart. Trabalho em uma mina de carvão. Passamos por um lockdown muito forte por uns dois meses, no ano passado, e eu fiquei em home office. Depois permitiram saídas para caminhadas, exercícios físicos, e aí gradualmente foram liberando as atividades. Atualmente, o que é preciso é fazer distanciamento social. Em Queensland, região onde moro, não precisamos de máscara para nada mais, até as baladas estão abertas, academia, bar, eventos.

Existe, ainda, um aplicativo do governo no qual você precisa fazer check-in nos lugares aonde vai. Isso permite um histórico para que possam te avisar por mensagem, caso alguém próximo a você tenha sido diagnosticado, e então você precisa se isolar. Os estados são bem independentes, então algumas regiões tiveram restrições mais rígidas, fronteiras estaduais fechadas segundo regras próprias.

Muita gente saiu da Austrália durante o período mais grave da pandemia, retornando ao seu país de origem. Por algum tempo, não era permitido voltar de forma alguma para cá. Agora, já se pode, caso seja residente permanente ou cidadão. Ainda assim, é preciso fazer quarentena e seguir os protocolos na volta. Os aeroportos são bastante controlados e é o único local (assim como dentro dos voos) em que é preciso usar máscara.

Como a situação está bem controlada, a vacinação não estava sendo tão priorizada e muitas pessoas não pretendem se imunizar. No meu estado, como foram poucos casos, muita gente nem conhece alguém que tenha contraído a doença. Por isso, acredito que talvez a cobertura vacinal não seja tão ampla. No país todo, atualmente, 22% da população já tomou a primeira dose e 3% está totalmente vacinada. Até o mês passado, quase ninguém se vacinava. Nessas últimas semanas é que começou a agilizar um pouco o processo. Imunizaram os idosos e agora o acesso está bem fácil, é só ir ao site se inscrever. Minha vacina está agendada para semana que vem.

Matheus Cacique Moraes, 37 anos, servidor público federal
Acra, Gana

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Moro em Acra há quase três anos. Aqui houve um lockdown de 4 ou 5 semanas bastante restritivo, com exército nas ruas e restrição severa de locomoção. Foi logo no início da pandemia, em março. De lá para cá, houve duas ondas, mas o número de casos e de mortes não foi tão alto.

Gana adotou uma política não negacionista e de transparência com os dados. O presidente, por quase 2020 inteiro, ia semanalmente fazer pronunciamento sobre a situação epidemiológica e as medidas adotadas. Nesse aspecto nos sentimos tranquilos. Foi relativamente tranquilo passar a pandemia aqui comparativamente a outros países, sobretudo fora do continente africano. Depois desse lockdown inicial houve relaxamento por parte da população e o uso de máscaras, embora até hoje seja obrigatório para entrar em lugares fechados, foi caindo um pouco. Para uma população de 30 milhões de pessoas, foram até agora 95 mil casos confirmados e menos de 800 mortes. Os serviços todos já funcionam normalmente, como escolas, restaurantes e bares.

Viajei três vezes nesse período da pandemia. Há uma série de medidas exigidas de quem viaja. É preciso fazer o RT-PCR para sair do país e quem chega no aeroporto internacional de Acra deve fazer o teste rápido por custeio próprio, 150 dólares, e esperar o resultado sair. Se der positivo, é preciso se isolar.

Eu já fui vacinado com duas doses em uma das viagens. Mas a cobertura aqui em Gana ainda é muito baixa, porque o país não tem condições de produzir internamente as vacinas e nem teve condições financeiras ou se antecipou para comprá-las. As doses têm vindo via Covax, programa da OMS que distribui vacinas gratuitamente. Acredito que menos de 1% da população tenha sido imunizada. Ainda assim, só conheço pessoas que tiveram sintomas leves, não conheço ninguém que tenha sido internado, por exemplo.

Nicolli Sorice Couto de Araújo, 33, fisioterapeuta
Gainesville, Estados Unidos

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Agora minha ocupação é "mãe", mas antes eu trabalhava em um Centro de Vida Independente, aqui na Flórida, promovendo atividades para jovens com deficiência. Moro nos Estados Unidos desde fevereiro de 2018. Em março de 2020, o meu local de trabalho fechou, e foi decretado lockdown na cidade. Eu mal saía de casa, apenas para ir ao supermercado, e enfrentava filas enormes, porque o número de pessoas para entrar nesses locais era reduzido. Para mim, foi muito difícil me adaptar ao trabalho online, e dar aulas e atividades em inglês, idioma que não é minha língua nativa, à distância.

Agora está ótimo. Aos poucos, quando a vacinação começou a acelerar nos EUA, eu comecei a me sentir mais segura para frequentar lugares abertos. As medidas foram sendo afrouxadas, e em março deste ano, depois de já estar completamente imunizada, eu tive até coragem de ir para a Disney. É muito libertador poder sair de casa sem máscara, apesar de ainda achar estranho. A obrigatoriedade do uso de proteção foi abolida em abril. Nos últimos 10 dias (período de 11 a 21 de junho) a Flórida registrou 0 morte por Covid-19. É muito bom ver os lugares voltando a ter vida na cidade com eventos ao ar livre. Os parques que eu frequentava já estão recebendo aulas de yoga, feirinhas, e outras atividades às quais eu costumava ir.

Tenho uma filha de 2 meses. Engravidei durante a pandemia, em agosto, e vivi toda a gestação dentro de casa. Ia nas consultas sozinha, porque não eram permitidos acompanhantes. Meu marido não pôde ver nenhum dos ultrassons que realizei no hospital, por exemplo. Na Flórida, 44% das pessoas já foram totalmente vacinadas, e 53% tomaram pelo menos a primeira dose. Eu fui vacinada grávida de 8 meses, em março de 2021.

Debora Vieira Fonseca Araujo, 32, administradora
Yamagata, Japão

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Meu marido é jogador de futebol e em 2020 ele veio jogar em um clube do Japão. Minha vinda para acompanhá-lo estava marcada para março, porém, com a pandemia, todos os planos foram frustrados. Tive que ficar no Brasil sem ter como vir para o Japão até final de setembro.

Quando cheguei, tive que ficar reclusa por uns dias em Tokyo, dentro de um hotel, sem poder sair do quarto. Eu recebia tudo dentro do quarto, pela porta. Foi muito difícil essa experiência, ainda mais por estar com a minha filha tão nova. Depois de chegar à minha cidade, Yamagata, tive que ficar mais 14 dias sozinha dentro de casa, sem encontrar ninguém, nem o meu marido.

Neste momento, está um pouco mais tranquilo. Já é possível irmos a outras cidades agora. Os locais públicos estão abrindo normalmente. Mas as pessoas aqui são bem disciplinadas, então todos os ambientes têm o máximo de cuidados.

Eu ainda não fui vacinada, porém, minha vez está marcada para a primeira semana de julho. E a vacina será da Moderna. Aqui na minha cidade o processo de imunização está lento. Menos de 10% da população está vacinada.

Bruna Barreto de Castro, 33, estudante
Perth, Austrália

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Vim para a Austrália para estudar inglês, em 2018, e estou aqui desde então. Passei o início da pandemia em Melbourne e depois me mudei para Perth. A gente não teve casos exorbitantes em Melbourne, mas tivemos um lockdown com uma restrição muito grande, no estágio 4. A gente ficou 5 meses dentro de casa, só podia sair para ir ao mercado ou para uma hora de exercício. Para trabalhar, era preciso ter um documento com assinatura, uma autorização. Foi muito difícil e desafiador para mim.

Meu visto acabou no ano passado, e eu precisei decidir entre renovar ou voltar para o Brasil. E então resolvi me mudar para Perth. No Brasil minha família passava por muitas dificuldades, perdi avó e pai para a Covid-19, além das questões financeiras, e isso impactou ainda mais minha vida aqui.

Perth é a cidade mais isolada do país e uma das mais isoladas do mundo, então não há casos de novo coronavírus aqui. Quando me mudei, Melbourne estava em status de baixo risco, com apenas 5 casos da doença, mas mesmo assim eu tive que fazer o que chamam de auto isolamento. Fiquei 15 dias isolada, sem poder sair de casa, e nesse período a polícia me visitou 2 vezes, para ter certeza que eu estava em casa. E mesmo assim, no décimo primeiro dia, para me mudar, precisei fazer um teste para garantir que eu não estava com Covid-19.

Eu estou trabalhando, não estou estudando porque pedi um afastamento em função do luto, então eu saio pouco, mas os mercados e baladas estão funcionando normalmente. A vida está normal aqui, parece que nada aconteceu. Apenas 4% da população está totalmente vacinada e 22% receberam ao menos uma dose). Eu ainda não fui imunizada, mas serei na próxima semana, pela Pfizer.

Laura Martins, 30, analista de relações internacionais
Bogotá, Colômbia

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Estou na Colômbia desde 2016, minha família está no Brasil. Em março de 2020 a prefeitura de Bogotá fechou a cidade, não era possível viajar de ônibus ou avião. Trabalhei em casa, só saía para ir ao supermercado. No final do ano passado começaram a reabrir alguns setores e quando as UTIs estavam 80% ocupadas, fechavam outra vez. O ano de 2021 começou com aumento dos casos de Covid e com muita pressão para abrir colégios e comércio. Em maio, começaram os protestos contra o governo, que queria passar uma reforma tributária aumentando impostos na cesta básica, internet, e outros itens básicos, além de uma reforma na saúde que incluía uma responsabilidade do paciente sobre a doença/acidente para definir se o seguro de saúde cobriria ou não os cuidados médicos, dentre outras coisas. Os protestos duraram um mês, e agora estão em pausa.

Voltando à Covid-19, os casos aumentaram, as UTIs estão ocupadas (90-100%), e o comércio está 100% aberto. A Copa América ia ser sediada aqui, mas não havia condições. Aqui estão vacinando as pessoas de 45+, pessoas com comorbidades e segunda dose de professores. E a câmara de comércio está registrando empresas que queiram comprar vacinas para seus funcionários.

A impressão que eu tenho é que como tudo está aberto e funcionando, a necessidade de sair de casa aumentou. Muitos por decisão própria, muitos por necessidade. Muita gente passou fome durante a pandemia e perdeu emprego e fonte de renda. Existe uma grande inconformidade com o governo. A Colômbia também recebe a maioria dos venezuelanos que saíram da Venezuela (segunda maior crise migratória do mundo). Em cada esquina tem uma família pedindo ajuda. Mas os colombianos são pessoas "echadas pa delante" como dizem aqui, não perdem a esperança.

Nathália Araújo, 26, professora
Lisboa, Portugal

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Nós tivemos dois lockdowns aqui, um começando em março de 2020, e um em fevereiro de 2021. Foi um tempo de muito medo e muita incerteza, mas o lado bom do lockdown foi que a grande maioria das pessoas respeitou as regras e com isso as coisas foram melhorando. O segundo lockdown foi consequência do fim de ano, quando as regras não foram tão rigorosas e os casos voltaram a aumentar em janeiro.

No momento já está praticamente tudo aberto e funcionando com as devidas restrições de cuidados pessoais, distanciamento e limite no número de pessoas em lugares fechados. Eventos que geram aglomeração por enquanto ainda não foram liberados. Na rua e durante as refeições em restaurantes não é obrigatório o uso de máscara, mas em todos os outros contextos sim. Nas escolas não exigem que as crianças do 4º ano para baixo usem máscara.

Este mês já estão vacinando pessoas acima dos 35 anos de idade, e no começo desta semana a informação era de que 28,7% da população já estava completamente vacinada, e quase 50% já tomaram pelo menos a primeira dose. Eu já tomei as duas doses da vacina porque sou professora, e como as escolas ficaram abertas por mais tempo na época do lockdown, nós entramos no grupo de prioridade da vacina.

Parece mesmo que o pior já passou, mas ainda há um pouco de incerteza, principalmente com relação às novas variantes. A esperança é mesmo de que a população esteja quase toda vacinada nos próximos meses para termos mais tranquilidade no dia a dia. Mas o coração continua apertado pensando na família que ainda está no Brasil, e fico ansiosa pra ver esse processo se desenvolver com mais rapidez lá.

Sandra Soares Sibaud, 46, jornalista
Paris, França

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Com quase metade da população adulta tendo recebido ao menos a primeira dose da vacina contra o Covid, a epidemia vem perdendo força na França. À medida que a vacinação avança, os indicadores que medem a gravidade da crise sanitária melhoram dia a dia. Resultado disso: desde meados de maio o país vem sendo "desconfinado" aos poucos. Primeiro foram reabertos os terraços dos cafés e restaurantes, fechados há mais de quatro meses.

Dias depois autorizou-se a abertura das áreas internas desses estabelecimentos, com lotação máxima determinada a partir da análise do tamanho de cada espaço. E desde o dia 16 de junho já não precisamos sair ‘mascarados’ às ruas - só usamos a proteção em lugares fechados. A chegada do calor no hemisfério norte coincidiu com a notícia de que o uso das máscaras cirúrgicas em lugares públicos seria suspenso. Essa coincidência fez com que o início do verão, sempre comemorado com entusiasmo pelos parisienses (são meses de inverno rigoroso e de uma primavera morna!) fosse ainda mais celebrado.

O clima nas ruas é de festa. Disputadíssimas, as mesas de bar recebem no máximo seis pessoas por vez - e quase nunca ficam vazias. No dia 21 de junho, dia da ‘fête de la musique’, em que os músicos são convidados a ocupar as ruas, teve até Carnaval brasileiro por aqui. Eu, meu marido (o arquiteto Guillaume Sibaud) e meus filhos (Thomas, de 10 anos, e Gaspard, de 6) fizemos questão de acompanhar o cortejo do bloco "Foliões Reunidos". Por um breve momento pareceu que a vida tinha enfim voltado ao normal... Mas seguimos atentos às estatísticas da doença e às variantes do vírus que vão conquistando espaço. A grande preocupação hoje na Europa é o possível crescimento da versão Delta do vírus, mais contagiosa, que surgiu na Índia e já provocou novas medidas de restrição na Inglaterra.

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