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Estado de Minas

Virou febre, mas não funciona


postado em 14/06/2012 12:36

Na onda do modismo, a gerente financeira Ana Paula Castilho sente que perdeu tempo  e dinheiro(foto: Samuel Gê, Maíra Vieira, Gladyston Rodrigues)
Na onda do modismo, a gerente financeira Ana Paula Castilho sente que perdeu tempo e dinheiro (foto: Samuel Gê, Maíra Vieira, Gladyston Rodrigues)

Dentre tantas fórmulas milagrosas que prometem emagrecimento rápido e sem esforço, a moda agora é o óleo de coco. Com a promessa de ajudar a perder até cinco quilos por mês e ainda queimar a gordura localizada, virou febre de consumo especialmente entre as mulheres. Tomado duas vezes ao dia em cápsulas ou na forma líquida, que pode ser usada também em saladas, sucos e vitaminas, teoricamente o óleo promoveria o aumento da saciedade e a consequente diminuição do apetite. Um de seus componentes, o TCM (Triglicerídeos de Cadeia Média), aumenta a utilização dos ácidos graxos livres (AGL) como fonte de energia para o organismo, reduzindo o armazenamento de gorduras ruins. Outra propriedade atribuída ao óleo de coco é a função termogênica, ou seja, a capacidade de aumentar a queima de calorias.  O preço do elixir do emagrecimento? Em média, R$ 60 o vidro de 500 ml, e R$ 40 o frasco com 60 cápsulas, ambos com durabilidade aproximada de 30 dias.

 

Além de caro, o produto é difícil de ingerir. Na forma líquida, tem gosto ruim e fica pastoso em baixas temperaturas. Já as cápsulas são grandes, e por isso algumas pessoas têm dificuldade de engolir.  Mas o pior vem com a  opinião dos especialistas da área, que são unânimes: até o momento, nenhum estudo científico comprovou a  eficácia do óleo de coco como emagrecedor e muitos menos a existência das propriedades que lhe são conferidas. “Nossa opinião oficial é de que o uso do óleo de coco no tratamento da obesidade não é recomendado, por sua ineficiência e por ser uma fonte de calorias”, enfatiza o endocrinologista Geraldo Santana, presidente do Instituto Mineiro de Endocrinologia. Outro alerta é que, se utilizado em excesso, pode provocar o efeito reverso ao esperado. Isto porque é rico em gordura saturada, que aumenta o nível do colesterol ruim. “Cada colher de sopa do óleo de coco contém 117 calorias, e a dose normalmente usada é de três colheres diárias, o que representa mais de 350 calorias extras por dia”, diz a nutricionista Caroline Fernandes.

 

A educadora física Glayce Cristina de Paula usa o óleo de coco para melhorar a função intestinal: “Mas para emagrecer, aposto mesmo é na malhação”
 

 

Mas, então, por que existem tantos relatos de pessoas que dizem emagrecer usando o produto? O nutricionista Flávius Vieira explica: “Uma das possibilidades é o efeito placebo, ou seja, ao começar a consumir o óleo de coco, inconscientemente o indivíduo reduz a ingestão de alimentos calóricos e, em alguns casos, também dá início à prática de atividade física, o que leva à perda considerável de peso e medidas”. Foi o que aconteceu com a cirurgiã dentista Isa Helena Silva Alvim, 25 anos. “Quando comecei a tomar o óleo de coco, passei a malhar uma hora e meia todos os dias e caprichei na dieta. Acredito que o produto possa até ter me ajudado a diminuir medidas.

 

Mas peso, perdi foi suando a camisa”, brinca. O estudante Thiago Lages Rosa, 27 anos, também resolveu experimentar o produto. “Fui pela indicação de parentes, mas não vi resultados. Como comecei também a praticar corrida diariamente, não acredito que tenha perdido peso por conta do óleo de coco”, diz.

 

O estudante Thiago Lages Rosa usou o óleo  de coco e se arrependeu: “Perdi peso foi praticando corrida”
 

 

Para a professora Rosana das Graças Carvalho dos Santos, mestre em Ciência de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a principal limitação dos estudos realizados sobre o óleo de coco é terem sido feitos por curtos períodos de tempo e em pequena amostra populacional. “Por isso, seu uso não é recomendado cientificamente”, explica. Mas a divulgação em massa feita em torno do composto tem levado várias pessoas a embarcar no modismo, entre elas a gerente financeira Ana Paula Castilho, 33 anos, que se arrependeu. “Tomei o óleo na forma líquida e em cápsulas, e até troquei a marca. Mas, no fim, percebi que a propaganda é muita, mas o resultado, nenhum”.

 

Apesar de os especialistas não recomendarem o uso do óleo de coco para o emagrecimento, eles concordam que o produto traz benefícios para a saúde. Por apresentar maiores níveis de colesterol bom (HDL) do que de colesterol ruim (LDL), em alguns casos é indicado em tratamentos de redução de gordura no sangue, podendo até substituir outras fontes de gorduras. “Embora o óleo de coco seja um tipo de gordura saturada, ele não é prejudicial do ponto de vista cardiovascular, por ser rico em ácidos graxos de cadeia média”, explica o endocrinologista William Pedrosa.

 

A cirurgiã dentista Isa Helena Alvim abandonou as cápsulas: “O jeito foi caprichar na dieta"
 

 

Segundo ele, os relatos de que o óleo de coco melhora o funcionamento do intestino podem ter fundamento, levando-se em conta que o consumo de qualquer tipo de óleo vegetal, como o de soja ou de oliva, deixa as fezes mais lubrificadas. “Mas também não é uma propriedade específica do produto”, alerta. Quem o utilizou para esta finalidade diz ter obtido resultado, como a educadora física Glayce Cristina de Paula, 41 anos: “Tomo o óleo de coco porque sinto que meu intestino funciona melhor e minha barriga fica mais enxuta. Mas, para emagrecer, aposto mesmo é na dieta e muita malhação”. Fórmula indicada por todos os especialistas a quem quer ter boa forma e saúde. 

 

 

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