
Ao longo dos últimos anos, as empresas do ramo têm avançado em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) que reposicionam seus empreendimentos e reforçam sua visão de futuro em busca de cidades inteligentes, eficientes e humanas, onde o impacto positivo é tão importante quanto o acabamento impecável. “Precisamos investir neste aspecto como uma cultura. Em nossos projetos, quando mantemos um ipê, uma jabuticabeira ou um pequizeiro no terreno, estamos preservando a natureza e a memória do lugar. Aquilo fica como legado vivo para o bairro”, diz o gestor de sustentabilidade da MRV, José Luiz Esteves.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, realizada no último mês de novembro em Belém (PA), governantes de 12 países se uniram a mais de 300 empresas e organizações da sociedade civil para endossar os “Princípios para a Construção Responsável em Madeira”, uma estrutura baseada em ciência que orienta o uso sustentável, desde a origem na floresta até a aplicação final nos canteiros de obras.
O movimento representa um avanço significativo na convergência dos esforços globais para transformar a indústria da construção civil, promovendo práticas que beneficiem simultaneamente o clima, a biodiversidade e as pessoas. Segundo o World Green Building Council, organização global que trabalha para promover a sustentabilidade, o setor responde por cerca de 34% das emissões globais de CO%u2082, mas também é uma das áreas em que a ação climática gera os benefícios mais amplos.
Ao adotar ações sustentáveis, as empresas não apenas reduzem emissões: elas criam empregos, melhoram a saúde pública, fortalecem a resiliência das cidades e abrem novas oportunidades econômicas. Trata-se, portanto, de um campo estratégico onde inovação e responsabilidade ambiental caminham lado a lado para transformar o futuro urbano.
Segundo Patrícia Veiga, as práticas ambientais da Patrimar estão efetivamente incorporadas aos empreendimentos, desde os de alto padrão até os de habitação popular. E são validadas por certificações internacionais de Excellence in Design for Greater Efficiencies (EDGE), excelência em design e eficiência, de organizações como o International Finance Corporation (IFC) e o Selo Casa Azul (Caixa), que avaliam soluções que abrangem eficiência hídrica, energética e o uso de materiais de baixo impacto.
Embora a Patrimar já desenvolvesse iniciativas de sustentabilidade, foi a partir de 2022 que o movimento ganhou estrutura, métricas e governança robusta. A publicação do primeiro Relatório de Sustentabilidade da empresa consolidou indicadores ambientais e sociais e estabeleceu metas claras de curto, médio e longo prazo. “Esse documento foi fundamental porque reforçou nossa transparência e nos permitiu acompanhar de forma contínua nossos impactos e avanços”, diz Patrícia.
O ciclo se fortaleceu ainda mais com a criação da Diretoria de Inovação e ESG em 2023 e, posteriormente, com o estabelecimento de um Comitê de ESG em 2025, passos que, segundo a executiva, mostram a importância estratégica do tema dentro do grupo. Entre os projetos que melhor simbolizam essa virada, o empreendimento José Torres Franco, no bairro Lourdes, é uma vitrine. O projeto alcançou o nível Advanced da certificação EDGE, reconhecimento concedido a edificações com índices de economia acima de 45% em energia, água e carbono incorporado. “É a prova de que é possível reduzir o impacto ambiental sem abrir mão da qualidade para o cliente”.


Na MRV, falar de ESG não é um anexo ao negócio. É o próprio negócio. Líder no segmento de habitação popular, especialmente no programa Minha Casa, Minha Vida, o grupo constrói para um público historicamente pouco valorizado pelo mercado imobiliário. E é justamente aí que entra a força do propósito: “Nossa missão é oferecer moradia digna, bem localizada e com menor impacto ambiental, sem perder de vista a viabilidade econômica”, diz José Luiz Esteves. Na construtora, o tema está diretamente ligado à remuneração variável da alta liderança e se desdobra por toda a empresa. “Todos os anos, definimos cinco metas de sustentabilidade que entram na remuneração variável da diretoria e vão sendo cascateadas para as demais áreas”, explica.

José Luiz destaca que a MRV foi pioneira em levar energia fotovoltaica para habitação de interesse social. “Temos meta de entregar 100% dos produtos com alguma solução de energia renovável”, afirma o gestor. A estratégia inclui placas solares nas áreas comuns, lâmpadas de baixo consumo e parcerias com geradoras de energia renovável para oferecer desconto na conta de luz. A água é outro ponto de atenção: a empresa busca reúso dentro do próprio processo construtivo, como na umidificação de canteiros, e soluções para uso em áreas comuns dos condomínios, na irrigação de jardins e limpeza. Em algumas cidades, há ainda projetos com reaproveitamento de água cinza (de lavatórios) para vasos sanitários.

Foi assim que surgiu o selo interno “MRV+ Verde”. “Em vez de simplesmente importar uma certificação, criamos um padrão nosso, adequado à realidade do Minha Casa, Minha Vida”, conta José Luiz. O selo avalia tanto práticas sustentáveis no canteiro de obras quanto soluções entregues ao cliente final. E, para garantir credibilidade, todo o processo passa por auditoria de terceira parte, independente. “Não basta dizer que é verde. A gente faz auditoria externa para comprovar que aquilo que falamos está de fato incorporado, da construção à entrega”, explica. Além disso, a empresa procura deixar um legado no entorno: áreas de convivência, paisagismo, acessibilidade e integração com a cidade.
Pilar inegociável
Para a PHV Engenharia, a preocupação ambiental deixou de ser diferencial e se tornou regra no setor da construção civil, tornando-se um caminho inevitável e estratégico. Quem explica é Marcos Paulo Alves, vice-presidente executivo da construtora, que coloca a sustentabilidade no centro da tomada de decisões da empresa. “Não dá para imaginar o sucesso de nenhum projeto sem o equilíbrio da sustentabilidade”, afirma. Ele lembra que, durante anos, qualquer empreendimento precisava se apoiar em três pilares básicos: resultado econômico, embasamento legal e desejo do mercado. Hoje, esse tripé ganhou um quarto elemento indispensável: a responsabilidade ambiental. “Esse pilar virou regra para o sucesso de qualquer negócio, e não pode ser diferente na construção civil”, completa.


Soluções sustentáveis aplicadas na construção civil
Certificações: EDGE (alto padrão) e Casa Azul (MCMV)
- Placas fotovoltaicas
- Iluminação LED com sensores
- Recarga para carros elétricos
- Reaproveitamento de água da chuva
- Irrigação automática
- Torneiras com temporizador
- Dual flush
- Medição individualizada por radiofrequência
- Projetos elétricos e hidráulicos otimizados
Indicadores monitorados
- Emissões de CO2
- Consumo de água
- Consumo de energia
- Resíduos: geração, destinação e reaproveitamento
- Capacitação de colaboradores
- Investimento social e comunitário