Estado de Minas FUTURO

Tecnologia transforma a forma de comprar imóveis em Belo Horizonte

IA, visitas virtuais e processos digitais mudam a jornada do cliente no mercado imobiliário, sem abrir mão do relacionamento humano e da segurança


postado em 19/12/2025 10:10 / atualizado em 19/12/2025 10:43

Reserva Green, novo empreendimento da Caparaó, atualmente em execução, preserva uma área de mata nativa dentro do próprio terreno (foto: Grupo Caparaó/Divulgação )
Reserva Green, novo empreendimento da Caparaó, atualmente em execução, preserva uma área de mata nativa dentro do próprio terreno (foto: Grupo Caparaó/Divulgação )
Não faz muito tempo que o processo de comprar um apartamento envolvia etapas e mais etapas, com visitas que tomavam um dia inteiro, muitas vezes infrutíferas, maquetes que permitiam uma visão muito geral, mas que não dava conta de detalhes, além de envolver papéis e mais papéis. A experiência parecia vinda diretamente de produções como “Família Dinossauro” ou “Os Flintstones”: burocrática, quase arcaica e muitas vezes frustrante. Agora, em um salto no tempo, já é possível visualizar projetos em detalhes, selecionar tipos de imóveis com ajuda de recursos de Inteligência Artificial e ter um processo de compra mais prático e até divertido. Imagine que, em breve, antes mesmo do apartamento estar pronto, será possível visitar seus cômodos por meio de tecnologias de realidade aumentada. Esse salto, para seguir com a analogia das séries de TV, parece nos levar diretamente para o universo dos “Jetsons”.
 
Em Belo Horizonte, construtoras e incorporadoras vêm trilhando esse percurso rumo ao futuro, porque entendem que o jeito de comprar um imóvel mudou – e continua mudando rapidamente.
 
"Vivemos o ápice da transformação digital. Mas o elemento decisivo continua sendo o relacionamento humano; a tecnologia potencializa, não substitui", afirma Alexandre Lodi, CEO do Grupo Caparaó (foto: Grupo Caparaó/Divulgação)
Esse movimento de constante “atualização de software” é prioritário, por exemplo, no Grupo Caparaó, que, nas palavras do seu CEO, Alexandre Lodi, vive “o ápice da transformação digital”. A empresa revisou processos internos, ampliou o uso de CRM, IA e plataformas de inteligência de mercado e hoje colhe resultados diretos: maior controle, eficiência e previsibilidade nas etapas comerciais, segundo o executivo. Lodi afirma que, a tecnologia permite identificar perfis com mais precisão e estruturar propostas mais assertivas – mas sem perder a essência: “O elemento decisivo continua sendo o relacionamento humano; a tecnologia potencializa, não substitui”, defende.
 
Hakken Residence, lançamento da Conartes de três quartos na Savassi(foto: Conartes Engenharia/Divulgação)
Hakken Residence, lançamento da Conartes de três quartos na Savassi (foto: Conartes Engenharia/Divulgação)
O diretor-presidente da Conartes José Francisco Cançado vai na mesma linha: “Valorizamos o ‘olho no olho’. Para nós, o contato direto continua sendo parte central da nossa forma de negociar”, diz, assinalando que a transformação tecnológica ocorre de forma progressiva na empresa, sempre com foco em clareza e segurança. Um exemplo, conta, é o “uso de tecnologias digitais para tornar toda a jornada de compra e venda mais ágil, eficiente e transparente”, incluindo a adoção de assinaturas digitais certificadas, o que garante autenticidade e rastreabilidade, reduzindo burocracias sem abrir mão da segurança jurídica.
 
"Valorizamos o 'olho no olho'. E temos também ampliado o uso de tecnologias digitais para tornar toda a jornada de compra e venda mais ágil, eficiente e transparente", afirma José Francisco Cançado, diretor-presidente da Conartes Engenharia (foto: Conartes Engenharia/Divulgação)
 
 
Já para Vitória Nejm, sócia-fundadora da Fataha, a digitalização dos processos precisa ser encarada de forma estrutural, não apenas instrumental. “Ela abrange toda a nossa cadeia de valor”, explica, detalhando que a empresa opera com IA, agentes autônomos e plataformas como Azure e Google Cloud, automatizando desde rotinas administrativas até análises jurídicas complexas. Um dos braços dessa estratégia é a Conecta, startup criada pela própria Fataha: “Ela integra etapas como financiamento, documentação e pós-venda, reunindo em uma única plataforma serviços que antes eram dispersos”.
 
A aposta é seguir por um caminho híbrido, defende Carolina Lara, gerente de Marketing e CX da Somattos, combinando modernização de canteiros e digitalização da jornada do cliente. “Hoje, todas as etapas — do primeiro contato ao pós-entrega — contam com suporte tecnológico”, destaca, citando que os contratos são assinados digitalmente, as vistorias são agendadas on-line e a assistência técnica opera em plataforma unificada. Nos canteiros, a leitura facial controla acessos e reforça a segurança operacional.
 
Imersivo
 
Além de agilizar, com a digitalização, a parte administrativa do processo, em outra frente, a tecnologia, com as experiências virtuais, está transformado a forma como os clientes visualizam seus futuros lares ao permitir que apartamentos sejam explorados em detalhes antes mesmo de eles existirem fisicamente. 
 
Não por outro motivo, na Fataha, a aposta está na imersão. A empresa testa tecnologias de ponta, como o Apple Vision Pro, e desenvolve experiências que unem Tour 360°, decorados virtuais e simulações reais captadas por drones. “Para o nosso próximo lançamento, vamos simular a vista exata do apartamento andar por andar”, antecipa Nejm. “Isso elimina a dúvida e tangibiliza o produto antes mesmo da obra começar”. A ideia é aproximar o cliente da realidade futura com o máximo de precisão e, ao mesmo tempo, elevar a qualidade da experiência digital.
A tecnologia imersiva, encarada como suporte à experiência humana, também avança no Grupo Caparaó. “Adotar tecnologias imersivas é condição básica para existir e crescer no mercado”, diz Alexandre Lodi, antes de reforçar que o encantamento ainda nasce da relação: “Que a inovação caminhe junto com o olhar atento, o aperto de mão e a escuta qualificada”, determina.
 
O Hub Savassi, da Somattos Engenharia: localização privilegiada e sete variações de plantas (foto: Pedro Vilela/Agência i7)
O Hub Savassi, da Somattos Engenharia: localização privilegiada e sete variações de plantas (foto: Pedro Vilela/Agência i7)
No caso da Somattos, a estratégia passa pela ampliação do uso de visitas virtuais e maquetes 3D. “Essas ferramentas aproximam o cliente do produto final e reduzem incertezas”, expõe Carolina Lara. A empresa complementa as experiências digitais com tecnologias de gestão de obra – como o Prevision, um sistema que usa inteligência artificial para acompanhar o avanço das etapas e identificar pontos críticos que demandam intervenção. Essa integração garante previsibilidade, eficiência e qualidade, elementos essenciais para empreendimentos de alto padrão.
 
"Ferramentas como visitas virtuais e maquetes 3D aproximam o cliente do produto final e reduzem incertezas", explica Carolina Lara, gerente de Marketing da Somattos Engenharia (foto: Pedro Vilela/Agência i7)
 
 
Cançado situa que a Conartes, mesmo reconhecendo o avanço dessas ferramentas, tem especial cuidado em garantir total aderência entre o que é apresentado e o que será entregue.“Nossa maior preocupação é garantir que tudo o que é apresentado no material de marketing esteja alinhado à realidade da entrega”, explica, estabelecendo que a empresa desenvolve perspectivas e imagens fiéis aos acabamentos e à experiência real do espaço, mas mantém o decorado físico como centro da decisão. “Nada substitui o encantamento de entrar no ambiente e sentir a luz, os materiais, a amplitude”, diz.
 
Sustentabilidade e inovação
 
E há ainda aspectos em que a tecnologia foi se consolidando como aliada, como o das metas de sustentabilidade, que englobam ações do canteiro de obras a todo ciclo de vida do empreendimento. 
A Caparaó, por exemplo, conjuga em seus projetos esses dois atributos – sustentabilidade e inovação – em uma trajetória marcada pela inovação. Lodi relembra que o edifício Lolita (2008) já nascia com automação residencial; que o Amadeus (2007) foi pioneiro em inteligência tecnológica; que o Domani, com sua fachada de LED, marcou o bairro de Lourdes; e que o empreendimento Concórdia, com 170 metros de altura, revolucionou o setor ao ser o maior prédio em estrutura metálica da América Latina. “Inovação faz parte do nosso DNA”, afirma. O Reserva Green, atualmente em execução, preserva uma área de mata nativa dentro do próprio terreno.
 
Trajetória similar percorre a Conartes, que usa elevadores inteligentes, irrigação automatizada, sensores de presença e medição individualizada para ajudar a reduzir desperdícios e consumo energético. “Construir bem é também construir de forma inteligente e responsável”, situa Cançado. Ele destaca ainda sistemas como fachadas ventiladas em granito e persianas automatizadas, que aumentam conforto térmico e reduzem custos ao longo dos anos.
 
A Somattos reforça essa sinergia ao utilizar BIM – um modelo digital integrado capaz de prever e evitar erros – aliado ao drywall, que reduz drasticamente o desperdício de materiais e o consumo de água. As fachadas ventiladas, iluminação natural e áreas comuns pensadas para conforto ambiental complementam o conjunto.
 
Fachada do empreendimento Vida Piauí, da Fataha, prédio com 16 unidades no Funcionários(foto: Fataha Incorporadora/Divulgação)
Fachada do empreendimento Vida Piauí, da Fataha, prédio com 16 unidades no Funcionários (foto: Fataha Incorporadora/Divulgação)
A sustentabilidade aparece tanto no digital quanto no físico na Fataha, a. “A operação em nuvem reduz a necessidade de equipamentos físicos e torna a empresa menos dependente de papel”, avalia Nejm. A empresa também atua com parceiros que seguem as mesmas normas de conformidade e ainda mantém presença ativa em ações sociais nas comunidades onde constrói.
 
Segurança como desafio 
 
Na mesma medida em que trouxeram soluções, as novas tecnologias impuseram desafios. Nesse sentido, um dos aspectos mais sensíveis a esses processos é a segurança dos dados. “Estamos entre as empresas com maior maturidade em segurança da informação, com processos altamente rigorosos”, afirma Lodi, detalhando que, na Caparaó, proteção e privacidade são prioridades absolutas – não por formalidade, mas por posicionamento de marca.
 
O reforço na segurança digital também é um investimento da Somattos. Por lá, os sistemas possuem diferentes níveis de permissão e seguem rigorosamente a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Até mesmo a leitura facial nos canteiros opera com controles rígidos de privacidade e uso estritamente operacional.
 
A proteção é reforçada por um ERP – sistema de gestão integrado – que controla acessos, anonimiza informações sensíveis e monitora movimentações internas, na Conartes. “Segurança não é apenas exigência legal, é compromisso contínuo com a privacidade e a experiência dos nossos clientes”, defende Cançado.
 
"Para o nosso próximo lançamento, vamos simular a vista exata do apartamento andar por andar", conta Vitória Nejm, sócia-fundadora da Fataha Incorporadora (foto: Fataha Incorporadora/Divulgação)
A Fataha, de sua perspectiva, opera com infraestrutura de segurança de nível internacional. “Armazenamos nossos dados em ambientes de altíssima segurança”, diz Nejm. Além dos sistemas robustos, há uma atuação ativa do jurídico e treinamentos constantes com as equipes. “Fazemos testes de vulnerabilidade e exigimos que todos os parceiros sigam critérios mínimos de governança”.
 
Futuro
 
Ainda que lidando com novos desafios, as expectativas para o futuro soam entusiásticas e parecem convergir para um mesmo horizonte: mais dados, mais automação, mais interatividade m e mais protagonismo da Inteligência Artificial, sem dispensar o humano – visto como basilar em todo esse processo. 
 
A Conartes vê o BIM e a industrialização como caminhos para elevar produtividade e reduzir desperdícios. A Somattos aposta em IA aplicada à gestão de obras, marketing e atendimento. E a Fataha enxerga a união entre IA e robótica como um salto decisivo: “lNão é substituição do humano, mas uma forma de nossa equipe produzir mais, com menos energia e tempo”.
 
Alexandre Lodi, da Caparaó, arremata: “No fim, vendemos muito mais que imóveis. Vendemos projetos de vida, pertencimento e realização. Moramos em lares, não em unidades; construímos memórias, não apenas metragem. E é justamente nessa união entre tecnologia e humanidade que enxergamos o futuro do setor – um futuro em que a inovação potencializa relações e transforma a forma como as pessoas vivem”.

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