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Estado de Minas ENTREVISTA | JULIANA LACERDA

Entrevistamos Juliana Lacerda, mulher do ex-ator Guilherme de Pádua

Ela falou, com exclusividade à Encontro, do relacionamento, da repercussão do casamento na mídia e do preconceito enfrentado pelos dois


postado em 15/05/2017 13:24 / atualizado em 15/05/2017 14:02

(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Fotos de casamento costumam ser populares nas redes sociais. Amigos curtem, comentam, desejam felicidades. Mas um álbum específico publicado no Facebook em março com fotos de um casamento civil em BH gerou burburinho e foi replicado não só nas redes, como nos principais portais de notícias do país. Isso porque o noivo em questão é o ex-ator mineiro Guilherme de Pádua, de 47 anos. Condenado a 19 anos de prisão por ter matado a atriz Daniella Perez, em 1992, Guilherme mora em BH desde que cumpriu os quase sete anos de reclusão, e há mais de 15 frequenta a Igreja Batista da Lagoinha, onde conheceu a atual mulher, Juliana Lacerda.

Nascida em BH e criada em Brasília, a maquiadora de 30 anos era anônima até o casamento. Diz, aliás, que não esperava que suas fotos causassem tamanha repercussão. Mas estava preparada para as dificuldades, pois mesmo antes de se casar já tinha de lidar com olhares de desdém e comentários críticos. Apesar da desconfiança de muitos, ela garante que não se esconderá ou deixará de celebrar sua união (o casamento religioso está marcado para o dia 12 de maio). "O Guilherme vai ficar a vida toda se escondendo? Eu também quero viver, quero ser feliz com ele", diz.

ENCONTRO - Esperava essa repercussão quando postou fotos do seu casamento civil nas redes sociais?
Juliana Lacerda - Postei para todo mundo ver mesmo, não quero esconder. Mas não esperava essa repercussão, de sair em portais de notícia e até em revistas. Depois do casamento religioso [que será para cerca de 500 pessoas], até achei que poderia acontecer. No civil, não.

As pessoas olham diferente para você desde que começou a se relacionar com o Guilherme?
Com certeza, até na igreja eu já senti olhares preconceituosos. É triste. As pessoas têm de acreditar na transformação. Todo mundo tem direito de mudar e de viver. Tem gente que fala "eu até gosto de vocês, mas não precisa ficar postando fotos nas redes sociais". E eu falo que a minha vida é muito simples, sou uma pessoa normal, que posta fotos como qualquer outra. Posto para os meus amigos, para eles ficarem felizes com minha felicidade, verem o testemunho de vida do Guilherme, vê-lo se reerguendo. Por que não?

Percebe muito preconceito e julgamentos contra ele?
É claro que existe muito preconceito. As pessoas focam naquilo que aconteceu há 25 anos. Elas não procuram ver o presente, a vida dele hoje. Apenas quando as pessoas o conhecem, passam a ter outra visão sobre ele.

Já viu alguém mudar de opinião a respeito dele?
Meu pai mesmo teve preconceito em relação ao nosso relacionamento no início. Ele disse "Filha, não é isso que quero para você". E eu disse a ele que o Guilherme não é mais o mesmo de há 20 e tantos anos. Isso o que a imprensa fala sobre a última separação dele [com a veterinária Paula Maia, com quem foi casado por oito anos e que o acusou de a ter ameaçado na época do divórcio, em 2014] não é verdade. É preciso conhecê-lo para saber. Quando o conheceu, meu pai ficou fã dele. Disse que o nosso relacionamento estava aprovado.

Como é ir com ele a lugares públicos?
Querendo ou não, ele é uma pessoa muito reclusa. Apesar de ser extrovertido, é assim só com os amigos. Com outras pessoas, tem um pé atrás, uma fobia. Não gosta de lugares com muita gente. Fica de cabeça baixa, apreensivo. Ele já sofreu muita coisa, inclusive cuspida na cara. E eu vejo que algumas pessoas olham com ódio. Viajamos recentemente para o Sul do país, e pessoas olharam com desprezo. Eu fico triste, mas não por nós, e sim por haver pessoas assim. Queria que o ser humano acreditasse na mudança.

Vocês evitam determinados locais?
Eu, como esposa, estou falando com ele sobre isso. Digo que não deve se privar de nada; de postar o que quiser, de ir onde quiser. Falo: "você já foi condenado e já pagou. Perante a sociedade e perante Deus. Você é uma pessoa transformada. Então viva". Ele vai ficar a vida toda se escondendo? Deixando de ir ao shopping, ao cinema, com a esposa dele? Atrapalhando até o nosso relacionamento, porque as pessoas vão julgar? Eu também quero viver, quero ser feliz com ele. E então ele está mudando. Se vamos a algum local muito agitado, ele ainda fica apreensivo. Infelizmente, acho que vai ser assim por muito tempo. Como era ator, todo mundo sabe quem ele é.

(foto: Filipe Rocha/Divulgação)
(foto: Filipe Rocha/Divulgação)
Você diz que sua vida mudou quando entrou para a Igreja Batista da Lagoinha, mesmo antes de conhecer o Guilherme. De que forma?
Eu tinha um relacionamento de cinco anos, eu era "juntada" com esse rapaz. É uma pessoa maravilhosa, mas o relacionamento era um pouco conturbado. Aos olhos de Deus, não era adequado. A minha irmã, que é pastora na igreja, criou uma célula [grupo de estudos e oração] na casa da minha mãe, e eu fiz um compromisso com Deus de frequentá-la toda quarta-feira, para o Senhor me ajudar a mudar de vida. Nessa época, fui à igreja e o pastor André Valadão falou uma palavra muito simples, mas que me tocou: "Creia para depois você ver". Passei então a crer antes de ver, e fui determinada. Resolvi largar tudo. A partir de então resolvi que não colocaria mais uma gota de álcool na boca, não queria mais aquela vida. Ia muito a barzinhos, bebia excessivamente, e isso atrapalhava minha vida. Eu não tinha dinheiro, gastava tudo nisso. Terminei o relacionamento, em setembro 2014, e voltei para a casa da minha mãe. Sofri muito, foi difícil, afinal, querendo ou não, era uma relação com a qual eu já estava acostumada. Mas foi a coisa certa.

E o trabalho social nos presídios, como começou?
Um amigo me perguntou se eu não tinha curiosidade de conhecer um presídio, porque ele era do Ministério Recomeço, que evangeliza presos. Fomos ao presídio Inspetor José Martinho Drumond. Quando entrei, eu me apaixonei por esse ministério. Vi a necessidade que os presos têm de ouvir a palavra de Deus. Uma palavra de conforto. Isso bateu forte em meu coração. Entendo que eles estão ali pagando por algo que fizeram, mas por que não ir uma pessoa lá para ajudar, dar uma palavra de conforto?

Vê as pessoas mudando após esse processo de evangelização?
Com certeza. Eles se transformam, e ver isso é emocionante. Você vê pessoas que se drogavam, traficavam e que na prisão tinham semblante triste ou de ódio mudarem completamente. Arrependem-se do passado e querem se transformar. Claro que nem todos que evangelizamos vão mudar. Mas se um deles realmente o fizer, muitas vidas aqui fora serão salvas, deixarão de ser roubadas, assassinadas, estupradas. Hoje sou uma das líderes do ministério, que envolve cerca de 100 pessoas. No ano passado, batizamos cerca de 600 presos. Além das visitas aos presídios, há o projeto Casa Recomeço, onde abrigamos ex-presidiários e os ajudamos reintegrando-os na sociedade.

Seu primeiro contato com Guilherme foi por causa do trabalho social?
Quando entrei para o Ministério Recomeço, não sabia que ele fazia parte. Um dia, aconteceu uma confraternização desse grupo, em que também seria comemorado o aniversário dele. Minha irmã já havia me falado dele, porque ele estava solteiro, e eu sempre gostei de homens mais velhos. Fiquei curiosa, não posso negar, tinha curiosidade sobre ele. Mas nunca pensei que poderia dar em algo. Quando cheguei ao churrasco, olhei para ele e foi amor à primeira vista. Eu me apaixonei.

Sem nem mesmo conversar?
Quando larguei o meu relacionamento anterior, eu conversei com Deus e disse que estava indo para a igreja, abandonando tudo, mas que a primeira pessoa de quem eu gostasse lá seria a pessoa certa. Já estava em um momento que não queria mais brincar, queria que fosse certo. E realmente foi assim. No churrasco mesmo, só o cumprimentei.

E por que teve certeza de que ele era a pessoa certa para você?
Eu orei muito por isso. Fiquei um ano orando pelo nosso relacionamento antes de começarmos de fato a namorar ou pensar em nos casar. Eu fui determinada e quis conquistá-lo. Sabia que seria bom para mim.

(foto: Filipe Rocha/Divulgação)
(foto: Filipe Rocha/Divulgação)
Como foi o processo de conquista?
Eu mandava mensagens para ele e, como morava perto da igreja, que é onde ele trabalha, sempre ia lá para conversar, falar do ministério. Então começamos a ter uma amizade. E é incrível como combinamos. Tudo que ele faz eu gosto e vice-versa. O modo de rir, falar, brincar. Nós nos encaixamos mesmo. E nos tornamos melhores amigos. Mas chegou um ponto da nossa amizade, durante este um ano, que achamos que não ia rolar namoro.

Vocês conversavam sobre essa possibilidade do namoro?
Sim, sempre conversamos. Primeiro eu mandei uma mensagem, porque não aguentava mais de vontade de falar. Disse que estava apaixonada por ele, que minha vontade era namorá-lo etc. Ele respondeu que achava melhor nos conhecermos melhor. Não queria tomar uma decisão agora, arrepender-se e me fazer sofrer. Disse que uma terceira separação seria muito forte, não aguentaria mais. Então fomos amigos por muito tempo. Depois de um ano, começamos a namorar. E, um dia, estávamos vendo um filme no sofá da casa dele e ele me perguntou "quer casar comigo?". E pronto. Já liguei para minha mãe, contei para todo mundo, que era para não ter como voltar atrás! (Risos).

O que te atraiu nele?
O Guilherme é uma pessoa extrovertida, com um caráter ímpar, um coração que eu nunca conheci tão grande. Ele é inteligentíssimo, sábio. E não é porque é meu marido. Ele encanta as pessoas na hora.

Você já conversou com o Guilherme sobre o passado dele?
Nunca conversei e, antes de ele querer falar, já disse que não queria saber. Isso é passado, não me diz respeito.

Quais são os planos agora?
O casamento no religioso, no dia 12 de maio. Depois, continuar com nosso ministério. Temos inclusive planos de visitar presídios no interior também. E tenho vontade de ter filhos.

Como acha que será eventualmente, com um filho, lidar com a questão do passado dele?
Acredito que vai ser difícil, sim, e que muita gente vai dizer coisas do tipo "e se fosse o seu filho?" ou, especialmente se tivermos uma menina, "e se fosse a sua filha?". Vai ser difícil, dolorido. Mas estamos preparados para isso. Eu já estou me acostumando, imagine ele, que lida com isso há 25 anos.

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