
Alguns endereços da Savassi nasceram de forma inesperada e acabaram se consolidando no bairro. É o caso da Mercado, que surgiu bem pequena na rua Paraíba. Há 15 anos, as jovens empreendedoras Silvia Yamagushi e Marcela Vilela receberam um aviso para deixar o ponto comercial onde mantinham um box de roupas e acessórios descolados na feira shop, na avenida Cristovão Colombo. Na dúvida sobre o que fazer, as duas, então recém-formadas, decidiram tomar um chope na rua Antônio de Albuquerque enquanto pensavam no futuro. A resposta que buscavam não era simples. Elas deixariam a Savassi e voltariam para suas áreas de formação, no escritório de direito e no mercado financeiro, ou continuariam empreendendo no mundo da moda? Da mesa do bar, elas enxergaram a resposta que buscavam, escrita em letras grandes, do outro lado da rua: "Aluga-se". Da oportunidade nasceu a loja de roupas, acessórios e artigos para casa, que passou por uma expansão e já ganhou duas filiais, uma na rua Pernambuco e outra no bairro Vila da Serra.

A Izabela Baby veste gerações de bebês com suas roupinhas exclusivas e enxovais diferenciados. Com bom humor, a proprietária confessa que nunca pensou em mudar de ponto. Ela lembra que já experimentou lojas em shoppings, mas o negócio na Savassi é tradicional. A loja comercializa de roupas de cama a bolsas para sair. "Todo o nosso enxoval é feito no Brasil. Bordados aplicados, bonitos e fáceis de cuidar, opções que as grávidas não encontram no exterior", observa.
Há clientes que vêm de longe para garimpar peças com ar alternativo nos quarteirões da Savassi, como a promotora de Justiça Natália Anderaos. Há 10 anos ela se mudou de Belo Horizonte para Brasília, mas não esqueceu suas lojas preferidas. "Quando venho a Belo Horizonte, procuro a Savassi para comprar roupas mais alternativas e menos tradicionais", diz ela, que vai levar na bagagem novidades garimpadas durante as férias.

Se a crise tem um lado bom, o acervo do Brilhantina conheceu de perto: "Muitas consumidoras decidiram se desfazer de peças lindas. O desapego aumentou muito e com isso o brechó ficou cheio de boas pedidas." Raquel gostaria de ver a Savassi mais bem cuidada, mas nunca pensou em deixar o seu ponto. O conhecido brechó, uma referência no segmento, pode crescer. "No futuro penso em abrir mais uma loja, quem sabe um Brilhantina festa? Tenho a certeza de que será aqui mesmo, na Savassi."

Nos últimos tempos, algumas livrarias fecharam na região, mas a rua Fernandes Tourinho continua como um refúgio de leitores, adultos e crianças. "É quase uma resistência", diz Alencar Perdigão, livreiro dono da Quixote, um espaço de conhecimento, convivência, encontros acadêmicos e de conversa entre amigos que está há 14 anos na Fernandes Tourinho. Alencar lembra que na mesma rua são três livrarias, além de uma loja de DVDs e CDs, sem citar papelarias, com materiais diferenciados para quem gosta de escrever. "Esse quarteirão é um charme", diz o livreiro, que gostaria de ver mais apoio para movimentos culturais com o objetivo de movimentar o quarteirão. Mas ele conta com a presença de leitores fiéis. "Sinto falta de mais livrarias na Savassi, mais espaços onde seja possível tomar uma bebida e conversar sobre livros, sobre literatura", diz a empresária Maria Lina Borges, que costuma ter a companhia de seu neto Heitor, de 6 anos, um fã de histórias em quadrinhos.