
Quando o bairro começou a ser idealizado, a capital mineira se expandia. É o que diz a arquiteta Paula Balli Cury em seu artigo "Paisagem Mental e Urbana: A Singularidade do bairro Cidade Jardim em Belo Horizonte". "No período de implantação do bairro Cidade Jardim, a cidade estava se desenvolvendo, a especulação imobiliária nas áreas internas da avenida do Contorno, correspondendo à Zona Urbana do plano de Aarão Reis, ainda era intensa."

Foi JK quem doou o terreno na avenida do Contorno, 7.919, para a construção do Colégio Loyola, inaugurado em 1949. "Essa região era muito desabitada e o colégio acabou ajudando no desenvolvimento", diz a professora de língua portuguesa Flávia Guerra Pinto Coelho Volker, que trabalha no Loyola desde 1981. A Congregação das Angélicas também recebeu da prefeitura um lote, na rua Eduardo Porto, com área de 5 mil metros quadrados. Lá, foi construído o Colégio São Paulo, inaugurado em 1953. No mesmo ano, foram abertas as portas da Faculdade de Odontologia da UFMG, na rua Conde de Linhares. Em 2000, a escola foi transferida para o Campus Pampulha e o edifício seguiu fechado. Atualmente, existe um projeto de transformá-lo em Museu Nacional de Ciências Forenses (veja quadro na página 101).

Mas o crescimento planejado possibilitou que o bairro se transformasse em um dos mais valorizados da cidade. E somado ao tombamento de mais de 100 edificações, em 2013, bem como a inserção do lugar em uma Área de Diretrizes Especiais (ADE), a região ficou protegida da feroz especulação imobiliária. "Quem não gostaria de morar aqui?", indaga a agente de saúde Juliane Roberta Monteiro. Ela mora no Jardim América, na região Oeste, mas frequenta diariamente o bairro por causa das filhas Helena, de 4 anos, que estuda numa creche integral na igreja Santo Inácio de Loyola, e de Silvia, de 8, aluna do Colégio São Paulo. "É uma região muito arborizada e segura. Passo mais tempo aqui do que em meu bairro."

Além de suas bonitas residências que datam do início da ocupação do bairro, e do emblemático casarão da antiga Fazenda do Leitão - atual Museu Abílio Barreto -, o bairro preserva espécies exuberantes de árvores. É o caso do fícus italiano (Ficus elástica) localizado na esquina das ruas Sinval de Sá e Josafá Belo, também tombado pelo patrimônio. Caminhar pelo bairro também é sentir o gostinho da época em que Belo Horizonte era chamada, com toda razão, de Cidade Jardim.
Futuro museu da investigação

Segundo Gyovany, um dos responsáveis pela ideia, o plano museológico, que também está em andamento, indicará os custos para criar o centro cultural. "Será um espaço para especialistas e leigos conhecerem mais sobre a ciência do desvendamento de crimes", diz. A perspectiva do museu não foi divulgada, mas o perito revelou que o prédio deve ganhar cobertura especial e haverá paredes de vidro, para integrar o lugar ao ilustre vizinho, o Museu Abílio Barreto.
