Publicidade

Estado de Minas ENCONTRO LUXO | MODA

Marcas mineiras apostam no bordado para se destacarem no mercado

Com o "feito à mão" cada vez mais em voga, decoração clássica é a aposta do momento


postado em 21/11/2017 16:14

As irmãs Marcela (em pé) e Carolina Malloy, da Arte Sacra, desenvolvem os bordados no ateliê da marca, no bairro São Pedro: desenhos são depois executados por artesãs de várias cidades de Minas(foto: Violeta Andrada/Encontro)
As irmãs Marcela (em pé) e Carolina Malloy, da Arte Sacra, desenvolvem os bordados no ateliê da marca, no bairro São Pedro: desenhos são depois executados por artesãs de várias cidades de Minas (foto: Violeta Andrada/Encontro)
A preciosidade sempre esteve nos caminhos da cultura mineira. No século XVIII, o barroco se firmou como movimento artístico de destaque no Brasil, ao mesmo tempo que Minas vivia a corrida do ouro. E o movimento influenciou o artesanato do estado, considerado um dos mais ricos e e admirados do país. Esse luxo se reflete na moda, principalmente com os bordados feitos à mão, presente, em especial, nas roupas de festa. O mercado sabe bem disso. Dos 109 expositores do Minas Trend Preview, cuja última edição foi realizada em outubro, aproximadamente 30% se dedicam à moda festa e têm os bordados como carro-chefe.

Marcas como Bárbara Bela, Arte Sacra, Virgílio Couture e Apartamento 03 mostram que a dedicação e o cuidado na execução trazem bons frutos. A Bárbara Bela, por exemplo, foi pioneira em apostar na sofisticação dos bordados presentes nas peças de roupa. A grife foi criada em 1974 por Helen Mascarenhas, participante do Grupo Mineiro de Moda, coletivo que na década de 1980 reuniu parte dos maiores nomes da moda brasileira. "Minha mãe desenvolveu uma técnica que hoje todas as confecções usam", diz Georgiana Mascarenhas, filha de Helen e diretora criativa da marca. "Tentamos guardar esse segredo, mas, como as costureiras rodam, não teve jeito." O acervo de material para bordado também é herança de família. "Como viajávamos muito, trazíamos miçangas, lantejoulas e outros materiais da Índia. Temos caixas com vários tons diferentes, o que torna o nosso bordado muito diferenciando", diz Georgiana.

Vânia Nielsen (à esq.), estilista da Bárbara Bela, e Georgiana Mascarenhas, diretora criativa da marca criada em 1974 por Helen Mascarenhas:
Vânia Nielsen (à esq.), estilista da Bárbara Bela, e Georgiana Mascarenhas, diretora criativa da marca criada em 1974 por Helen Mascarenhas: "Minha mãe desenvolveu uma técnica que hoje todas as confecções usam", diz Georgiana (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Neste ano, a Bárbara Bela iniciou uma nova fase. Reinaugurou a loja no bairro de Lourdes e conta com um novo nome na equipe de estilo. Agora, é a estilista Vânia Nielsen que tem a missão de tornar os bordados manuais cada vez mais únicos. "Os bordados se massificaram de tal forma que a roupa ficou deselegante", afirma Vânia. "Fico de três a quatro dias para criar um desenho e, depois, mais dois dias garimpando a mercadoria no estoque e testando as combinações de cores e pontos, que trabalham relevo e efeitos tridimensionais."

Peças feitas com o preciosismo de uma obra-prima são tradição da moda mineira. E não poderia ser diferente numa marca que tem a arte no nome. A Arte Sacra, comandada pelas diretoras criativas e irmãs gêmeas Carolina e Marcela Malloy, sempre busca inspiração na cultura para compor as coleções e seus bordados. Segundo as proprietárias, essa característica marcante é influência da mãe da dupla, a artista plástica Maria Rita Malloy, fundadora da marca. "Os bordados nada mais são do que a expressão do nosso lado artístico", diz Marcela. Depois de decidirem o tema da coleção, Carolina e Marcela reúnem imagens ligadas a ele e pensam a paleta de cores. Depois disso, passam aos bordados. "O tipo de bordado determina para que linha a peça vai", afirma Carolina. "Nós temos a linha Glam, de vestidos que são todos bordados; uma linha intermediária, que é levemente bordada; e outra mais minimalista, quase sem bordado." Mesmo essas mais simples, explica Carolina, levam um bordado no cinto ou em um pequeno detalhe. A Arte Sacra conta com 150 pontos de venda no Brasil e no exterior.

Luiz Cláudio Silva, da Apartamento 03:
Luiz Cláudio Silva, da Apartamento 03: "Sempre começo a criação de uma coleção pela escolha e pelo toque dos tecidos. Depois, vejo se a peça precisa de uma superfície mais trabalhada" (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Engana-se quem pensa que os bordados só podem circular à noite. Peças mais requintadas podem, sim, compor um visual mais urbano. Essa é a proposta da Virgílio Couture. Em sua segunda coleção, a marca do estilista Virgílio Andrade está presente em multimarcas, bem como trabalha com peças sob medida. Para um resultado moderno e elegante, Virgílio lança mão de referências vintage e da moda de rua. "Minha pesquisa vem de revistas que herdei da minha avó, das décadas de 1930, 1940 e 1950", diz. Ele mescla o resultado de suas pesquisas com o que vê nas ruas. Repertório, aliás, é o que não falta para Virgílio. Além da Virgílio Couture, o estilista desenvolve criações para outras marcas mineiras, como Victor Dzenk. Ele já passou também pelo ateliê do incensado estilista de moda festa Samuel Cirnansck, em São Paulo. "Tento não usar o mesmo bordado, seja nas coleções seja nas peças sob medida. Procuro sempre estudar para achar novos caminhos, novos formatos para trabalhar com moda festa, ou ‘street festa’, como eu nomeei o estilo da marca", diz Virgílio.

E não é só na forma que os bordados podem surpreender. A maneira de aplicá-los nas peças pode trazer frescor a uma roupa mais festiva e refinar modelos mais clássicos. Na Apartamento 03, do estilista Luiz Cláudio Silva, o bordado está tanto nos modelos de festa quanto nas sofisticadas criações prêt-à-porter. O designer deixa que a matéria-prima das peças guie como será feito o bordado, que mistura formas orgânicas e linhas gráficas. "Gosto de pegar o material e ver o movimento dele", diz. "Sempre começo a criação de uma coleção pela escolha e pelo toque dos tecidos. Depois, estudo se a peça precisa de uma superfície mais trabalhada." A marca está sob o guarda-chuva do Grupo Nohda, ao lado da marca homônima e da PatBo, ambas da estilista Patrícia Bonaldi, também mineira. A grife conta com loja própria nos Jardins, em São Paulo, e vários pontos de venda espalhados pelo Brasil, inclusive em Belo Horizonte. Uma prova de que, seja para as festas seja para o dia a dia, os bordados são um traço forte da moda mineira que está sempre sendo renovado.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade