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Estado de Minas ESPECIAL BAIRROS | GUTIERREZ

Conheça a história do bairro Gutierrez, em Belo Horizonte

Região foi loteada em terras de uma fazenda localizada próximo à avenida do Contorno. Crescimento veio com a canalização de córrego e abertura da avenida Francisco Sá


postado em 25/04/2018 16:13

Bairros Gutierrez e Barroca, na década de 1950: região predominantemente de casas(foto: Reprodução)
Bairros Gutierrez e Barroca, na década de 1950: região predominantemente de casas (foto: Reprodução)
Os primórdios do bairro Gutierrez remontam à época na qual Belo Horizonte, em determinadas regiões, se revelava ainda um território rural. Uma das fazendas existentes, mais para a porção oeste da cidade, foi adquirida pelo espanhol Leonardo Gutierrez de Bardon y Bardon, nos idos de 1900, três anos depois da inauguração da capital mineira. O engenheiro chegou à então novíssima cidade a convite de Aarão Reis, chefe da Comissão Construtora da Nova Capital. A missão dele, a exemplo dos demais engenheiros que chegavam, era a de auxiliar na formatação e construção da futura metrópole.

No final da década de 1920, as terras de Leonardo Gutierrez, de aproximadamente 200 hectares, passaram a ser loteadas. Assim começava a brotar, logo após a avenida do Contorno, importantes e tradicionais bairros, como Barroca, Grajaú e Jardim América, além do próprio Gutierrez. A exemplo do que aconteceu com demais regiões da capital, o Gutierrez só começou a despertar interesse da população e de empreendedores a partir da canalização de córregos e abertura de vias. No caso, o córrego dos Pintos, que hoje passa sob a avenida Francisco Sá, um dos corredores viários mais importantes da região. As obras de canalização terminaram no fim da década de 1960. É importante lembrar que, se por um lado as intervenções trouxeram moradores e comerciantes para o bairro, por outro provocariam, mais tarde, dor de cabeça para residentes e visitantes. Quando chove forte por ali, é enchente na certa, já que a galeria do córrego acaba por não suportar a grande quantidade de água. O curso d’água deságua no ribeirão Arrudas.

A esteticista Eliana Amarante Peres, há 40 anos no bairro:
A esteticista Eliana Amarante Peres, há 40 anos no bairro: "O comércio era fraco nessa época. Tínhamos de ir ao centro da cidade (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
A construção da praça Leonardo Gutierrez, no antigo brejo, também ajudou na ocupação do bairro. José Vicente Filho, de 73 anos, é proprietário da banca de jornais e revistas da praça, há 42 anos. "Quando cheguei aqui, a igreja estava acabando de ser construída. Havia pouquíssimos estabelecimentos comerciais. Perto da banca, havia apenas uma padaria", diz ele. Zé Vicente, como é mais conhecido, conta que, antes de adquirir a banca, vendia frutas nos arredores. A banca, conta Zé, foi comprada de um português que se chamava Roberto. Devido a sua altura, Roberto era conhecido como o Grande. Zé Vicente acabou herdando também o apelido. Logo ele, que mede 1,65 metro de altura. Hoje, Zé é uma das referências do bairro. "Tento conciliar a clientela com a amizade. E está dando certo", afirma o senhor, que não pretende deixar o ramo e muito menos a praça tão cedo.

É também na praça que se localiza a paróquia Santíssima Trindade. Apesar de ter sido criada em 1960, a edificação só foi inaugurada em 1979. O terreno foi cedido por Willer de Magalhães Pinto, sua mulher, Olga Gutierrez Pinto, e por Aurora Gutierrez Zander. Olga e Aurora eram filhas de Leonardo Gutierrez. O patriarca da tradicional família teve ainda Plácido, Leonardo Júnior e Miguel como filhos. Flávio Gutierrez, um dos fundadores do Grupo Andrade Gutierrez, era filho de Miguel.

O líder comunitário Wellington Luis de Medeiros:
O líder comunitário Wellington Luis de Medeiros: "Apesar dos problemas, é um bairro tranquilo, que ainda conserva o clima de antigamente" (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Wellington Luis de Medeiros, de 58 anos, tem orgulho de trabalhar no bairro, que também viu crescer. Desde 1989 é proprietário de um salão de beleza, que fica em frente à praça Leonardo Gutierrez. Apesar de ser morador do vizinho Barroca, é líder comunitário do Gutierrez. Entre os desafios, está a segurança. "Temos 18 redes do projeto Vizinhos Protegidos. Por meio do Orçamento Participativo (OP), há previsão de instalar 10 câmeras de monitoramento nas saídas e entradas do bairro", afirma Wellington, que se lembra da época em que o Gutierrez era predominantemente de casas. "Apesar dos problemas, é um bairro tranquilo, que ainda conserva o clima de antigamente", afirma. Outra batalha do líder comunitário é para reforma da principal praça do bairro, cuja obra já foi conquistada também via OP, mas ainda não tem previsão de ser executada.

A esteticista Eliana Amarante Peres, de 76 anos, lembra com saudade do tempo em que a rua Cura D’Ars, onde mora, na esquina com Herculano de Freitas, era formada só de casas. "O comércio era fraco nessa época. Tínhamos de ir ao centro da cidade", conta Eliana, que reside na região há 40 anos. Os ares do bairro fizeram bem à senhora que todos os dias, às seis da manhã, pratica natação no vizinho Prado. Ela começou a nadar aos 53 anos e hoje coleciona centenas de medalhas na categoria máster. Prédios, trânsito e comércio diversificado seguem, agora, como traços do Gutierrez. No entanto, as características de outrora podem ainda ser notadas. É o caso da rua Cura D’Ars, pertinho da casa da Eliana, cheio de pés de pitanga.

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