
O atual número de moradores é de quase 2 mil, segundo o Censo (2010) do IBGE, mas não atrapalhou o sossego da região, predominantemente de casas. Até hoje pode ser notada certa calmaria que remete à época em que toda aquela área comportaria uma fazenda. A área rural chamada de Mangabeiras começou a ser loteada na década de 1960, quando a capital mineira via acelerado o seu processo de expansão - sobretudo pelo surto modernista de Juscelino Kubitschek, prefeito de BH, nos anos 1940. A antiga chácara, então, virou Companhia Urbanizadora Serra do Curral (Ciurbe) e os lotes foram disponibilizados em leilões para serem vendidos. Em 1973, o Mangabeiras foi, de fato, criado pelo Decreto Municipal 2.317, de 16 de janeiro. Naquele ano, residências de alto padrão já se destacavam nos morros da serra.

Outro símbolo do bairro é a Praça Governador Israel Pinheiro. Foi por lá que a então maior autoridade da Igreja Católica, o papa João Paulo II, celebrou, em 1º de julho de 1980, uma missa e declarou a célebre frase: "Que belo horizonte". Com isso, a praça passou a ser conhecida como Praça do Papa, inaugurada mesmo em 1983, com a presença de pelo menos 4 mil pessoas.

Mas e o comércio? A avenida Bandeirantes, que hoje é o principal centro de lojas e serviços do bairro, foi concluída em 1979. Até então, os moradores do Mangabeiras tinham de recorrer à Savassi ou ao centro de BH para realizar compras. A psicóloga Renata Borja, de 46 anos, mora desde os 4 no bairro. "Não tinha nem padaria por perto. O jeito era encomendar pão e leite, que vinham de Kombi", diz. A distância do comércio naquela época, contudo, não diminuía o privilégio de se morar bem pertinho da natureza. "Quando éramos criança, íamos brincar na montanha. Deparávamos com coelhos e corujas", afirma a psicóloga, que faz questão de ressaltar que a vida no bairro não mudou muito de lá para cá. "As maritacas ainda são frequentadoras da minha casa. Vejo o sol nascer na montanha e se pôr no horizonte." A descrição da rotina de Renata se assemelha com a da advogada Luciana Moreira, de 47 anos, que reside ali desde os 13. "Meus pais sempre sonhavam morar aqui. Jogávamos bola na rua e colhíamos frutas nas casas dos vizinhos", diz. A prática de aproveitar os pés de fruta da vizinhança ainda se conserva. A casa de Luciana Moreira tem pés de jabuticaba, maçã, pitanga, acerola e uva. Nem precisa dizer qual é o lugar preferido dos filhos Eduardo, de 8, e Henrique, de 9 anos. "É um bairro que deve ser preservado", afirma a advogada.

E o Comiteco?
Se você frequenta o Mangabeiras, provavelmente já deve ter passado por vias que, na verdade, pertencem a outro bairro, o Comiteco. Trata-se de uma pequena área, com menos de 1 quilômetro quadrado, mas que reúne cerca de 1,7 mil moradores, conforme Censo do IBGE de 2010. O nome é o mesmo de uma imobiliária que em 1938 adquiriu o terreno às margens da Serra do Curral para um novo loteamento. A empresa existe até hoje. Assim, a área mais à direita da avenida Agulhas Negras até à Praça JK é o Comiteco (confira o mapa). Os limites entre os dois bairros não são muito claros. De acordo com moradores, algumas ruas, como a Comendador Viana, pelo menos para os Correios, faz parte do Mangabeiras e ao mesmo tempo do Comiteco. A despeito disso, Rodrigo Bedran, presidente da Associação do Mangabeiras, diz que a sua preocupação é atender os interessentes dos residentes de ambas as áreas. Sem distinção.