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Estado de Minas

Mágicos de BH apostam em tecnologia e até filosofia

Grandes e pequenos artistas da capital minera inovam para continuar conquistando o público


postado em 08/08/2018 14:28 / atualizado em 08/08/2018 14:55

"A ideia é transmitir, com a mágica, uma mensagem séria de forma divertida" (foto: Divulgação)
Cena 1: No show de ilusionismo realizado durante a convenção de uma multinacional, o mágico flutua no ar, em hologramas futuristas. A plateia não pisca.

Cena 2: Sim, salabim! E as bolhas de sabão que seriam só uma brincadeira na festa de aniversário infantil se transformam, no ar, em bolas de verdade. Elas somem, desaparecem, para instantes depois ressurgirem em um lenço de seda azul.

Cena 3: No teatro, cartas de um baralho somem em um show que leva o espectador para uma viagem pelo mistério da cartomagia.
Encontro conversou com alguns dos ilusionistas mais requisitados de Belo Horizonte e descobriu que a antiga profissão se transformou,  mas continua cumprindo seu desafio de se conectar o público com a alegria e o inusitado.

O mágico e ventríloquo Caio Bianchetti encanta a meninada: em seu show, objetos brilhantes desaparecem, voam, ficam invisíveis(foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
O mágico e ventríloquo Caio Bianchetti encanta a meninada: em seu show, objetos brilhantes desaparecem, voam, ficam invisíveis (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Para ser um artista reconhecido, não basta ler algumas páginas de um velho livro de truques. É preciso trabalho duro, investir, estudar muito, ter visão empreendedora e, é claro, o misterioso dom de encantar. Foi-se o tempo em que os mágicos com casaca tiravam da cartola coelhos brancos. E os pombos, tão comuns nas apresentações do passado, agora só voam se for em uma ilusão. "Até poderia fazer aparecer pombos em um show, se eles fossem feitos de luz, voassem no palco em várias dimensões e formas", imagina o ilusionista Henry Vargas. Aos 25 anos de idade, o mineiro faz shows no Brasil e no exterior. Ele e o sócio Klauss Durães, de 26, se conheceram no ensino médio no Colégio Magnum, em Belo Horizonte. Henry se formou em direito, mas desde criança já sabia a profissão que queria seguir. E a carreira deslanchou. Aos 16 anos, venceu concurso de mágicas em Las Vegas, promovido pela Magic and Mistery School, uma das mais famosas escolas do meio.

Nos espetáculos para grandes empresas brasileiras e multinacionais, a Ilusion hipnotiza o público com palestras-shows. O palco pode se transformar em um universo de várias dimensões, onde os artistas desaparecem e até surgem dentro de um corpo humano. "A ideia é transmitir uma mensagem séria de forma divertida", explica Henry. Na lista da Ilusion estão clientes como Bayer, Vallourec, MRV e Ambev. "Estudamos muito cada mensagem que a empresa deseja transmitir a seus colaboradores", diz Henry. "Nossa ideia é fazer com que o público seja tocado pelos valores da organização e sinta um grande desejo de se engajar." A dupla se apresenta em temporadas internacionais por vários países da América, da Europa e da Ásia, com shows grandiosos. Mas levam também sua arte a praças e escolas das capitais, e a regiões distantes do Brasil. "A mágica é a arte de fazer acreditar no impossível. Ela desperta nas pessoas os sentimentos mais positivos, de acreditar, de seguir em frente", afirma Henry.

Fernando Ás, referência nacional em cartomagia:
Fernando Ás, referência nacional em cartomagia: "A mágica continua sendo um grande desafio intelectual, de levar ao público um universo que é desconhecido e belo" (foto: Matheus Soriedem/Divulgação)
Do ilusionismo à mágica tradicional, os shows se renovaram. De cabelo longo e olhar misterioso, o jovem Caio Bianchetti é um mágico sem cartola. Ele se assemelha mais a um bruxo contemporâneo, um pouco Harry Potter. Caio descobriu a mágica ainda criança, quando aos 9 anos começou a colecionar kits para treinamento, que não se cansava de pedir como presente de Natal e de aniversário.  Aos 16, decidiu que seria um profissional, investiu na carreira e não parou de estudar, inclusive ventriloquia, mentalismo e hipnose.

Caio pode ser confundido com um encantador da meninada. Cercado por eles, quando a cortina vermelha de veludo se abre, os olhos ficam bem abertos. O que todos querem é descobrir: como ele consegue? Em seu show, objetos brilhantes desaparecem, voam, ficam invisíveis. Moedas somem em um saco sem fundo, inexplicavelmente aparecem na mão de uma criança. E com ele o dinheiro pode se multiplicar. Como ventríloquo, Caio divide o palco com o pato Kiwi. Quando o personagem entra em cena, o show é também educativo. O pato irreverente e desobediente provoca gargalhadas, mas também ensina sobre o respeito aos animais. "Sou um mágico que trabalha questões ligadas à ecologia e à cultura brasileira", diz. "Mágica é acreditar no seu sonho." Na festa de aniversário de Miguel, de 3 anos, dezenas de olhinhos atentos olhavam fixo para Caio. "Mesmo que a ilusão se perca um pouco com a rapidez dos nossos dias, a mágica representa um mundo lúdico que ainda nos fascina", comenta a médica Gabriela Alves, mãe do pequeno Miguel.

Marcelo Labarrere inovou com o seu Magic Truck: palco vai aonde o público está(foto: Divulgação)
Marcelo Labarrere inovou com o seu Magic Truck: palco vai aonde o público está (foto: Divulgação)
Seja adulto seja criança, não há quem não se desligue da rotina diante de um mágico. Especialista em cartomagia, tudo o que o mago Fernando Ás precisa para hipnotizar o público do início ao fim do show é o seu baralho. "O essencial é invisível aos olhos", diz ele, lembrando a célebre frase do livro O Pequeno Príncipe. Fernando se encantou pela arte ainda criança e está no setor há 28 anos. Premiado em concursos de cartomagia, ele também é escritor, historiador e um amante da poesia. Entre 2008 e 2012, fez uma pausa na carreira de artista para se aprofundar no estudo e na pesquisa sobre a filosofia da mágica. Na Argentina, chegou a se encontrar com um mágico que foi sua inspiração. O resultado de toda a bagagem está no espetáculo Em Cena, em cartaz desde 2016. Uma história narrada por Fernando vai conduzindo a plateia pelo universo da filosofia e da poesia. "A cartomagia é uma ferramenta para a comunicação, para levar o assombro, a alegria. O que eu quero é que as pessoas saiam de um espetáculo se sentindo melhor do que estavam quando chegaram ao teatro."

Há quem troque carreiras consolidadas pelo ilusionismo. O bem-humorado Marcelo Labarrere, por exemplo, deixou o cargo de gerente em uma multinacional, em 2014, para se dedicar em tempo integral a seu hobby. "Eu queria criar shows diferentes." Para isso, Marcelo se dedicou ao estudo da mágica e investiu na compra de um Magic Truck, caminhãozinho que ele mesmo idealizou, desenhou e encomendou na fábrica sob medida. O truck vai aonde o público está, transformando-se em um palco completo, com cortinas, iluminação e som. Além de festas e eventos, Marcelo também trabalha com grandes empresas dando palestras de segurança do trabalho, totalmente personalizados e desenvolvidas por ele, de acordo com o programa encomendado pela organização. "Por meio da mágica eu explico e passo mensagens sobre temas muito importantes", diz. Ele ainda se lembra do seu primeiro show corporativo. "O Recursos Humanos esperava a presença de 50 funcionários, mas eu pedi que eles trocassem o comunicado, que dissessem que naquela tarde haveria ali não uma tradicional palestra de segurança do trabalho, mas um show com um mágico. Compareceram mais de 200 funcionários." No mundo contemporâneo, a tecnologia e a inovação transformaram os shows de mágica, mas a essência dessa arte tão antiga não mudou: "A mágica continua sendo um grande desafio intelectual, de levar ao público um universo que é desconhecido e belo", diz o mago Fernando Ás.

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