
Conceitos que vão de habilidades motoras a questões emocionais são conquistados nesse rico momento do desenvolvimento, que começa no berçário e vai até os 5 ou 6 anos de idade. "Nessa fase só há um jeito de aprender: brincando", é o que diz a psicóloga Maria Lúcia Rodrigues, que há 40 anos fundou a escola Chez L’Enfant, no bairro Santo Agostinho, e é especialista em desenvolvimento infantil. A escola, que atende do berçário ao último ano da educação infantil, segue a linha construtivista, que valoriza a experiência no aprendizado. "Nascemos como instituição montessoriana e valorizamos a liberdade com responsabilidade", afirma Maria Lúcia. Ela reforça que o ambiente da escola também deve ser preparado para as descobertas. "A criança aprende de forma lúdica, por isso os materiais utilizados são tão importantes." Brincando, meninas e meninos vivenciam conceitos como respeito às regras e aos colegas, noções de responsabilidade, além do conteúdo acadêmico. "Os alunos são observados de muito perto e o comportamento é a base de tudo. Por isso, vários pontos são muito importantes, como a qualidade dos professores e a proximidade da família com a escola", diz. "É um tempo fundamental para a formação da personalidade."

Especialistas concordam que muitas vezes existe uma ansiedade dos pais quanto ao ensino fundamental e ao processo de alfabetização dos filhos, mas o ideal é que a criança aprenda a ler e a escrever sem pressa. "Se a criança desenvolve bem as habilidades esperadas para essa fase da infância, como a capacidade de concentração e autonomia, tem a vivência em comunidade, ela fará uma boa transição para o ensino fundamental, com o alto grau de organização que esta etapa exige, terá os elementos que vão ajudá-la a ter ótima aprendizagem, em qualquer escola que a família escolha," defende Ana Amélia Rigotto, coordenadora pedagógica da Escola Montessori, no bairro Serra. Segundo ela, a criança aprende com experiências tendo o professor como mediador do conhecimento, e essa etapa deve ser vivenciada sem atropelos. "Não é preciso correria ou adiantar um conteúdo acadêmico, pois todas as fases da infância devem ser respeitadas. A partir dos 3 anos e meio, a criança já sente, naturalmente, muito interesse pelo mundo das letras." Ana Amélia considera que a escola "grande" também precisa fazer o seu dever de casa e estar preparada para receber os pequenos novos alunos, ainda preservando características da primeira infância, como o acolhimento.

A escola Bilboquê atende do berçário ao 1º ano do ensino fundamental. "Muitas crianças chegam aqui ainda bebês e seguem para o ensino fundamental já com a alfabetização garantida." Ana Luisa Flôres, de 6 anos, fez essa trajetória. Ela chegou à escola no berçário. Em 2019, segue para o 1º ano e o colégio já está escolhido. "Ana Luisa lê e escreve bem para sua faixa etária e já conversa sobre a mudança que vem por aí", diz a mãe, a dentista Juliana Flôres, que admite sentir um friozinho na barriga com a mudança. Afinal, a escola espaçosa, lúdica, segura, onde a menina é conhecida por todos, vai dar lugar a um universo maior. "A educação infantil é um período riquíssimo para o desenvolvimento humano", observa Ubirani Lucena, psicóloga e assistente da diretoria do Instituto Tarcísio Bisinotto, no Belvedere, que atende crianças do berçário aos 6 anos. "Trabalhamos para que a transição para uma escola maior seja lúdica." No último ano, as crianças aprendem sobre o novo colégio e recebem noções de conceitos como nota e rotina com vários professores. "Nesse momento, elas já conseguem falar de seus desejos, sabem conviver. É uma época às vezes tensa para as famílias, mais do que para as crianças", observa. Para lidar com a questão, a escola acolhe os pais, conversando sobre o perfil das várias escolas possíveis e alertando que uma primeira decisão nem sempre é definitiva. "Trabalhamos com as famílias um ponto importante e cientificamente comprovado: felicidade é termômetro de aprendizagem. Por isso nem sempre a escola do ensino fundamental tem de ser a mesma do ensino médio. Mudanças são absolutamente normais."