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Estado de Minas ESPECIAL EDUCAÇÃO | TRANSIÇÃO

Saiba como escolas de BH preparam as crianças para o ensino fundamental

É importante garantir aos pequenos habilidades importantes para a transição, que, muitas vezes, é temida


postado em 25/09/2018 14:48 / atualizado em 04/04/2019 16:29

Liliane Rossi e a filha, Helena:
Liliane Rossi e a filha, Helena: "Acho que vou sentir muita falta da escola infantil, onde todos nos conhecem bem%u201D, diz a engenheira civil (foto: Samuel Gê/Encontro)
As crianças crescem, mas deixar para trás a deliciosa educação infantil, começar um novo ciclo, nem sempre é uma mudança simples. Os pequenos costumam se dar bem nessa transição, mas os pais... Esses quase sempre ficam ansiosos com o futuro, já que a nova escola, em geral, é maior e abrange muito mais alunos. Apesar dos medos, a mudança não será nenhum bicho-papão se na educação infantil a meninada desenvolver habilidades importantes para começar com segurança o 1º ano: capacidade para expressar os sentimentos, concentração, foco para começar e terminar uma tarefa, atenção aos combinados e à organização e, principalmente, uma boa socialização.

Conceitos que vão de habilidades motoras a questões emocionais são conquistados nesse rico momento do desenvolvimento, que começa no berçário e vai até os 5 ou 6 anos de idade. "Nessa fase só há um jeito de aprender: brincando", é o que diz a psicóloga Maria Lúcia Rodrigues, que há 40 anos fundou a escola Chez L’Enfant, no bairro Santo Agostinho, e é especialista em desenvolvimento infantil. A escola, que atende do berçário ao último ano da educação infantil, segue a linha construtivista, que valoriza a experiência no aprendizado. "Nascemos como instituição montessoriana e valorizamos a liberdade com responsabilidade", afirma Maria Lúcia. Ela reforça que o ambiente da escola também deve ser preparado para as descobertas. "A criança aprende de forma lúdica, por isso os materiais utilizados são tão importantes." Brincando, meninas e meninos vivenciam conceitos como respeito às regras e aos colegas, noções de responsabilidade, além do conteúdo acadêmico. "Os  alunos são observados de muito perto e o comportamento é a base de tudo. Por isso, vários pontos são muito importantes, como a qualidade dos professores e a proximidade da família com a escola", diz. "É um tempo fundamental para a formação da personalidade."

Ana Amélia Rigotto, diretora pedagógica da Escola Montessori, com as crianças Clara Gomes e Duda Resende:
Ana Amélia Rigotto, diretora pedagógica da Escola Montessori, com as crianças Clara Gomes e Duda Resende: "Capacidade de concentração, autonomia e organização são habilidades a serem desenvolvidas na educação infantil" (foto: Samuel Gê/Encontro)
A missão da educação infantil é cuidar de cada fase do desenvolvimento da criança. Assim, com essa etapa cumprida, ao chegar aos 6 anos a meninada se sente preparada para seguir em frente. É o caso de Helena, que está ansiosa pelo ensino fundamental. A menina se prepara para se despedir da escola onde estuda desde bem pequena e, aos 5 anos, tem grandes expectativas para 2019. A mãe, a engenheira civil Liliane Rossi, também está tranquila, mas conta que no passado não foi bem assim. Helena vai para o mesmo colégio de Diogo, seu irmão mais velho. Já ter passado pelo processo uma vez reduz a tensão da família. Liliane lembra que teve alguns receios quando o filho, agora com 9 anos, enfrentou a transição do ensino infantil para o fundamental:  "Ele iria encontrar uma sala cheia de colegas novos, uma escola com muitos alunos e teria o desafio de formar novos vínculos em um espaço físico muito diferente, bem maior. Tive até medo de ele se perder na escola". Ela lembra que um facilitador foi a boa bagagem que o filho trouxe da etapa anterior: "Como não teve dificuldades pedagógicas, ele pôde se dedicar à socialização." Com a experiência prévia, Liliane acredita que Helena vencerá os desafios com naturalidade, assim como Diogo. "Acho que vou sentir muita falta da creche, onde todos nos conhecem bem", diz.

Especialistas concordam que muitas vezes existe uma ansiedade dos pais quanto ao ensino fundamental e ao processo de alfabetização dos filhos, mas o ideal é que a criança aprenda a ler e a escrever sem pressa. "Se a criança desenvolve bem as habilidades esperadas para essa fase da infância, como a capacidade de concentração e autonomia, tem a vivência em comunidade, ela fará uma boa transição para o ensino fundamental, com o alto grau de organização que esta etapa exige, terá os elementos que vão ajudá-la a ter ótima aprendizagem, em qualquer escola que a família escolha," defende Ana Amélia Rigotto, coordenadora pedagógica da Escola Montessori, no bairro Serra. Segundo ela, a criança aprende com experiências tendo o professor como mediador do conhecimento, e essa etapa deve ser vivenciada sem atropelos. "Não é preciso correria ou adiantar um conteúdo acadêmico, pois todas as fases da infância devem ser respeitadas. A partir dos 3 anos e meio, a criança já sente, naturalmente, muito interesse pelo mundo das letras." Ana Amélia considera que a escola "grande" também precisa fazer o seu dever de casa e estar preparada para receber os pequenos novos alunos,  ainda preservando características da primeira infância, como o acolhimento.

Maria Lúcia Rodrigues é especialista em desenvolvimento infantil e há 40 anos fundou a escola Chez L'Enfant:
Maria Lúcia Rodrigues é especialista em desenvolvimento infantil e há 40 anos fundou a escola Chez L'Enfant: "O ambiente da escola deve ser preparado para as descobertas infantis" (foto: Samuel Gê/Encontro)
Até os 7 anos, a personalidade está sendo formada e esse é um período muito rico para a aprendizagem de conhecimentos e autonomia. "É uma época para se aprender a socialização, a expressão dos desejos", diz Maria Claret, diretora pedagógica da escola Bilboquê, que funciona há 26 anos com unidades no Buritis e no Gutierrez. Segundo Claret, quando chega a hora de seguir para uma escola maior, a criança deve ter sido preparada para os novos desafios. De acordo com sua faixa etária, deve estar pronta para a convivência com o outro e para lidar com as frustrações do dia a dia, além de ter noção de limites e de solução de problemas em grupo. "São muitos os aspectos que devem ser bem formados na educação infantil para garantir uma boa transição", diz a diretora. Ela concorda, no entanto, que este é um momento que pode ser delicado para as famílias, que terão de formar novos vínculos e se reorganizar. "Por isso, temos todo um cuidado em ajudar os pais a conhecer as características de cada instituição, observando o perfil de cada criança."

A escola Bilboquê atende do berçário ao 1º ano do ensino fundamental. "Muitas crianças chegam aqui ainda bebês e seguem para o ensino fundamental já com a alfabetização garantida." Ana Luisa Flôres, de 6 anos, fez essa trajetória. Ela chegou à escola no berçário. Em 2019, segue para o 1º ano e o colégio já está escolhido. "Ana Luisa lê e escreve bem para sua faixa etária e já conversa sobre a mudança que vem por aí", diz a mãe, a dentista Juliana Flôres, que admite sentir um friozinho na barriga com a mudança. Afinal, a escola espaçosa, lúdica, segura, onde a menina é conhecida por todos, vai dar lugar a um universo maior.  "A educação infantil é um período riquíssimo para o desenvolvimento humano", observa Ubirani Lucena, psicóloga e assistente da diretoria do Instituto Tarcísio Bisinotto, no Belvedere, que atende crianças do berçário aos 6 anos. "Trabalhamos para que a transição para uma escola maior seja lúdica." No último ano, as crianças aprendem sobre o novo colégio e recebem noções de conceitos como nota e rotina com vários professores. "Nesse momento, elas já conseguem falar de seus desejos, sabem conviver. É uma época às vezes tensa para as famílias, mais do que para as crianças", observa. Para lidar com a questão, a escola acolhe os pais, conversando sobre o perfil das várias escolas possíveis e alertando que uma primeira decisão nem sempre é definitiva. "Trabalhamos com as famílias um ponto importante e cientificamente comprovado: felicidade é termômetro de aprendizagem. Por isso nem sempre a escola do ensino fundamental tem de ser a mesma do ensino médio. Mudanças são absolutamente normais."

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