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Estado de Minas HISTÓRIA DE VIDA | FÉLIX NAGIB TOLENTINO

Mineiro narra sua luta contra o Parkinson

Félix Nagib Tolentino conta como o otimismo, a serenidade e a descoberta de atividades prazerosas foram armas poderosas na batalha contra a doença degenerativa


postado em 12/12/2018 13:40 / atualizado em 12/12/2018 14:16

Felix tem um espaço especial reservado para ferramentas no seu apartamento:
Felix tem um espaço especial reservado para ferramentas no seu apartamento: "Essas pequenas coisas representam minhas armas nessa luta", diz. (foto: Ronaldo Dolabella/Encontro)
Há 11 anos, a vida de Felix Nagib Tolentino sofreu uma reviravolta. Ele havia acabado de se aposentar quando descobriu que estava com Parkinson. As duas mudanças, que poderiam trazer reflexos dramáticos ao seu dia a dia, foram encaradas como desafios para esse mineiro do Serro, que é também fotógrafo, cinegrafista, editor de vídeos, pedreiro, eletricista, mecânico e técnico em eletrônica. Hoje, aos 73 anos, considera-se um homem mais feliz. O segredo? "Encher a vida com atividades prazerosas, ter otimismo, carinho pelas pessoas e serenidade", diz. Em seu depoimento a Encontro, ele conta como a busca pelo equilíbrio da mente ajudou no combate à doença e seus sintomas mais comuns, como quedas constantes, tremura, demência, lentidão no raciocínio e depressão.

Doença

Li muito sobre o Parkinson e concluí que é a antecipação da velhice. A pior coisa é a demência. Há 11 anos, em uma consulta a um neurologista, ele viu meus pés tremendo. Depois de seis meses, o Parkinson foi detectado. Decidi lutar contra ele de forma positiva e os resultados têm me surpreendido. É óbvio que minhas constatações são apenas opiniões pessoais, sem nenhum cunho científico. Em nenhuma hipótese tenho a irresponsabilidade de receitar, indicar ou sugerir qualquer ação que possa representar um tratamento médico. Acredito que cada pessoa tem suas características próprias, suas tolerâncias, e por isso nem tudo o que é bom para mim, necessariamente, seria também bom para outras pessoas.

Otimismo

As mudanças na minha vida depois que descobri o Parkinson me levam a não ter dúvidas do poder do nosso cérebro sobre o funcionamento do corpo. Eu acho que a cabeça comanda o corpo de forma fantástica. Se você fala que é infeliz, vai ser infeliz. Estabeleci a meta de estar sempre positivo e alegre. Rejeito conversas negativas. Quem lamenta e reclama da vida está fadado a piorar. É sempre bom correr atrás do que é prazeroso para você. Parece difícil, mas é importante procurar ouro no fundo da terra. Ao longo dessa diminuta vida que temos, vamos seguindo em frente e garimpando momentos de alegria e felicidade. E elas não chegam no momento em que conseguimos a nossa meta. Seguem conosco através da expectativa que é criada ao longo do tempo em que estamos garimpando. Felicidade não é o passado, tampouco o futuro. É o presente.

Carinho

O carinho está intimamente ligado ao "estar de bem com a vida". O nosso cérebro nos informaconstantemente: use carinho. Ele é o melhor remédio, às vezes, a cura. O remédio pode até curar, mas geralmente tem gosto ruim, muitas vezes custa caro e traz efeitos colaterais. Carinho traz alegria tanto para quem oferece quanto para quem recebe. Se não cura, certamente ajuda a curar, é agradável, gostoso, não tem efeitos colaterais nem precisa de receita médica. Ele pode ser oferecido através de um gesto, de uma palavra, de um presente, de um toque de mão, um olhar, um favor... Pode estar certo de que você estará levando um pouco de alegria e certamente recebendo de volta os benefícios. Eu digo, com toda a certeza, que, em qualquer atitude carinhosa que faço, eu me sinto mais alegre do que quem a recebe, e não raro isso me proporciona incluir alguém nas minhas relações de amizade.

Agradecimento

Agradecer é uma ação da mesma família do carinho. Agradeça sempre. Essa é uma delicadeza que faz bem. Tenho a convicção de que, se não fossem as atitudes e participações de pessoas na minha vida, eu provavelmente não estaria hoje tão feliz. Eu me considero mais feliz hoje. Só tenho a agradecer pelo privilégio e sorte de ter encontrado, ao longo da vida, a minha mulher, Luzia, e ter tido meus filhos Ricardo, Silvia e Letícia, meus genros e nora, meus netos Gabriela, Guilherme, Miguel e Helena, meus irmãos, meus familiares e amigos, e meu médico, Francisco Cardoso, neurologista especializado em movimentos involuntários. Ele é, sem dúvidas, o grande general dessa guerra. Eu, como soldado, cumpro rigorosamente as ordens do comandante, mas paralelamente venho experimentando métodos que possam oferecer melhoria na minha qualidade de vida. Sou curioso, corro atrás. Um homem motivado consegue mais vitórias do que um inteligente. Só não tenho como agradecer aos meus inimigos. Isso porque não os tenho.

Estresse

Estou me especializando em combater o estresse. Às vezes sentia o reflexo do nervosismo na tremura. Tento seguir o conselho de um primo, que considero meu guru: se por algum motivo estiver na iminência de brigar, discutir e se alterar, reserve 30 segundos para pensar qual o benefício terá se ganhar o conflito. E se perder, que prejuízos terá? Se a briga tem o objetivo de lhe proporcionar algum benefício importante e melhorar sua vida, então entre nela e faça tudo para ser vitorioso. Porém, se o motivo da discórdia é somente o desabafo, dê uma de fraco e corra do problema o mais rápido que puder. É melhor evitar o desgaste e preservar sua saúde do que se estressar por nada.

Ocupação

Eu sou pintor, meio pedreiro, eletricista, mecânico, meio técnico em eletrônica, fotógrafo, cinegrafista e editor de vídeo. E ainda tenho participação em algumas associações. Obviamente que não sou bom em todas as atividades, mas posso garantir que todos esses trabalhos são bons para mim. Meu conselho: ocupe seu tempo. Eu não sei explicar o motivo, mas posso garantir que é bom para você.

Depressão

Apesar de ser um sintoma muito comum entre os portadores de Parkinson, eu nunca tive, não tenho e digo que não terei depressão. Eu não tenho tempo para ter depressão. Meu tempo é todo tomado com atividades prazerosas de várias espécies. Às vezes sou criticado pelo meu interesse em estar sempre procurando algo novo para conhecer ou comprar pequenas coisas interessantes. Mas essas pequenas coisas representam minhas armas nessa luta.

Atividade física


Faço fisioterapia e hidroginástica todas as semanas. Ajuda a melhorar as condições dos órgãos afetados pelo Parkinson. Quem tem a doença tende a andar curvado para frente e com dificuldades de levantar a perna ao caminhar.  Eu nunca tive isso, nunca caí. Faço exercícios para ajudar a combater a evolução da doença e incentivar movimentos e o equilíbrio.

Medo

Desafie e jogue fora os seus medos. Se você tem medo do escuro, apague a luz e desafie o medo. Tem medo de chuva com raio? Vá para a janela e, no lugar de se fixar nos raios, assista ao espetáculo da vida e da natureza. É assim que vivo.

(Depoimento a Geórgea Choucair)

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