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Estado de Minas MINEIROS DE 2018

Angélica Thomáz Vieira

Professora da UFMG ganhou, em 2018, prêmio internacional ao pesquisar os efeitos da boa alimentação no combate às superbactérias


postado em 02/01/2019 14:52 / atualizado em 02/01/2019 17:07

Angélica lembra que mesmo na infância sempre gostou de jogos de alquimia:
Angélica lembra que mesmo na infância sempre gostou de jogos de alquimia: "Não tinha ideia de como seria minha carreira, mas sabia que faria biologia" (foto: Aline Massuca/Divulgação)
Na primeira semana de aula na faculdade de biologia, Angélica Vieira descobriu que dava para tentar um estágio de iniciação científica na UFMG, mesmo sendo aluna de outra escola. Em busca da vaga, a estudante aventurou-se pelos corredores do desconhecido Instituto de Ciências Biológicas (ICB), no campus da Pampulha. Sem carta de recomendação, o recurso era bater a todas as portas. Demorou um pouco, mas a estratégia funcionou. No laboratório de imunofarmacologia alguém, enfim, abriu o caminho: "Fui recebida, com toda confiança, pelo professor Mauro Martins Teixeira", lembra a cientista, vencedora em 2018 do prêmio promovido pela L’Oréal, Unesco e ABC (Academia Brasileira de Ciências) para Mulheres na Ciência. Hoje professora do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, Angélica encontrou no próprio organismo humano a chave para a cura de superbactérias que surgem resistindo aos antibióticos mais potentes e desafiando a saúde pública.

Maçãs, limão, polpa da beterraba. Uma dieta rica em fibras, incluindo as frutas cítricas, ninguém deveria dispensar. Nesses alimentos são encontradas substâncias valiosas, como a pectina e fibras, que podem comprovadamente trazer muitos benefícios para a saúde. Ao regular a flora intestinal, os alimentos ajudam a prevenir doenças inflamatórias como gota, artrite, pneumonia, colites. "Já tenho demonstrado que uma dieta saudável, rica em frutas, legumes e grãos, é um tratamento potente no combate às bactérias normais", diz a pesquisadora. "Agora, a novidade da pesquisa é demonstrar que o equilíbrio da microbiota (flora intestinal) pode ajudar a combater também as bactérias muito resistentes ao antimicrobianos." A dieta saudável, composta por itens como a casca da maçã, frutas, legumes e cereais, fortalece as "boas" bactérias que vivem no corpo humano. Essas bactérias benéficas secretam algumas substâncias que vão ativar e fortalecer as células imunológicas no organismo. Ao mesmo tempo, o contrário também pode acontecer. As dietas ricas em gorduras e alimentos muito processados, como as típicas fast-foods, favorecem o crescimento de bactérias que podem ser patogênicas, provocando o aparecimento de doenças crônicas, ligadas a esse desequilíbrio da flora. Um exemplo de bactéria que pode ser combatida com o equilíbrio da flora é a Klebsiella pneumoniae, conhecida como a superbactéria causadora da pneumonia.

Mãe de dois filhos, Angélica está de licença-maternidade na França, mas a produção científica não para. Ela estuda novas estratégias e modelos experimentais de modulações para seus estudos no centro de pesquisa francês CNRS, localizado em Strasbourg. Em tempos de verbas miúdas para a pesquisa, Angélica terá 50 mil reais para investimentos diversos, como compra de materiais e produtos para sua pesquisa.

Primeira cientista de sua família, já na infância Angélica costumava brincar de misturar produtos. Os jogos de alquimia eram seus preferidos. "Não tinha ideia de como seria minha carreira, mas sabia que faria biologia." Seus estudos caminham para mostrar com mais profundidade o poder dos alimentos para uma vida com mais saúde. Como diz um velho ditado americano: "An apple a day keeps the doctor away" (uma maçã por dia mantém o médico longe).

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