Publicidade

Estado de Minas ALIMENTAÇÃO NATURAL

Alimentos agroecológicos ganham espaço na mesa dos mineiros

Parceria entre produtores e compradores tem trazido benefícios para os dois lados


postado em 28/02/2020 16:00 / atualizado em 21/09/2020 16:48

O engenheiro civil Guilherme Figueiredo criou o Orgânico do Chico para otimizar as vendas de agroecológicos em BH:
O engenheiro civil Guilherme Figueiredo criou o Orgânico do Chico para otimizar as vendas de agroecológicos em BH: "Percebemos que o principal motivo do baixo consumo não era a escassez de agricultores, mas sim a falta de acesso aos produtos" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Direto da horta para dentro da casa do consumidor. Produtos frescos, diversificados e o melhor: livre de agrotóxicos. Com o avanço da agroecologia, campo e cidade estão cada dia mais conectados. E a parceria entre produtores e compradores tem trazido benefícios para os dois lados. Os pequenos agricultores têm o escoamento de suas mercadorias garantido, independentemente da época do ano. Sem sofrer as pressões do mercado, podem planejar o orçamento familiar e se dedicar ao cultivo dos alimentos orgânicos. Na outra ponta, os clientes, tidos como co-agricultores, recebem semanalmente produtos saudáveis, com procedência de origem e preço justo. É um modelo de negócio sustentável já utilizado em vários países e trazido para o Brasil pelo alemão Hermann Pohlmann, com graduação em design com ênfase em sustentabilidade.

A engenheira de produção Clara Luiza Santiago e a servidora pública Maria Julia Ferreira (à dir.), que aderiu às cestas agroecológicas da Casa Horta:
A engenheira de produção Clara Luiza Santiago e a servidora pública Maria Julia Ferreira (à dir.), que aderiu às cestas agroecológicas da Casa Horta: "É a oportunidade de ter uma alimentação mais saudável e contribuir com pequenos produtores", diz Maria Julia (foto: Violeta Andrada/Encontro)
O movimento chamado Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA) viabiliza o financiamento da produção agrícola, que passa a ser feito pela própria população mediante pagamento de mensalidade. Para os adeptos da prática, mais do que uma relação de consumo, é uma mudança de consciência que agrega componentes socioculturais, econômicos, técnicos e ecológicos. Onde ciência e saber tradicional andam de mãos dadas. O objetivo é rever os métodos convencionais de manejo da terra, de forma a aperfeiçoar o agrossistema. "É um modelo que investe nos laços de parceria e nega uma postura de exploração centrada no lucro", diz Clarice Lacerda, da CSA Nossa Horta.

Para Danilo Cezar Tôrres, da cooperativa de orgânicos COOPAS, é preciso saber o que se põe no prato:
Para Danilo Cezar Tôrres, da cooperativa de orgânicos COOPAS, é preciso saber o que se põe no prato: "Já está mais do que comprovado que os agrotóxicos provocam inúmeras doenças, além de grave impacto ambiental" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
Fundado em 2015 na capital mineira, o grupo é formado por produtores e consumidores que investem na produção orgânica, compartilhando riscos e êxitos. "Acompanhamos o plantio, que é dividido em estágios, para estimular os produtores a aprimorarem suas técnicas de cultivo", diz Clarice. "Além de contar com apoio de um técnico agrônomo que acompanha a produção." Pesquisas apontam que a capacidade de cultivo na agroecologia é até dez por cento maior que no agronegócio. No entanto, não basta apenas maximizar a produção. É necessário seguir à risca algumas práticas. O processo tem de ser natural, sem adubos químicos. Respeitando sempre as características locais e a sazonalidade. Também é preciso manter a proteção do solo, a rotação de culturas e o consumo consciente de água.

Apesar de o Brasil ter ganho o título de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, a agroecologia vem para mudar esse cenário, se contrapondo à monocultura, à concentração de terras e à alta mecanização. A lida na terra e o cultivo dos alimentos são feitos com respeito e gratidão. "É um sistema que não empobrece o solo, muito pelo contrário. Quanto maior a diversidade, mais equilibrado fica", diz o agricultor Lucas Faria Machado. Ele é um dos vários produtores que abastecem a mesa dos moradores de Belo Horizonte e região metropolitana. Do Sítio das Mangueiras, localizado na cidade de Florestal, saem verduras e legumes fresquinhos e saudáveis. Em casa, ou nos pontos de vendas, os consumidores recebem cestas agroecológicas com o que a natureza fornece na época. E o fator surpresa é sempre agradável. "Às vezes chegam produtos que eu nunca experimentei. É a oportunidade de conhecer novos sabores", diz a servidora pública Maria Julia Ferreira e Silva. Outros atrativos, conta ela, são a comodidade e a satisfação de auxiliar pequenos produtores. O movimento das CSAs permite que os colaboradores participem de todas as fases da produção do alimento, do plantio à colheita. Em sua visão, as visitas às hortas resgatam sentimentos que muitas vezes se perdem no dia a dia. Entre eles a importância da valorização dos recursos naturais.

Para o agricultor Lucas Machado, do Sítio das Mangueiras, em Florestal, a lida na terra e o cultivo dos alimentos têm que ser feitos com respeito e gratidão:
Para o agricultor Lucas Machado, do Sítio das Mangueiras, em Florestal, a lida na terra e o cultivo dos alimentos têm que ser feitos com respeito e gratidão: "Quanto maior a diversidade, mais equilibrado fica" (foto: André Luppi/Divulgação)
A engenheira de produção Clara Luiza Santiago Lacerda percebeu que várias famílias querem mesmo é ficar no campo e viver da terra. Mas que isso nem sempre é possível por falta de recursos financeiros. Em 2016, decidiu ajudar. "A Casa Horta nasceu com o objetivo de fazer a ponte entre esses dois mundos", diz. Hoje, faz parceria com agricultores de Gonçalves, Capim Branco, Divino, Jaboticatubas, Florestal e Ravena. Seguindo os mesmos princípios, em 2018 nasceu o Orgânico do Chico. Junto com o pai, o engenheiro civil Guilherme Maciel Figueiredo viu a necessidade de otimizar os pontos de vendas dos alimentos agroecológicos em BH. "Percebemos que o principal motivo do baixo consumo não era a escassez de agricultores, mas sim a falta de acesso aos produtos", diz. Passou a atender a todas as regiões da capital, Vila da Serra e Contagem distribuindo, semanalmente, cerca de quarenta variedades entre legumes, hortaliças, temperos e frutas. "O produtor só colhe aquilo que já foi vendido. Não existe desperdício", diz.

Em Belo Horizonte também foi fundada, em 2016, a Cooperativa de Alimentos Orgânicos (COOPAS). Os alimentos frescos vêm principalmente do município de Capim Branco. Para Danilo Cezar Tôrres Chaves, diretor-presidente, é preciso saber o que se põe no prato. "Já está mais do que comprovado que os agrotóxicos provocam inúmeras doenças, além de grave impacto ambiental", diz. "Depende de nós mudarmos essa realidade." Ele lembra que sem a cooperação dos consumidores, a agricultura familiar não sobrevive. Para quem acredita que ‘somos aquilo que comemos’, sempre é tempo de mudar os hábitos. Na capital mineira o preço das cestas agroecológicas varia entre R$ 40 e R$ 85, de acordo com o tamanho. A saúde agradece. 

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade