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Estado de Minas ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Como os museus de Belo Horizonte planejam reabrir

Capacidade limitada, palestras pela internet e união entre digital e físico devem marcar volta de centros culturais


postado em 22/07/2020 13:40 / atualizado em 22/07/2020 15:54

Invenção da Cor, de Helio Oiticica: mesmo com as portas fechadas, algumas das obras do Inhotim ainda podem ser visitadas, do conforto de casa(foto: Brendon Campos/Divulgação)
Invenção da Cor, de Helio Oiticica: mesmo com as portas fechadas, algumas das obras do Inhotim ainda podem ser visitadas, do conforto de casa (foto: Brendon Campos/Divulgação)
Durante meses, a Monalisa não sorriu para ninguém no Louvre, a Pedra de Roseta não foi lida por nenhum turista no British Museum e os retirantes de Cândido Portinari ficaram ainda mais solitários dentro do Masp. A pandemia do novo coronavírus atingiu com força os museus ao redor do mundo, obrigando instituições centenárias a reverem os seus métodos para se adequarem ao novo normal. Afinal, as obras mais famosas de cada lugar sempre formaram pequenas aglomerações.

> Leia mais: Saiba como outros segmentos se preparam para a reabrir em Belo Horizonte

Nos países em que a curva de novos casos está diminuindo, alguns museus começam a reabrir suas portas com segurança. Em Paris, o Louvre voltou a receber público. A Monalisa, tão acostumada a multidões na sua frente, agora poderá ser vista de perto por apenas duas pessoas de cada vez. Quem quiser se aproximar da obra prima de Leonardo Da Vinci terá que esperar em uma fila, com espaços de 1,5 metro entre cada um. Mesmo com uma área de 30 mil metros quadrados abertos para visitação, o Louvre limitou a sua capacidade para no máximo 500 pessoas simultaneamente. Já na Alemanha, onde os museus estão abertos desde o dia 6 de maio, algumas galerias usaram a tecnologia para garantir aos visitantes uma experiência parecida com a do mundo antes da Covid-19. Quem quiser conferir as obras de Monet no Museu Barberini, localizado perto de Berlim, precisará do celular em mãos. A instituição desenvolveu um aplicativo que faz as vezes de bilheteria e de guia. Nele, é possível comprar os ingressos para a exposição e fazer um audioguia pelos principais trabalhos do pintor francês. Na China, a Cidade Proibida voltou a abrir os seus portões no dia 1º de maio. Porém, os visitantes não poderão entrar nos espaços fechados, além de terem de responder a um questionário sobre sua exposição ao vírus e passar por uma medição de temperatura para terem entrada liberada. Quem quiser dar uma olhada no interior dos cômodos usados pelos imperadores chineses terá de fazê-lo do lado de fora, respeitando a distância mínima definida pelas cordas de segurança.

O gestor do Memorial Minas Gerais Vale, Wagner Tameirão, ficou impressionado com o alcance das ações nas redes sociais:
O gestor do Memorial Minas Gerais Vale, Wagner Tameirão, ficou impressionado com o alcance das ações nas redes sociais: "Tudo isso mostrou para nós que o digital não é mais só um suporte, ele também é parte do que o museu pode oferecer para pessoas de todos os lugares" (foto: Gustavo Pessoa/Divulgação)
Os museus de Belo Horizonte também encontraram na tecnologia uma poderosa aliada. Apesar da distância física, as galerias da cidade continuam abertas ao público. Só que de um jeito diferente. "Nossa primeira atitude, após o fechamento por causa da pandemia, foi aprimorar a visita virtual", diz o gestor do Memorial Minas Gerais Vale, Wagner Tameirão. "As portas estão fechadas, mas nós não paramos." Quem acompanha o trabalho do museu nas redes sociais encontra sempre algo novo para aprender. Durante a pandemia, o espaço publicou oficinas gratuitas com aulas de forró, culinária, dança afro e brincadeiras para toda a família, além de um extenso material com várias aulas de bordado, indo das técnicas mais simples até as mais desafiadoras. "Mas um dos meus momentos preferidos foi o show em homenagem ao Clube da Esquina, com Bárbara Barcellos, Beto Lopes e Telo Borges", lembra Wagner. "Tudo isso mostrou para nós que o digital não é mais só um suporte, ele também é parte do que o museu pode oferecer para pessoas de todos os lugares."

Já o Inhotim se aproximou ainda mais das pessoas, apresentando um lado do museu visto por poucos. Por meio de uma série de vídeos publicados em suas redes sociais, a instituição levou o público para um passeio pelo processo invisível que possibilita as realizações das belíssimas exposições, mostrando cenas exclusivas dos processos de restauração e montagem das galerias. E se bater aquela saudade mais forte das obras do Inhotim, você pode ir na plataforma Google Arts & Culture para uma visita virtual. "Nosso objetivo com as ações online não é substituir ou tentar transmitir o sentimento de, efetivamente, estar no Inhotim. Mas sim criar novas experiências", diz o diretor-presidente do museu, Antônio Grassi. "São conteúdos feitos para somar." Indo além das galerias, o Inhotim também não deixou as suas outras ações desamparadas. Criado em 2012, o projeto Escola de Cordas ensina jovens entre 10 e 18 anos a tocar violino, violoncelo, viola e contrabaixo. "A escola mobiliza 82 alunos de Brumadinho, proporcionando o ensino gratuito de música, agora com as aulas on-line", afirma Grassi. "Todas essas são maneiras que encontramos de reafirmar a função do Inhotim como instituição museológica produtora de cultura."

Exposição Vaivém, do Centro Cultural Banco do Brasil: na reabertura, ninguém poderá deitar nas redes da instalação(foto: CCBB/Divulgação)
Exposição Vaivém, do Centro Cultural Banco do Brasil: na reabertura, ninguém poderá deitar nas redes da instalação (foto: CCBB/Divulgação)
O fechamento dos museus não impactou só o público. Se as portas estão fechadas, onde os artistas poderão exibir os seus trabalhos? "Por isso nós lançamos um edital durante a pandemia, à procura de conteúdo para os anos de 2021 e 2022. É o nosso papel fomentar a cultura", diz o gerente geral do CCBB BH, Leonardo Camargo. "Ao todo, foram mais de 10 mil projetos inscritos." Antes da crise do novo coronavírus, as exposições do museu eram conhecidas pelas suas ferramentas interativas. Mas esta característica terá de ser deixada de lado por enquanto. A exposição Vaivém, que aborda a relação entre as redes de descanso e a cultura brasileira, foi aberta uma semana antes do fechamento dos museus. Quando as portas do CCBB voltarem a abrir, porém, ela não será mais a mesma. "A Rede Social, uma obra composta por várias redes interligadas onde as pessoas podiam deitar, não poderá voltar", diz Leonardo. "Nesse novo normal, temos de nos preocupar ainda mais com a segurança do público." E para evitar as aglomerações indesejadas, o museu também apostou no uso das plataformas digitais. O projeto CCBB Educativo, composto por oficinas que estimulam a imaginação das crianças, ganhou um site exclusivo. Lá é possível encontrar vários tipos de brincadeiras a serem feitas com materiais encontrados em casa. "Quando reabrirmos, será com esse projeto híbrido", afirma Leonardo. "Por um lado é bom, pois assim podemos levar os trabalhos do CCBB para além dos nossos quatro centro culturais."

"Hoje, nós não temos mais uma fronteira física", conta a gestora de cultura da Casa Fiat, Ana Vilela. "As redes, que antes eram canais de divulgação, se tornaram o lugar ideal para realizar a nossa programação." O museu encontrou formas criativas de driblar o período de distanciamento social, levando cultura e história para dentro das casas. Quem perdeu as últimas exposições, com obras de Tarsila do Amaral ou Caravaggio, pode acompanhar uma rica recapitulação dos autores e conceitos na série de vídeos Casa Fiat com Você. Já para aqueles que gostam de colocar a mão na massa, o museu criou o Cultura na Cozinha, quadro que conta a história e as características principais por trás de ingredientes e comidas presentes no nosso dia a dia. "Também teve oficina de origami, palestras e exposição online, para o Dia dos Namorados."

E assim como em várias outras áreas, a pandemia do coronavírus também aproximou ainda mais os museus do Circuito Liberdade. CCBB, Casa Fiat de Cultura, Museu das Minas e do Metal e Memorial Minas Gerais Vale se juntaram para produzir um evento juntos, pela primeira vez na história das instituições. "Cada equipe está compartilhando a sua expertise com os outros, neste processo 100% colaborativo", conta Ana Vilela. "Foi uma ideia que simplesmente surgiu. Costumo dizer que os momentos difíceis também trazem possibilidades incríveis." Batizada de Conversas sobre Perguntas, a série de webinários produzida pelos museus terá como ponto principal o debate sobre como será o futuro do nosso mundo após a pandemia. Ao longo de quatro semanas, entre julho e agosto, as conversas entre especialistas de áreas como filosofia, psicanálise, ciências e espiritualidade acontecerão nas redes sociais de um dos quatro museus participantes. "Queremos estimular o nosso público a pensar em como será essa transformação", diz Ana. Os webinários terão a presença de nomes como da futurista Lala Deheinzelin (eleita pela ONG P2P Foundation como uma das 100 mulheres que estão transformando a sociedade), do psicanalista Christian Dunker  e do ambientalista e líder indígena Ailton Krenak.

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