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Estado de Minas ESPORTE E LAZER

Vendas de bikes, peças e acessórios disparam em BH durante a pandemia

Lojistas comemoram e ciclistas apontam a bicicleta como fundamental para evitar estresse do isolamento social


postado em 20/08/2020 23:14 / atualizado em 20/08/2020 23:35

A bike shop Tripp Aventura, no bairro de Lourdes: vendas triplicaram durante a pandemia(foto: Diego Sanches/Divulgação)
A bike shop Tripp Aventura, no bairro de Lourdes: vendas triplicaram durante a pandemia (foto: Diego Sanches/Divulgação)
Uma crise econômica avassaladora foi sentida na maioria dos setores do mercado desde a chegada da pandemia do novo coronavírus. Mas não se pode dizer isso quando o assunto é o segmento de bicicletas. As magrelas estão em alta. As vendas cresceram exponencialmente, sobretudo porque o número de ciclistas também aumentou de forma significativa. Esse fenômeno vem sendo observado em diversas metrópoles brasileiras, e a situação não é diferente em Belo Horizonte, mesmo com as lojas atendendo, durante muito tempo, de portas fechadas e recebendo clientes de forma individual, com agendamento prévio, devido às restrições de funcionamento do comércio e às medidas de isolamento social.

Mariana Normanha e o marido, Dennys Fonseca: planos para abrir bike shop começaram antes da pandemia e a expectativa de sucesso aumentou com o aquecimento do mercado nos últimos meses(foto: Arquivo pessoal)
Mariana Normanha e o marido, Dennys Fonseca: planos para abrir bike shop começaram antes da pandemia e a expectativa de sucesso aumentou com o aquecimento do mercado nos últimos meses (foto: Arquivo pessoal)
O momento é ótimo também para quem está iniciando nessa área, claro. Caso da empresária Mariana Normanha, diretora executiva do grupo de concessionárias de veículos Tecar, que decidiu embarcar no universo das bicicletas. Ela e o marido, Dennys Teixeira Fonseca, vão inaugurar, em setembro, uma representação da marca mineira Sense. "Nosso planejamento começou antes da pandemia chegar ao Brasil", diz Mariana. "A expectativa, que já era muito boa porque sabíamos da qualidade da Sense e do público fiel à marca, se tornou ainda melhor com o aquecimento do mercado nos últimos meses." O novo empreendimento do casal ficará localizado na avenida Miguel Perrela, no bairro Castelo, na região da Pampulha. A loja de 300 metros quadrados, além da venda de bikes, peças, acessórios e itens de vestuário, terá disponíveis serviços de manutenção e reparo. "A bicicleta, que para muitos era apenas diversão ou um meio de transporte, tornou-se, com a pandemia, um objeto muito presente no cotidiano, que transmite valores e propósitos para a vida das pessoas", afirma Mariana.

O empresário Júlio Pereira, líder de um grupo de ciclistas da região leste da capital mineira:
O empresário Júlio Pereira, líder de um grupo de ciclistas da região leste da capital mineira: "Somado à redução da carga de trabalho em alguns casos, o estresse do isolamento social levou muita gente a comprar uma bicicleta" (foto: Arquivo pessoal)
Já consolidado no segmento, o empresário Alex Cheib, proprietário da bike shop Tripp Aventura, localizada no bairro de Lourdes, região sul da capital mineira, afirma que suas vendas triplicaram nos últimos meses. "Estou no mercado há 20 anos e nunca vi nada parecido", diz. "Além das vendas de bicicletas, aumentou a saída de peças e acessórios e o movimento cresceu bastante na nossa oficina." Ele relata que a procura maior é pelos modelos de entrada, o que sugere a chegada de uma nova geração de ciclistas. Do outro lado da capital mineira, no bairro Palmares, região nordeste da cidade, as vendas também vão de vento em popa na Campolina’s Bike, que está há 24 anos no mercado. "Estamos vendendo três vezes mais do que antes da pandemia. A situação está ótima, e só não é melhor porque faltam bicicletas e peças no mercado", diz o proprietário, Guilherme Campolina, que afirma haver pelo menos 15 clientes em uma lista de espera para comprar uma bike em sua loja. "As fábricas não estão dando conta da demanda, foram surpreendidas pela alta procura."

No caso específico de seu segmento de mercado, de bicicletas da marca americana Specialized, que possuem componentes de fibra de carbono e, portanto, preços mais elevados, Alex, da Tripp Aventura analisa que os novos ciclistas são pessoas de poder aquisitivo alto. Elas estavam acostumadas a se divertir em viagens e, devido às restrições de destinos internacionais por causa da pandemia, buscaram no ciclismo uma forma de expressar a sensação de liberdade antes proporcionada pelo turismo. O proprietário da Campolinas’s Bike, que trabalha com bicicletas para todos os bolsos, também credita o crescimento das vendas à busca de boa parte da população por opções de fuga das medidas de isolamento social. Guilherme destaca, ainda, que observou aumento no número de clientes do sexo feminino.

Guilherme Campolina, dono da Campolina's Bike:
Guilherme Campolina, dono da Campolina's Bike: "A situação do mercado é ótima e poderia estar melhor ainda caso não estivessem faltando bicicletas e peças nas fábricas" (foto: Arquivo pessoal)
Entre os acessórios, um dos mais procurados, tanto na Tripp Aventura quanto na Campolina’s Bike, é o chamado rolo de treinamento, para quem prefere se exercitar em casa. O equipamento permite que a bicicleta seja acoplada a ele, possibilitando pedalar sem sair do lugar. Para Alex e Guilherme, o público que tem procurado esse acessório é formado pelos frequentadores de academias, já que esses locais precisaram fechar às portas devido às regras da quarentena em BH. Ambos os empresários comentam que o produto chegou a esgotar em suas lojas e os fornecedores estão com dificuldade para repor o estoque em todo o Brasil.

Leonardo Duarte é um desses ciclistas formados durante a pandemia. "Comecei a andar de bike há três meses para aliviar o estresse causado pelo momento que estamos vivendo no país. Além disso, é uma forma de cuidar da saúde. A bicicleta se tornou um vício", conta o eletricista de ônibus que agora se divide entre a profissão, o tempo com a família, e pedalar três vezes por semana - duas no asfalto e uma em trilhas. Com novos adeptos como Leonardo, os grupos de ciclistas cresceram e intensificaram suas atividades desde a chegada do novo coronavírus. O empresário Júlio Pereira, um dos mais experientes dentre os membros de uma turma que se concentra na região leste de Belo Horizonte, conta que o grupo era formado por 10 pessoas antes da pandemia e agora possui 36 ciclistas que pedalam tanto em trechos urbanos quanto em áreas de natureza no entorno da capital mineira em percursos que chegam a 45 quilômetros e três horas e meia de duração. "Somado à redução da carga de trabalho em alguns casos, o estresse do isolamento social levou muita gente a comprar uma bicicleta e buscar nela uma expressão de liberdade e de ocupar o tempo.", diz. "Locais onde, antigamente, encontrávamos poucas pessoas andando de bike, agora chegam a ter centenas."

Escola de manutenção e oficina de bikes no bairro Santa Tereza: movimento de novos alunos e clientes aumentou significativamente nos últimos meses(foto: Escola Park Tool/Divulgação)
Escola de manutenção e oficina de bikes no bairro Santa Tereza: movimento de novos alunos e clientes aumentou significativamente nos últimos meses (foto: Escola Park Tool/Divulgação)
O mercado de manutenção também está aquecido, como confirma Rodrigo Avelar, proprietário da oficina Casa Bikes, no bairro Santa Tereza, na região leste. "A demanda por manutenção praticamente dobrou desde o início da crise do coronavírus", revela ele, que também é dono de uma franquia da Escola Park Tool, instituição que oferece certificado internacional da marca americana de ferramentas, além de ser o único centro de ensino voltado para manutenção de bicicletas em BH. Segundo o empresário, a chegada de novos alunos aumentou em cerca de 50% nos últimos meses. "Além dos profissionais da área que buscam especialização, passamos a ser procurados por pessoas que perderam renda por causa da pandemia e observaram que o mercado de bikes se tornou um celeiro de oportunidades", comenta.

O eletricista de ônibus Leonardo Duarte, que se tornou ciclista graças à pandemia:
O eletricista de ônibus Leonardo Duarte, que se tornou ciclista graças à pandemia: "A bicicleta virou um vício" (foto: Arquivo pessoal)
Uma das principais preocupações tanto dos lojistas quanto dos ciclistas, sobretudo os mais experientes, é com a segurança, uma vez que muitos recém-iniciados nas pedaladas não se preocupam com esse importante aspecto. "Eu recomendo a todos os novos clientes que, além da bicicleta, comprem, no mínimo, luvas, capacete e óculos de proteção", conta Alex Cheib. Guilherme Campolina afirma fazer o mesmo em sua loja. Júlio Pereira aprova a conduta dos empresários do setor e acrescenta que é fundamental para o ciclista saber como se comportar nos trajetos. "Os equipamentos de segurança jamais devem ser deixados de lado. Além disso, tenho observado muitos grupos inexperientes percorrendo trilhas na contramão, colocando em risco a integridade de todos", diz. Em tempos de pandemia, Júlio ressalta que outro equipamento não deve ser esquecido nunca: a máscara.

Andar de bicileta faz bem para o corpo e a mente

Quem busca na bicicleta um alívio, está acertando em cheio. Um estudo publicado em 2017, assinado por pesquisadores 
de diversas nacionalidades e instituições, incluindo as universidades de Zurique, na Alemanha, e Oxford, na Inglaterra, sugere que andar de bike reduz o estresse e a solidão. A pesquisa, que faz parte do projeto “Abordagem da Atividade Física por meio de Transporte Sustentável”, apoiado pela União Europeia, observou, em mais de 3 mil pessoas, questões como ansiedade, depressão 
e vitalidade. Dentre os participantes, aqueles que andavam de bicicleta estavam melhores sob todos esses aspectos em comparação aos que não pedalavam. Bora pedalar!

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