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Estado de Minas ESPECIAL GASTRONOMIA - HERÓIS DA RESISTÊNCIA

Encontro Gastrô 2020 - Conheça os homenageados na categoria Confeitaria


postado em 02/01/2021 11:12 / atualizado em 06/01/2021 14:11

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Nessa edição especial de Encontro Gastrô - O melhor de BH contamos como os estabelecimentos da capital enfrentaram a maior crise já enfrentada pelo setor. Em meio à tempestade que tomou conta do mundo diante do novo coronavírus, todos que sobreviveram à pandemia são vencedores e merecem nossos aplausos.

Confira os homenageados na categoria Confeitaria:


Boca do Forno

Patrícia Bernis, com a mãe, Hilda Maria Coelho de Miranda: em meio à pandemia, inauguração de nova loja no Castelo(foto: Divulgação)
Patrícia Bernis, com a mãe, Hilda Maria Coelho de Miranda: em meio à pandemia, inauguração de nova loja no Castelo (foto: Divulgação)
Geralmente, doces, tortas e salgadinhos não tem muito a ver com exercício físico. Mas, 2020 não está sendo um ano muito normal. "Temos uma equipe de 500 funcionários. São muitas famílias que dependem desses empregos", conta Patrícia Bernis, sócia da Boca do Forno que, junto com os outros gerentes, faz ginástica para manter a sua equipe intacta e segura. Férias, concessões do governo, rodízio, divisão de equipes, mudanças na jornada de trabalho, adoção de protocolos que ajudassem no combate ao novo coronavírus. Tudo isso enquanto era decidido o funcionamento de cada uma das 15 unidades da Boca do Forno. "Foram só nós (os gerentes) e os salgadeiros mais experientes que não tivemos pausa", diz Patrícia. "A pandemia está sendo uma ginástica para todos."

A produção de tortas, doces e salgados continuou firme e forte dentro das cozinhas da Boca do Forno. O que mudou foi o padrão de consumo. As grandes festas, com mesas decoradas por dezenas de quitutes, desapareceram. Mas mesmo em meio a tanta notícias tristes, famílias e amigos ainda tinham motivos para fazer pequenas comemorações em casa. "Um dos produtos que saiu bastante foi a nossa torta pequena, para seis pessoas. Afinal, o pessoal não pode deixar de cantar um parabéns, não é?", afirma Patrícia. "Também retiramos o pedido mínimo de 25 unidades dos salgados, para que as pessoas pudessem fazer as encomendas de acordo com a necessidade."

Também teve outra mudança observada pela empresária durante o período: as festas surpresas. Amigos, parentes e namorados usaram os kits da Boca do Forno para tentar encurtar a distância, encomendando pacotes recheados com doces, salgados e um cartão de presente. "No Dia das Mães, recebemos demandas até de gente que nem estava no Brasil." E apesar de ser um período difícil, a Boca do Forno continua crescendo. Em novembro, a confeitaria inaugurou a sua 15ª unidade. "Estávamos fazendo as obras quando a pandemia chegou e forçou a parar tudo. Mas, mesmo com as dificuldades, não pensamos em desistir de levar a Boca do Forno para o Castelo." Localizada na rua Dr. Sylvio Menicucci, a nova loja da confeitaria fica de frente para o parque municipal Ursulina de Andrade Mello.

Praça Alaska, 36, Sion
(31) 3223-1382
E mais 14 endereços na cidade

Pastelaria Marília de Dirceu

Juliana de Castro conta que mudou diversos processos por causa do delivery:
Juliana de Castro conta que mudou diversos processos por causa do delivery: "Antes, pedíamos que as encomendas fossem feitas com quatro horas de antecedência. Agora, entregamos os pedidos em uma hora" (foto: Divulgação)
Em 28 anos de história, nunca tivemos um ano assim", conta Juliana de Castro, sócia da Pastelaria Marília de Dirceu. Localizada na rua de mesmo nome, a empresa conta com um cardápio que vai além das várias receitas de pastel, com opções de salgados, doces e tortas. Em 2017, a marca expandiu seu cardápio e inaugurou uma linha de produtos fit. Surgiu então o Espaço Marília Fit. Tudo ia bem, até que em janeiro um visitante indesejado invadiu o estabelecimento, à noite. "A enxurrada chegou a uma altura maior que 1 metro dentro das lojas. Perdemos freezers, computadores, um monte de coisa", lembra Juliana. E em março, veio a pandemia.

Com as portas fechadas, a pastelaria teve de se reinventar com rapidez para se adaptar ao novo normal. "Foi um período no qual identificamos vários problemas internos que precisaram ser resolvidos." A frota de carros foi trocada por uma de motos, o que ajudou a reduzir o tempo de entrega dos pedidos. "Antes, pedíamos para que as encomendas fossem feitas com quatro horas de antecedência. Agora, entregamos os pedidos em uma hora", diz Juliana. O período reduzido ajuda a manter a qualidade das estrelas da casa no delivery. Os pastéis são recheados, fritos, embalados e enviados com a maior pressa, para não perder a crocância. A empresa também expandiu sua zona de alcance, passando a fazer entregas na região da Pampulha. "Nós temos uma fábrica no bairro São Francisco. Então, foi apenas questão de adaptá-la para também atender ao delivery."

Já a Marília Fit foi responsável por um dos campeões de venda da quarentena. "Criamos uma série de marmitas congeladas com uma pegada bem saudável, sem abrir mão do sabor", conta Juliana. Os produtos fizeram sucesso principalmente entre as pessoas que trabalham em um ritmo pesado com o home office e acabam ficando sem tempo para cozinhar um almoço saudável e de qualidade. Porém, de tempos em tempos, é normal dar uma escorregada na dieta. "Tem um padrão nos pedidos. De segunda a quinta, saem mais entregas do Marília Fit. Mas de sexta a domingo, parece que o pessoal ‘chuta o balde’, e os pedidos na pastelaria aumentam."

Rua Marília de Dirceu 70, Lourdes
(31) 3337-9167

Doce Docê

André Wolff e sua sócia, Adriana Lima: planos de expansão para a região sul de BH em 2021(foto: Violeta Andrada/Encontro)
André Wolff e sua sócia, Adriana Lima: planos de expansão para a região sul de BH em 2021 (foto: Violeta Andrada/Encontro)
A história da Doce Docê começa na década de 1970, com uma cozinheira de mão cheia. Thereza Oliveira, ou Dona Thereza, como é mais conhecida, dividia o seu tempo entre um emprego no Tribunal de Justiça e as encomendas de bombons e salgados. Em 1973, a demanda cresceu tanto que ela decidiu se concentrar exclusivamente na produção dos quitutes, vendidos agora em uma loja localizada na esquina entre as avenidas Afonso Pena e Getúlio Vargas. A história de Dona Thereza mudou para sempre quando, a pedido do seu irmão, criou uma versão maior da coxinha, que pesava cerca de 200g. Para que o salgado não ficasse muito seco, a cozinheira decidiu adicionar no recheio duas generosas colheres de catupiry, inventando a receita que conquistou espaço em confeitarias de todo o país. Dona Thereza também criou uma variação que fez muito sucesso, feita com camarão VG.

A Doce Docê encerrou suas operações na década de 1990, por causa do mau momento da economia e da transferência do marido da cozinheira para Brasília. Até que em 2017, com a família de volta a Minas Gerais, um dos netos de Dona Thereza, Bernardo, resolveu refazer as coxinhas. Mas o esquema era caseiro, sem pretensões de voltar ao mercado. A notícia chegou até André Wolff, engenheiro e amigo da família. "Eu falei com o pai do Bernardo sobre como a Doce Docê era conhecida e que era um desperdício não relançar a marca." Em outubro do mesmo ano, a confeitaria abriu novamente as suas portas, inaugurando a sua nova fase com uma loja no Vila da Serra comandada por Wolff e sua sócia, Adriana Lima. "No primeiro dia, o estoque de coxinha acabou em um piscar de olhos", lembra André. Dona Thereza foi chamada como consultora, para garantir a qualidade do produto que inventou.

A chegada da pandemia quase encerrou a história da confeitaria. Afinal, o delivery era responsável por apenas 15% do faturamento da Doce Docê. "Aproveitamos os primeiros quinze dias para esfriar a cabeça e decidimos por continuar", conta o empresário. "Ficamos surpresos, ao ver que no primeiro mês, conseguimos bater metade do nosso faturamento normal. Claro que não é o ideal, mas nos deu forças para seguir em frente". O lugar de campeão de vendas continuou sendo ocupado pelas tradicionais coxinhas de catupiry. Agora, a empresa voltou a fazer grandes planos. "Para 2021, queremos levar a Doce Docê de volta para a região sul de BH, abrindo uma nova unidade", diz André.

Rua Ministro Orozimbo Nonato 215, Vila da Serra
(31) 3262-2132

Doces de Portugal

Nuno Miguel Afonso diz que fez ginástica para manter os empregados, utilizando rodízio, férias coletivas e concessões do governo:
Nuno Miguel Afonso diz que fez ginástica para manter os empregados, utilizando rodízio, férias coletivas e concessões do governo: "Somos uma família, trabalhamos juntos há muito tempo. Não queria mandar ninguém embora" (foto: Violeta Andrada/Encontro)
A história da Doces de Portugal começou com uma cozinheira de mão cheia que vendia os quitutes do Velho Mundo na Feira de Antiguidades, que acontecia na Praça da Liberdade durante a década de 1980. Com o tempo, os quindins e massas folhadas da dona Maria Afonso conquistaram um lugar no paladar desconfiado dos mineiros. "Não eram receitas conhecidas, muitas eram inéditas para as pessoas", lembra Nuno Miguel Afonso, filho da doceira. "Mas um cliente foi conversando com um amigo, falando dos nossos doces, e assim conseguimos superar essa barreira". Em 1989, a Doces de Portugal abriu sua primeira loja de rua, deixando a vida de feira para trás.

Após a morte da mãe, em 2015, Nuno tornou-se o guardião da Doces de Portugal, com unidades espalhadas pela Savassi, Mangabeiras, Anchieta e Belvedere. E basta uma conversa para ver o carinho que o empresário tem com a tradição portuguesa, respeitando a história lusitana. Um dos carros-chefe da casa é o pastel de nata, popularmente conhecido como pastel de Belém. "É um pequeno equívoco chamá-los assim. Esta é uma receita criada pelos monges que ficavam na torre de Belém. Depois de 1820, com a revolução liberal, eles passaram a vender o doce e registraram o nome", explica.

Em março, a pandemia chegou, sem piedade e de surpresa. Com as portas fechadas, Nuno teve de fazer ginástica para manter os empregados, utilizando rodízio, férias coletivas e concessões do governo. "Somos uma família, trabalhamos juntos há muito tempo. Não queria mandar ninguém embora." Já a proximidade com a clientela não foi afetada pelo distanciamento social. As unidades da Doces de Portugal continuaram recebendo os pedidos dos quitutes mais amados pelos clientes, principalmente para adoçar os dias difíceis de engolir. O período também pediu por soluções criativas. Para sobreviver ao chacoalhar, o quindim era resfriado antes do transporte e assim ficava mais consistente.

Agora novamente aberto ao público, as cinco unidades da Doces de Portugal voltam a receber seus clientes nas mesas, respeitando os protocolos de distanciamento social. Quem quiser fugir do normal e descobrir uma nova delícia da casa pode se aventurar na empada de palmito e geleia de damasco, juntando em uma mesma bocada o doce com o salgado. 

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