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Estado de Minas ESPECIAL SAÚDE

Mineiros do Ano 2020 - Camila Isoni

Coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Unimed Betim e do Centro de Terapia Intensiva - CECOVID do Hospital Regional de Betim, duas referências da região, ela cita o cansaço dos profissionais de saúde como um dos maiores desafios dos dias atuais


postado em 16/02/2021 16:23

(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Desde que o novo coronavírus foi detectado no Brasil pela primeira vez, em fevereiro de 2020, os dias de medo e insegurança não cessam. Os meses se passaram, mas pouca coisa mudou. Para os profissionais da saúde, o desafio de lidar com uma doença desconhecida e altamente contagiosa continua, assim como a certeza de que ainda não existe um tratamento definitivo. "Isto significa que não há remédios com eficácia comprovada para evitar o seu aparecimento e que a terapêutica é de suporte", diz a médica intensivista Camila Armond Isoni Pedra, de 36 anos, coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Unimed Betim e do Centro de Terapia Intensiva - CECOVID do Hospital Regional de Betim.

Junto a isso, diz Camila, a escassez de médicos intensivistas para compor as equipes de UTIs em plena expansão nas inúmeras redes hospitalares torna o cenário ainda mais nebuloso.  "Mesmo tendo tido o privilégio de poder trocar experiências com especialistas europeus que já vivenciavam a pandemia antes de nós, somente passando por ela é que tivemos a dimensão da sua gravidade." Com o decorrer dos dias, conta ela, o sentimento de equipe foi se consolidando e renovando as forças daqueles que travam uma batalha sem precedentes contra o tempo em prol da vida. Mesmo que para isso a cada minuto suas próprias vidas sejam colocadas à prova. "A Covid-19 me trouxe um senso maior de empatia e de humanidade. Passei a controlar mais minha ansiedade e a viver um dia de cada vez. Percebi que não podemos controlar absolutamente nada."

A rotina da médica e de vários de seus colegas, inclui assistir pacientes sendo isolados em unidades fechadas e ouvir o choro desesperado dos familiares ao imaginar que talvez nunca mais consigam vê-los. Aos familiares daqueles que não sobrevivem, a doença rouba também o direito à despedida. "É impossível não se comover e não perceber o cansaço dos profissionais da saúde envolvidos." Para eles, é sofrido colocar, diariamente, vários pacientes de bruços, realizar procedimentos invasivos e cálculos matemáticos para escolher a melhor forma de manejar o respirador e, mesmo assim, perceber que no final, a batalha foi perdida. Não bastasse isso, saber que em poucos minutos aquele mesmo leito será ocupado por outra pessoa, na mesma condição, e começar tudo de novo. "Convidaria, se fosse possível, cada mineiro a acompanhar nossa rotina. Talvez assim, se conscientizassem sobre a importância de cada um fazer a sua parte e adotar os cuidados preventivos."

A médica vê a chegada das vacinas com bom olhos, como forma de controlar a expansão da doença. Mas acredita que elas não serão capazes de  extinguir o vírus. "Por isso a mudança de hábitos é tão importante. É preciso entender que nossos atos impactam diretamente sobre a vida de outras pessoas". Ela mesma segue fazendo sacrifícios. No ano passado, viu a mãe apenas três vezes e, mesmo assim, à distância. Convive com a dor de desconhecidos e com a própria dor de ter de se manter isolada daqueles que ama. Para revigorar as forças e distrair a mente, pratica corrida. Além de não abrir mão do consolo espiritual que sua convicção religiosa (ela é espírita) lhe traz.

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