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Estado de Minas ESPECIAL SAÚDE

Mineiros do Ano 2020 - Leonardo Paixão

Gerente de emergência do Hospital Odilon Behrens, o médico ajudou a comandar um dos centros mais importantes de combate à pandemia da cidade, sem deixar de atender as mais de 200 mil pessoas que passam anualmente pelo setor de urgências


postado em 16/02/2021 16:35

(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Desde que as primeiras notícias da pandemia do novo coronavírus começaram a circular, algo chamou a atenção do médico Leonardo Paixão: algumas pessoas não acreditam na existência da doença e preferem se fi ar em teorias da conspiração. "Mas nós não temos essa opção de não acreditar. Para quem está na linha de frente, a pandemia é mais real do que todo o resto", conta o gerente de emergência do Hospital Metropolitano Odilon Behrens, um dos mais importantes centros de combate à Covid-19. Desde março, o médico vive uma rotina diferente dentro do hospital em que sempre atuou, dividindo sua preocupação entre o trabalho do Pronto Atendimento e do setor separado para a Covid-19. E os horários não são para qualquer um. "Plantões de 24 horas, ou mais, são comuns", diz o médico, que tenta não deixar transparecer o cansaço dos meses de rotina estafante. "O que nos dá força é ver um paciente que sai do CTI ou receber o agradecimento de uma família por ter cuidado do parente até o fim."

Ainda pequeno Leonardo sonhava em ser médico, assim como o pai. "É algo tão forte que não tenho memórias pensando em seguir outra carreira." Formado em medicina pela UFMG, ele começou a trabalhar na emergência do Hospital Odilon Behrens em 2006, sempre na linha de frente do Pronto Socorro. O hospital localizado no bairro São Cristóvão começou a se preparar para o embate à pandemia em fevereiro, tendo como base experiências de países por todo o globo. Antes da tempestade, porém, veio uma calmaria desconfortável. O decreto de 18 de março, que suspendeu o funcionamento do comércio não essencial na capital mineira, deixou as ruas da cidade desertas. E isso impactou o setor de pronto atendimento. "Estávamos esperando um tsunami de casos, mas o que vimos no primeiro momento foi uma queda de 80% no movimento." Com o medo da pandemia que começava no Brasil, as pessoas ficaram receosas de ir aos hospitais, adiando consultas de rotina e evitando procurar ajuda nos casos de menor complexidade.

Mas a calmaria não durou muito tempo. Logo, começaram a chegar os casos da nova doença, dando início à maratona que ainda não chegou ao seu fim. Durante o pico, o hospital disponibilizou 140 leitos para o tratamento da Covid-19, sendo 100 de enfermaria e 40 de CTI. Em determinados dias, a taxa de ocupação da enfermaria chegou a 100%, e a de CTI, 80%. Depois de alguma melhora, o quadro da doença em BH voltou a piorar em dezembro último, graças ao relaxamento nos protocolos sanitários. "Se as pessoas estão cansadas, imagina nós. Os profissionais de saúde são resilientes, mas também somos humanos", afirma Leonardo, que confessa ter, às vezes, a sensação de que a sua equipe está "enxugando gelo". Apesar da frustração, o trabalho do Odilon Behrens deixou uma marca na vida de muitos belo-horizontinos. Entre março e novembro foram atendidos cerca de 15 mil casos do novo coronavírus. Destes, 1.055 tiveram de ser internados. Infelizmente, 107 morreram por complicações.

O novo ano chega com muitas transformações. Mas mesmo com o cansaço, a pandemia não conseguiu tirar de Leonardo Paixão o bom humor. "Eu me cuido muito e, até hoje, não fui contaminado pela Covid-19", diz. "Só quero ter contato com o vírus quando ele vier atordoado, na vacina."

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