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Estado de Minas PET

Pitbull Sansão, que teve as patas arrancadas, batizou lei em defesa dos animais

Enquanto ele supera as dores crônicas e aguarda a chegada da prótese definitiva, os tutores esperam o julgamento de seu agressor e comemoram a aprovação da nova legislação que leva o nome do bichinho


postado em 01/02/2021 23:36 / atualizado em 11/02/2021 00:24

A família de Sansão supera o estresse emocional causado pela violência: além de acompanhamento psicológico, também batalha para seguir com as atividades na fábrica(foto: Victor Ataíde/Divulgação)
A família de Sansão supera o estresse emocional causado pela violência: além de acompanhamento psicológico, também batalha para seguir com as atividades na fábrica (foto: Victor Ataíde/Divulgação)
"Criei meus dois filhos convivendo com animais. Sempre os ensinei a amá-los e respeitá-los", diz a pedagoga Fernanda Braga de Souza, de 42 anos. A voz suave e a fala tranquila não escondem a mágoa de quem já foi injustiçado. "Sofremos muito ao ser acusados de maus-tratos por pessoas que nunca conheceram nossa verdadeira história", diz ela. Desde que a barbárie contra o pitbull Sansão ocorreu, em julho de 2020, sua família teve a vida devassada.

O cão, hoje com 2 anos e 8 meses, perdeu as duas patas traseiras decepadas a facão. Não se sabe, ao certo, o que gerou mais estarrecimento. Se o ato extremo de crueldade contra um ser vivo ou a sensação de impunidade. O agressor já havia matado, em 2018, o pai de Sansão, também a sangue frio. "Zeus tinha fugido e quando meu filho o pegou no colo, na porta da empresa, ele o partiu ao meio, em seus braços", lembra Fernanda. Na época, a família tentou tomar providências, chegou a fazer boletim de ocorrência, mas foi desencorajada pelo próprio militar que atendeu a ocorrência e afirmou que "aquilo" não daria em nada.

Da tragédia à fama, Sansão já conta com 150 mil seguidores em sua página @todospor.sansao no Instagram: família usa a influência para divulgar a história de outros animais que também precisam de ajuda(foto: Vet Society/Divulgação)
Da tragédia à fama, Sansão já conta com 150 mil seguidores em sua página @todospor.sansao no Instagram: família usa a influência para divulgar a história de outros animais que também precisam de ajuda (foto: Vet Society/Divulgação)
Sansão, por sua vez, foi torturado no final de uma tarde, quando os donos ainda trabalhavam na pequena empresa familiar, uma fábrica de areia e brita que há três anos possuem no município de Confins e da qual o agressor era vizinho. O maquinário ligado os impediu de perceber a ação. "O agressor confessou que o atraiu para pular em seu quintal e de lá foi levado para a empresa onde trabalhava, também ao lado. Foi tudo muito rápido". Pouco tempo depois, quando o sumiço do animal foi percebido, o crime já havia sido praticado. "Quando o meu marido pulou os muros e chegou até lá se deparou com aquela cena de horror. Sansão agonizava."

Localizada em terreno espaçoso, a fábrica da família era o local preferido do pitbull. Lá passava o dia todo ao lado dos donos e se dedicava a correr, brincar e se dependurar em cipós. De temperamento dócil, jamais atacou pessoas. Às sextas-feiras, conta Fernanda, iam todos juntos para casa e retornavam somente na segunda. "Nunca o tivemos como cão de guarda. Sempre foi como um membro da família. Mas muitos ainda nos acusam de negligência." Enquanto Sansão supera as dores crônicas e as incansáveis sessões de fisioterapia para receber a prótese definitiva que substituirá uma das patas arrancadas, a família supera o estresse emocional causado pela violência. Além de acompanhamento psicológico, também batalha para seguir com as atividades na fábrica, mesmo rodeados pelo medo. O agressor ainda aguarda julgamento.

A fisiatra veterinária Brenda Costa, da Vet Society:
A fisiatra veterinária Brenda Costa, da Vet Society: "Por causa da amputação traumática dos membros pélvicos com evolução de dor neuropática, Sansão precisará de cuidados permanentes" (foto: Arquivo pessoal)
Em meio ao caos, uma boa notícia trouxe esperança a milhares de vítimas de maus-tratos no Brasil. Em 29 de setembro de 2020, a aprovação da Lei Sansão (14.064/2020) se tornou um marco na luta em defesa dos direitos fundamentais dos animais. A repercussão nacional do caso e a comoção gerada resultou na alteração da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) que teve aumento das penas mínima e máxima para dois a cinco anos de prisão, multa e proibição de guarda. A partir da nova lei, esses crimes serão processados na justiça criminal comum e não mais como crimes de menor potencial. "Agora esses criminosos podem, de fato, ser presos. Sem dúvida, um avanço sem precedentes na história do nosso país", diz o advogado Arildo Carneiro Junior, especializado em direito ambiental.

Apesar de na área criminal a lei não retroagir, pela soma das penas, o agressor de Sansão responderá na justiça comum também pelo assassinato de Zeus e maus-tratos cometidos a vários animais que estavam sob sua tutela. Os gastos altos com o tratamento de Sansão têm sido supridos com a ajuda da ONG Patas Para Você. "Ele já passou por sessões de acupuntura, laserterapia, cinesioterapia, entre vários outros para ter mais qualidade de vida. Por causa da amputação traumática dos membros pélvicos com evolução de dor neuropática, precisará de cuidados permanentes", explica a fisiatra veterinária, Brenda Costa, da Vet Society. Da tragédia à fama, o cãozinho já conta com 150 mil seguidores em sua página @todospor.sansao no Instagram e usa a influência para divulgar a história de outros animais que também precisam de ajuda.

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