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Estado de Minas ENTREVISTA

Rodrigo Pacheco fala de seus planos como presidente do Senado

Eleito por Minas Gerais, o político comenta, ainda, sobre sua rápida ascensão e conta o que se pode esperar de seu trabalho à frente de uma das casas do Congresso Nacional


postado em 26/03/2021 10:36 / atualizado em 26/03/2021 10:36

"A presidência do Senado transcende essas relações político-eleitorais. Transcende as relações de ideologia" (foto: Divulgação)
Há seis anos, o advogado Rodrigo Pacheco assumia seu primeiro cargo político: o de deputado federal pelo MDB. No ano seguinte, em 2016, decidiu pleitear a prefeitura de Belo Horizonte. De candidato desconhecido da capital mineira, aparecendo entre os nanicos nas primeiras pesquisas de intenção de voto, concluiu a empreitada eleitoral em terceiro lugar. Naquela ocasião, a fala polida, bem articulada e o sangue frio deram mostras de que o advogado não havia entrado na política para passear. Dois anos depois, em 2018, resolveu que era hora de um salto ainda maior e concorreu ao cargo de senador, desta vez pelo Democratas. Foi eleito. Este ano, assumiu o posto de presidente da casa, com 57 votos a favor (de um total de 81 senadores). Com essa biografia, Rodrigo é a mais nova estrela da política brasileira. E isso não é exagero. Tão logo assumiu a principal cadeira do Senado, houve quem especulasse que Rodrigo poderia embarcar em voos ainda mais ousados: a disputa da cadeira mais importante do país, a de Presidente da República. “Venho fugindo desse debate muito extremado que tomou conta da política brasileira”, diz Rodrigo, sobre um dos possíveis motivos para sua ascensão meteórica. Entusiasta do diálogo, durante a campanha para presidência do Senado ganhou a simpatia de Jair Bolsonaro e até de partidos de oposição ao presidente, como PT e PDT. Quis o destino que Rodrigo assumisse importante protagonismo político em um ano conturbado para o país, marcado pelo avanço destruidor da pandemia do novo coronavírus e pelas crises política e econômica. À Encontro, Rodrigo falou sobre as primeiras ações como presidente do Senado, a vacina contra a Covid-19 e, claro, o que pensa sobre seu futuro.

Quem é: Rodrigo Pacheco, 44 anos
Origem: Porto Velho (RO)
Formação: Direito pela PUC Minas
Carreira: Eleito deputado federal pelo MDB, em 2014; foi presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) da Câmara dos Deputados. Disputou a Prefeitura de Belo Horizonte, em 2016, terminando em terceiro lugar. Em 2018, foi eleito senador pelo Democratas. Este ano, foi escolhido para presidir o Senado

ENCONTRO - O senhor assume a presidência do Senado em um momento ímpar: pandemia, crise e polarização política. Com qual sentimento inicia a empreitada?

RODRIGO PACHECO - Iniciei com uma atuação assentada em bases da pacificação, de consenso, de trabalho, de muita energia para resolver os problemas, dentro de um trinômio de saúde pública, de desenvolvimento social e crescimento econômico do país. E esse ambiente de pacificação deve ser buscado dentro da compreensão de que os poderes são autônomos, livres, e têm de conviver harmoniosamente. Não há muito segredo nisso: é obedecer à Constituição e fazer com que as instituições cumpram seus papéis com independência. Minha escola política é Minas Gerais e a política mineira sempre foi de busca por consensos, de respeito, de moderação e de equilíbrio.

O senhor foi bem votado para prefeito de BH, assumiu, em seu primeiro mandato como deputado federal, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) e, no primeiro mandato como senador, a presidência da casa. Você se considera uma estrela em ascensão na política?

Faço parte de um movimento de renovação que começou também no Senado com o ex-presidente Davi Alcolumbre, senador mais novo a ser eleito para o cargo de presidente nas últimas décadas. A minha eleição, de certa forma, dá continuidade a esse movimento que começou há dois anos. Fui eleito com 57 votos e com apoio de diversos partidos, da base de governo e da oposição, que viram no meu nome o preparo necessário para presidir o Senado e conduzir os trabalhos na Casa.

Você tem uma curta trajetória na política, mas já deixa marcas. Consegue fazer uma leitura dessa ascensão?

Venho fugindo desse debate muito extremado que tomou conta da política brasileira. Acredito que o diálogo e a busca pelos consensos são o melhor caminho para darmos as respostas que os brasileiros esperam, fazendo do congresso um verdadeiro agente de transformação social e um palco de pacificação das instituições. Eu sempre tive o compromisso com a efetividade das normas constitucionais e venho defendendo isso na minha atuação parlamentar. Quero acreditar que vamos superar a crise sanitária, social e econômica que nos assola, por meio da pacificação que o país necessita.

Como recebeu o apoio do presidente da República, que vem sendo bastante criticado na condução da crise sanitária e chegou a ser ameaçado com a abertura de processo de impeachment?

A pandemia atingiu o Brasil e o mundo de maneira muito severa e trágica. Não há um país ou um estado da federação brasileira que tenha só acertado. Há um estado de incertezas que nos faz ter compreensão de que a sanha de achar culpados a qualquer custo deve dar lugar a um ambiente em que a ciência prevaleça e amadureça, e que façamos um enfrentamento mais inteligente ao que nos exige o momento: facilitar, o máximo possível, o acesso à vacina.

Logo que foi eleito, o senador Flavio Bolsonaro lhe passou o telefone para receber os cumprimentos do presidente Jair Bolsonaro. Cenas como essa podem arranhar a imagem de independência do Senado?

A minha candidatura foi uma candidatura dos senadores e agregou vários partidos, da base governista e da oposição. Sou de um partido político, portanto, a minha candidatura se originou também de uma indicação do Democratas. Houve uma manifestação de simpatia por parte do presidente à minha candidatura, algo que eu recebi com honra. Com minha eleição, mantenho uma relação de respeito e de diálogo para poder solucionar os problemas do país, mas sempre garantindo independência do Senado para a tomada de decisões livres, autônomas e com bastante respeito. Naquele instante, um senador me passa o telefone, eu recebo o telefone e recebi o cumprimento do presidente da República, como podia ser de qualquer outra autoridade que assim quisesse fazer. Isso não fere a independência, isso é cordialidade. Independência é outra coisa.

O tema impeachment retornou à pauta das conversas cotidianas, da imprensa e dos bastidores da política brasileira. Acredita que há elementos para a abertura do processo?

O que tenho dito sempre: impeachment é algo muito sério. Tivemos dois recentemente na história do Brasil que foram episódios tristes para o país, e nesse momento que estamos no ápice de uma pandemia, com índice de desemprego grande, como necessidade de fazer o Brasil crescer, precisando entregar vacina, eu não me permito em falar de impeachment nesse momento, até porque isso é uma atribuição da Câmara dos Deputados, então não vou falar sobre hipótese porque eu não conheço, seria leviano.

"Quero acreditar que vamos superar a crise sanitária, social e econômica que nos assola, por meio da pacificação que o país necessita" (foto: Divulgação)
Em suas primeiras declarações como presidente do Senado mostrou que vai batalhar pelas “reformas estruturantes” e que quer vacina para todos os brasileiros e brasileiras. Na sua avaliação, por que não estávamos caminhando nessa direção?

No meu discurso de posse, eu destaquei um trinômio de prioridades da minha gestão. Destaquei a importância de o Congresso Nacional trabalhar para garantir saúde pública, desenvolvimento social e crescimento econômico no Brasil. A minha proposta de trabalho no sentido de agilizar a tramitação de projetos estratégicos para o país é por meio do diálogo e do consenso, mas sempre tendo o interesse público como prioridade. O diálogo entre senadores, deputados e representantes do Executivo e o trabalho em conjunto desses agentes públicos aumentam as chances de aprovação das reformas e dos projetos de lei que o país precisa. E essa postura já vem dando resultados, pois aprovamos projetos que asseguram a maior oferta de vacinas, aprovamos no âmbito do Senado Federal a PEC emergencial e já estabelecemos um calendário de tramitação das reformas Tributária e Administrativa.

Como o senhor avalia a aprovação pelo Senado da PEC Emergencial?

O fato é que aquilo que nos comprometemos desde o início da nossa gestão como presidente do Senado, de pautar a PEC Emergencial e aprová-la como uma condição de protocolo fiscal necessário para o auxílio emergencial foi cumprida. Agora, dentro da responsabilidade fiscal, das limitações impostas pela PEC, o objetivo do Congresso Nacional é sempre ter o valor mais digno possível para as pessoas. E nós temos também que começar a discutir de maneira muito firme e segura a possibilidade da perenização de um programa social no Brasil, de renda mínima, renda cidadã, que possa dar dignidade a essa camada social que precisará desse alento do Estado até que nós possamos ter uma recuperação plena da economia para gerar emprego.

O senhor foi candidato a prefeito de BH e conseguiu atrair muitos votos mesmo, à época, desconhecido da população. Agora, senador e presidente da casa, sonha com um cargo executivo, como prefeito de BH ou mesmo governador de Minas?

Não me permito discutir eleições ou questões partidárias sentando na cadeira de presidente do Congresso. O foco é o mandato de presidente do Senado. Serei o mais colaborativo possível em relação aos outros poderes, obviamente resguardando a independência do Senado, além de buscar ajudar o governo a executar políticas públicas. Mas, obviamente, acho que ser prefeito da sua cidade ou governador do seu estado é uma honra para qualquer político.

Há quem diga que o seu estilo polido e entusiasta do diálogo podem o credenciar a uma disputa presidencial em 2022. Qual a avaliação você faz dessa opinião?

Como disse, o foco é o mandato de presidente do Senado. E a minha postura sempre será a busca por consensos, de respeito e de equilíbrio. É o que espera a sociedade brasileira.

Durante a campanha para a presidência do Senado chegou a se reunir com o prefeito de BH. Como foi esse encontro depois de já ter externado diferenças em relação a Kalil?

A Presidência do Senado transcende essas relações político-eleitorais. Transcende as relações de ideologia. É fundamental nos dias de hoje afirmarmos a democracia, a defesa do federalismo, especialmente com foco nos municípios. Isso fez com que uníssemos divergentes. Tenho verdadeira adoração pela divergência. É a divergência que nos permite construir soluções adequadas.  E o apoio do PSD, que é uma bancada com muita qualidade, com 11 senadores, foi muito importante. Aquela união com o PSD representava não só a união com 11 senadores, mas o apoio de dois senadores do meu Estado. Fechar a bancada de Minas Gerais era uma sinalização muito positiva para a minha campanha também. O apoio dos senadores Carlos Viana e Antonio Anastasia foi fundamental, junto com o PSD, que tem no prefeito Alexandre Kalil um dos seus principais líderes, e também dos outros partidos que ajudaram a consolidar a nossa candidatura.

Com a sua chegada à presidência do Senado, os mineiros podem esperar por soluções que vem se arrastando ao longo dos anos e até décadas, como a expansão do metrô e a construção do Rodoanel?

Eu me reuni com a banca mineira e estabelecemos como projetos de extrema importância melhorias e duplicação na BR-381, ampliação do metrô de Belo Horizonte, intervenções no Anel Rodoviário, projetos das barragens do Norte de Minas, mudança do nível da Represa de Furnas e a inclusão da região do Vale do Rio Doce na Sudene.

No discurso de posse e em suas primeiras entrevistas o senhor citou Juscelino Kubitschek, demonstrando que tem o ex-presidente do Brasil como referência na política. Por que JK o inspira?

Na minha opinião, foi o maior político da história brasileira. E, orgulhosamente, um mineiro. JK pautou-se pela ética, pela decência e pela ideia de desenvolvimento do Brasil. Trouxe a interiorização, industrializou o país e abriu o Brasil para o mundo com uma lógica muito inteligente. Ele fez o que fez como prefeito de BH e presidente da República: a Pampulha e, depois, Brasília. Juscelino Kubistchek deve ser sempre lembrado, cultuado, e seu exemplo sempre sentido pelos que estão na política. Temos de ter um guia. Nosso guia político, em Minas Gerais, na minha opinião, deve ser Juscelino Kubitschek.

Desde que assumiu o cargo de deputado federal em 2014 qual foi o seu maior aprendizado no dia a dia em Brasília?

Aprendi que devemos honrar ainda mais nossas tradições, nossas origens e o estado de Minas Gerais. Que precisamos a todo instante buscar soluções ao Brasil em um momento de crise sem precedentes, com uma pandemia que será histórica e lembrada por séculos mundo afora. E que devemos defender insistentemente a república, o federalismo e o estado democrático de direito, com amor à divergência, buscando encontrar soluções por meio da conciliação das diferenças.

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