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Estado de Minas PET

São muitos os benefícios de adotar um animal

Bichinhos que sofreram as tristes consequências do abandono, com altos índices na pandemia, transformam a vida de seus adotantes, levando amor e alegria a novos lares


postado em 13/04/2021 23:43 / atualizado em 13/04/2021 23:43

A professora universitária Giulia Villela Giovani convive com cinco pets, entre eles a golden retriever Amelie e o gato sem raça definida Fidel:
A professora universitária Giulia Villela Giovani convive com cinco pets, entre eles a golden retriever Amelie e o gato sem raça definida Fidel: "O bem que eles me fazem é tão grande quanto a minha dedicação por eles" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
A noite já ia longe quando se deu o início dessa história. Em uma das acentuadas curvas da estrada que dá acesso ao distrito de São Sebastião das Águas Claras, mais conhecido como Macacos, em Nova Lima, uma situação triste, mas cheia de solidariedade, aconteceria. Já era final do último mês de fevereiro e após vencer mais um dia de trabalho, o motoboy Júnior Franco de Souza Oliveira tomou o rumo de casa, seguindo o sentido do bairro Jardim Canadá, onde mora. Parou, surpreso, no meio do caminho. "Eu me deparei com duas mulheres que tentavam pegar um cachorro que estava desorientado na pista. A princípio, achei que fosse delas", diz ele. Já se passavam das 22 horas e a falta de segurança do local, propício tanto a assaltos quanto a acidentes, o deixou apreensivo. "Quando perguntei o que estava acontecendo e soube que, na verdade, o animal havia sido abandonado, tive ainda mais vontade de ajudar."

Enquanto Júnior se colocava a par da situação, a cadelinha Ursa, da raça chow chow, reunia as poucas forças que lhe restavam para tentar se esconder em meio ao mato. Sua saga por aqueles lados havia começado no dia anterior, quando ela e sua parceira "surgiram" do nada no local. A notícia logo se espalhou pelos grupos da região. "Soube que outras pessoas já haviam tentado resgatá-las, mas estavam muito assustadas e não deixavam ninguém se aproximar." Mensagens de que acabariam sendo atropeladas começaram a circular e os esforços foram redobrados. Após dois dias de tentativas, Ursa foi resgatada. "Ficamos mais de três horas nos aproximando e conquistando sua confiança. Nada paga a emoção que senti ao vê-la salva", diz Júnior. A companheira de Ursa não teve a mesma sorte. Morreu atropelada na BR.

Os irmãos Aurora (cinza) e Romeu nem de longe lembram os filhotes desnutridos resgatados em uma escola pública. A micro empreendedora Cassilene Ribeiro e a filha Larissa de Almeida se divertem com os pets:
Os irmãos Aurora (cinza) e Romeu nem de longe lembram os filhotes desnutridos resgatados em uma escola pública. A micro empreendedora Cassilene Ribeiro e a filha Larissa de Almeida se divertem com os pets: "É o casal furacão. Por onde passam, não deixam nada inteiro", brinca Cassilene (foto: Bruno Hanelt/Encontro)
Apesar de a relação entre bicho e gente ser milenar, segue marcada por sentimentos e atitudes contraditórias. No Brasil, ao mesmo tempo em que em algumas regiões os animais têm até santo protetor, a exemplo de São Francisco de Assis e São Lázaro, também continuam sendo vítimas de todos os tipos de negligência e violência. Em pleno século XXI, nota-se que as leis de proteção evoluíram, mas muitas consciências não. O aumento do número de abandono de cães, gatos e até cavalos durante a pandemia fez surgir um questionamento: isso estaria ocorrendo por causa da crise financeira que assola muitas famílias ou estaria sendo usado apenas como justificativa para algo que já seria feito? "Em momentos assim é que provamos o nosso verdadeiro respeito e amor aos nossos irmãos não humanos", diz Adriana Araújo, coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais (MMDA). "Seríamos capazes de abandonar um ente querido à próxima sorte, ainda mais sendo ele incapaz de se cuidar e defender sozinho?", questiona ela.

Em Belo Horizonte, dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da PBH estimam que existam cerca de 40 mil cachorros nas ruas da cidade. A população de gatos não é mensurada, mas ativistas preocupam-se com a procriação descontrolada. "Além da questão social e cultural, o aumento do abandono pode estar relacionado também ao vírus da desinformação. Muitas pessoas acham que os animais transmitem o coronavírus, o que não é verdade", esclarece o veterinário Leonardo Maciel, gerente de Defesa dos Animais da SMMA.  A solução encontrada foi atuar em várias frentes. Nos Centros de Controle de Zoonoses (CCZ) da capital, castrações gratuitas são realizadas continuamente. O projeto Maloca acolhe os cães de moradores de rua que se recusam a ir para os abrigos para não se separarem de seus companheiros de quatro patas. E a inauguração do primeiro Hospital Público Veterinário de BH é um marco importante de melhoria da saúde pública e bem-estar dos pets.

Após dois dias de tentativas, a chow chow Ursa foi resgatada em uma estrada:
Após dois dias de tentativas, a chow chow Ursa foi resgatada em uma estrada: "Ficamos mais de três horas nos aproximando e conquistando sua confiança. Nada paga a emoção que senti ao vê-la salva", diz o motoboy Júnior Franco (foto: Bruno Hanelt/Encontro)
Em Nova Lima, o índice de abandono e maus-tratos também é desolador. Histórias como a da cadela Ursa são frequentes, a maioria sem finais felizes. Sob novo comando, a Secretaria de Meio Ambiente promete escrever novas páginas nesse roteiro. Entre as medidas previstas estão a promoção de campanhas educativas de conscientização sobre o crime de maus-tratos, a guarda responsável e a realização de campanhas de castração gratuitas nas comunidades de baixa renda. "O nosso primeiro passo foi criar um fórum permanente de discussão com os protetores da causa animal da cidade", diz o secretário Gabriel Coutinho.

Os irmãos Aurora e Romeu nem de longe lembram os filhotes desnutridos, com vastas falhas nos pelos provocadas por fungos e barrigas enormes repletas de vermes. Dos sete filhotes tidos por uma cadela sem raça definida dentro de uma escola municipal, sobraram apenas dois. Os demais não resistiram à fome e à doença. "Quando os resgatamos, um terceiro filhote agonizava em meio ao pátio do local. Nunca vi cena tão triste", diz a micro empreendedora Cassilene Ribeiro Oliveira. Hoje ela e a família se divertem com os pets que ganharam um apelido para lá de carinhoso. "É o casal furacão. Por onde passam, não deixam nada inteiro", brinca Cassilene. A filha, Larissa Kaylane Reis de Almeida, virou a mãe adotiva dos pequenos que já esbanjam simpatia em página pessoal no Instagram.

A opção pela adoção ajuda a reduzir o número de animais abandonados, além de não contribuir com o comércio clandestino de venda de filhotes de raça, no qual, muitas vezes, cadelas são mantidas como matrizes, em estado permanente de maus-tratos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 30 milhões de animais vivem nas ruas do Brasil, sendo 10 milhões deles gatos e 20 milhões de cachorros. Em grandes cidades, como Belo Horizonte, a estimativa é que para cada cinco humanos, um cachorro está abandonado. A professora universitária Giulia Villela Giovani já teve de tudo em casa. Gato, cachorro, coelho, peixe, galinha. Atualmente convive com cinco pets, entre eles os bichanos Fidel, Tigrinho e Chantilly, todos adotados e sem raça definida. "O bem que eles me fazem é tão grande quanto a minha dedicação por eles", diz ela.

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