Beijo é o destaque de série de pinturas de artista mineira

Um passeio de infância e a descoberta de toda uma vida. Foi nas visitas descompromissadas realizadas junto aos pais, no Museu de Artes da Pampulha, que a artista plástica Resende Lara teve o seu primeiro contato com algo que a modificaria profundamente. "Lembro-me que, mesmo pequena, sentia uma alegria imensa ao admirar aqueles quadros e já me imaginava pintando também", diz. Na adolescência, os desenhos a mão livre, especialmente de rostos, eram sua principal distração. Em seu quarto, pinturas feitas em cartolina se transformavam em quadros para as paredes. Ao perceber a aptidão da filha, os pais logo a matricularam nas aulas de arte. Para Lara, um caminho sem volta, que trilha até hoje.

Os anos se passaram e a necessidade de ter uma formação "convencional" levou a artista a seguir outra carreira. "Sempre me levaram a acreditar que arte não é profissão. Acabei cursando engenharia civil, na qual sigo atuando como auditora de qualidade", conta ela. Dedicação que não a fez perder o sonho de infância. O gosto pelo desenho a acompanhou por toda a adolescência e vida adulta. "A falta da arte pesava em minha essência", diz. A exemplo da mãe e de algumas tias, passou a pintar quadros como hobby, a maioria no estilo barroco, retratando ruas de cidades históricas. Contudo, foi ao seguir o expressionismo que se encontrou. Em suas obras, rostos e imagens abstratas predominam. A arte dos extremos emocionais, da inquietação e da espiritualidade, se evidencia. "Sigo minha intuição. Quando pinto, mentalizo coisas boas para que quem veja o meu trabalho sinta a mesma energia positiva. É algo meio holístico."

Como boa engenheira que é, tem disciplina por hábito. Comportamento que reflete sua produção artística e os retratos minuciosos feitos em aquarela. Os traços, propositadamente inacabados, deixam um rastro de mistério e induzem o espectador a deixar a imaginação fluir. Ao contrário de reproduzir uma impressão do mundo, imprime suas conclusões e temperamentos às obras, sempre marcadas pela originalidade. Convidada a participar de duas grandes exposições coletivas, uma delas com o tema "O renascimento pós pandemia", se dedica à produção artística enquanto aguarda o fim do isolamento social. Além de se preparar para sua primeira exposição individual que aborda uma temática amorosa. A série "Deixa-me beijar" traz o beijo como instrumento de afeto, carinho, intimidade, proteção - e até mesmo traição. Desde o encontro dos lábios do Papa João Paulo II nos solos dos países que visitava aos beijos de contos de fadas. Tem até o mais famoso de todos: o beijo de Judas em Jesus Cristo.

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Enquanto aguarda o fim do isolamento social, a artista plástica Resende Lara se prepara para participar de exposições individuais e coletivas: "Quando pinto mentalizo coisas boas para que quem veja o meu trabalho sinta a mesma energia positiva. É algo meio holístico"

Feitas em aquarela: inspiradas no expressionismo, obras mesclam rostos e imagens abstratas

Nas telas da artista, traços propositadamente inacabados deixam um rastro de mistério: ideia é induzir o espectador a deixar a imaginação fluir