Ela não para. Encurtar distâncias e buscar soluções são a sua especialidade. Casada com um americano com quem tem casa na Flórida, costuma pegar a ponte aérea em Belo Horizonte na sexta-feira para retornar na terça. Isso sem contar as viagens feitas para reuniões em outros estados brasileiros. "Cheguei a fazer nove voos por semana. Não faço isso nunca mais. Se podemos dizer que a pandemia trouxe algo de bom, sem dúvidas foi a praticidade dos encontros on-line", diz Érica Drumond, 52 anos, empresária que após 14 anos afastada retorna ao Ouro Minas. Agora com novo cargo e posição: diretora e maior acionista de um dos hotéis mais luxuosos da capital mineira, único cinco-estrelas da cidade.
Nos primeiros seis meses de isolamento social, confessa que tentou diminuir o ritmo após décadas administrando uma agenda digna de artista em evidência. Mas nem mesmo a pintura de quadros e os cuidados com o jardim foram capazes de acalmar o seu espírito. Ficou ainda mais claro que ela não nasceu para ficar quieta. Bastou o convite do irmão para voltar aos negócios da família para aterrissar novamente em solo mineiro. Desde abril deste ano, se dedica ao desafio de reforçar a cultura do pai, o fundador do grupo Maquiné, José Décio Drumond, falecido há dez anos e, futuramente, desenvolver a marca Ouro Minas para outros estados.
Inevitavelmente, a trajetória de pai e filha se entrelaça. Foi ele que lhe apresentou a rede de serviços da família, que na época contava com lavanderias e moteis. Sua primeira experiência profissional foi ainda jovem, na área de recursos humanos. "A hotelaria foi ideia do meu pai. Eu não escolhi, fui escolhida, e dei sequência ao trabalho dele." A empresária se recorda do dia em que o pai disse que queria fazer um hotel cinco-estrelas na Avenida Cristiano Machado, na zona norte da cidade. "Parecia uma loucura. Apesar do impacto que tivemos, o meu interesse foi imediato. Comecei a viajar e pesquisar sobre o assunto."
Vinte e cinco anos depois, comemorados neste mês de outubro, o Ouro Minas sobrevive à crise da Covid-19, sem nunca ter fechado as portas, e se orgulha de ser líder de mercado em todas as categorias do setor mesmo agora que conta com apenas metade de sua equipe, cerca de 200 funcionários. A estrutura conta com 25 andares, 301 apartamentos e 45 suítes.
Prestigiado com o prêmio Traveller's Choice Best of The Best, "o melhor dos melhores na escolha dos viajantes", realizado pela Trip Advisor, faz parte de um seleto grupo de 10% dos melhores do mundo, segundo avaliação dos usuários. Também é campeão no segmento hotel, nas 26 edições do Prêmio Top Of Mind que destaca as marcas de sucesso de Minas Gerais.
De volta à empresa da família, Érica Drumond brinca que já passou os 120 dias de experiência e chegou para ficar. Com ela vieram algumas novidades. Pela primeira vez o hotel passa a ser pet friendly, com hospedagem que inclui os animais de estimação. Para as famílias, o Kids Club com conceito montessoriano, garante a recreação da criançada e a tranquilidade dos pais. No restaurante do hotel, os hóspedes e visitantes contam com pratos de alta gastronomia e, aos sábados, com apresentação musical ao piano. "Estamos trabalhando a parte de lazer, com piscina para a família e refeições no estilo resort. Pequenas mudanças que fazem a diferença em um produto de 25 anos", diz Érica.
Movimento atípico no mercado e muito bem-vindo, segundo a empresária, é o belo-horizontino estar descobrindo os hotéis da própria cidade e os turistas viajarem mais dentro do seu próprio país. Um nicho novo para a hotelaria que precisa se adaptar. "Temos recebido moradores da capital querendo conhecer o hotel pela primeira vez", afirma. "Essa é uma tendência que deve permanecer." Fundadora da Vert Hotéis, empresa mineira criada em 2011 e vendida para a Atlantica Hotels em março de 2020, Érica se considera uma mulher de sorte. Afinal, o projeto cresceu tanto que se tornou "muito grande para o seu tamanho". A parceria entre as duas empresas teve início em 2018, levando a um faturamento superior a 1 bilhão de reais no ano seguinte e na ampliação da visibilidade das marcas no mercado nacional. "Finalizamos a venda com 26 hotéis abertos e 35 contratos em andamento, e com uma marca própria da qual me orgulho, a E-suites."
Sob o comando de Érica, a Vert Hoteis lançou, em novembro de 2015, um projeto ousado e inovador. O Ramada Encore Virginia e o E.suites são empreendimentos que dividem os andares de um mesmo prédio, localizado no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul de BH. Duas torres interligadas abrigam 90 quartos no hotel econômico e 33 suítes no E.suítes. Um hotel inteiro pintado e sinalizado por artistas plásticos.
O desejo de uma vida mais tranquila ficou mesmo para depois. E Érica não poupa esforços. Em muitos dias, chega a trabalhar mais de 15 horas seguidas. Pretende estabilizar a empresa familiar para então desenvolver a marca Ouro Minas em outros estados. "Quem sabe consigo uns dez hotéis em dez anos?", diz a empresária, já revelando seus planos para a próxima década. Considerando que a previsão inicial da Vert Hotéis era construir uma média de seis hotéis em dez anos, o que no segundo ano da empresa já mudou para 45 hotéis no mesmo período, ninguém duvida que ela chegará lá.
O segredo do sucesso, diz Érica, é estar atenta ao essencial. "Temos de fazer primeiro o básico bem feito, para depois nos preocuparmos com uma flor para enfeitar o ambiente." Ela garante que segue à risca os seis pilares da hotelaria: dar aos hóspedes um bom café da manhã, banho revigorante e uma excelente noite de sono, sem esquecer o prazer em servir, a conectividade e a sustentabilidade. Mas no Ouro Minas as flores já começaram a enfeitar o ambiente. Mudas de árvores foram plantadas recentemente e a praça ao lado foi adotada pela empresa. "Vert é verde em francês. Eu sempre busquei soluções sustentáveis, partindo do princípio da economia, gastando pouco mesmo antes de reutilizar ou reciclar materiais, com desperdício zero."
Apesar da crise enfrentada por todos ao longo da pandemia, o hotel já trabalha com capacidade quase plena, com picos que chegaram a 82% de ocupação. Para evitar aglomeração nas áreas comuns, aposta nas reservas antecipadas e no investimento em tecnologia para disponibilizar mais segurança, eficiência e qualidade no atendimento. "Algumas mudanças têm sido positivas. O mineiro que adorava dar três beijinhos agora não dá nem aperto de mão e acaba se preservando mais." A empresária acredita que a vacina é a solução para que os transportes aéreo e público voltem a se normalizar, possibilitando o retorno efetivo do turismo, mas sem abrir mão dos protocolos de segurança. "Funcionamos 24 horas por dia. Com o transporte público indo apenas até 11 da noite, fica difícil para os funcionários noturnos voltarem para as suas casas, o que acaba aumentando os custos das empresas."
Mesmo driblando contratempos, Érica não perde o otimismo. A determinação, a seu ver, é uma característica importante para todo empreendedor. Empreender, diz ela, é saber lidar o tempo todo com altos e baixos, seja com o poder público, a economia do país, os funcionários e até mesmo, familiares. "O meu pai me ensinou que o trabalho é tudo na vida da gente, por isso não me permito desistir." Quando não está à frente das empresas, se desdobra entre dar atenção à família - tem três filhos - praticar corrida, fazer balé clássico e tomar um bom vinho. Dormir? Nem tanto quanto gostaria. "O dia pra mim é longo", brinca ela. Com tamanha versatilidade, defende que a mulher tem de ocupar o seu lugar no topo dos grandes negócios. Lembra que mesmo recebendo 43% a menos que os homens, mais de 60% dos lares brasileiros são mantidos pelo sexo feminino.
Érica é do tipo que não se intimida e adora desafios, como quando atuou como secretária de Estado de Turismo (Setur-MG), entre 2007 e 2010, nas gestões dos governadores Aécio Neves e Antonio Anastasia. "Para mim foi um privilégio. O estado me deixou o sentimento de que é possível fazer bem feito, mesmo sendo gestor público." E fazer bem feito é o que ela busca, agora à frente do Ouro Minas.