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Estado de Minas PERFIL

Érica Drumond volta à direção do hotel Ouro Minas

No mês em que se comemora 25 anos do cinco-estrelas, a empresária fala sobre sua volta à empresa fundada pelo pai, os desafios enfrentados no setor público e a venda da Vert Hotéis


postado em 13/10/2021 10:19 / atualizado em 13/10/2021 10:19

Érica Drumond volta à direção do Ouro Minas:
Érica Drumond volta à direção do Ouro Minas: "A hotelaria foi ideia do meu pai. Eu não escolhi, fui escolhida, e dei sequência ao trabalho dele" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Ela não para. Encurtar distâncias e buscar soluções são a sua especialidade. Casada com um americano com quem tem casa na Flórida, costuma pegar a ponte aérea em Belo Horizonte na sexta-feira para retornar na terça. Isso sem contar as viagens feitas para reuniões em outros estados brasileiros. "Cheguei a fazer nove voos por semana. Não faço isso nunca mais. Se podemos dizer que a pandemia trouxe algo de bom, sem dúvidas foi a praticidade dos encontros on-line", diz Érica Drumond, 52 anos, empresária que após 14 anos afastada retorna ao Ouro Minas. Agora com novo cargo e posição: diretora e maior acionista de um dos hotéis mais luxuosos da capital mineira, único cinco-estrelas da cidade.

Nos primeiros seis meses de isolamento social, confessa que tentou diminuir o ritmo após décadas administrando uma agenda digna de artista em evidência. Mas nem mesmo a pintura de quadros e os cuidados com o jardim foram capazes de acalmar o seu espírito. Ficou ainda mais claro que ela não nasceu para ficar quieta. Bastou o convite do irmão para voltar aos negócios da família para aterrissar novamente em solo mineiro. Desde abril deste ano, se dedica ao desafio de reforçar a cultura do pai, o fundador do grupo Maquiné, José Décio Drumond, falecido há dez anos e, futuramente, desenvolver a marca Ouro Minas para outros estados.

A imponente fachada na avenida Cristiano Machado: 25 anos após a inauguração, ainda é o único cinco-estrelas da cidade(foto: Divulgação)
A imponente fachada na avenida Cristiano Machado: 25 anos após a inauguração, ainda é o único cinco-estrelas da cidade (foto: Divulgação)
Inevitavelmente, a trajetória de pai e filha se entrelaça. Foi ele que lhe apresentou a rede de serviços da família, que na época contava com lavanderias e moteis. Sua primeira experiência profissional foi ainda jovem, na área de recursos humanos. "A hotelaria foi ideia do meu pai. Eu não escolhi, fui escolhida, e dei sequência ao trabalho dele." A empresária se recorda do dia em que o pai disse que queria fazer um hotel cinco-estrelas na Avenida Cristiano Machado, na zona norte da cidade. "Parecia uma loucura. Apesar do impacto que tivemos, o meu interesse foi imediato. Comecei a viajar e pesquisar sobre o assunto."

Vinte e cinco anos depois, comemorados neste mês de outubro, o Ouro Minas sobrevive à crise da Covid-19, sem nunca ter fechado as portas, e se orgulha de ser líder de mercado em  todas as categorias do setor mesmo agora que conta com apenas metade de sua equipe, cerca de 200 funcionários. A estrutura conta com 25 andares, 301 apartamentos e 45 suítes.

Prestigiado com o prêmio Traveller's Choice Best of The Best, "o melhor dos melhores na escolha dos viajantes", realizado pela Trip Advisor, faz parte de um seleto grupo de 10% dos melhores do mundo, segundo avaliação dos usuários. Também é campeão no segmento hotel, nas 26 edições do Prêmio Top Of Mind que destaca as  marcas de sucesso de Minas Gerais.

Hotel passa a aceitar animais de estimação: eles podem ficar ao lado dos donos, dentro dos quartos(foto: Uarlen Valério/Encontro)
Hotel passa a aceitar animais de estimação: eles podem ficar ao lado dos donos, dentro dos quartos (foto: Uarlen Valério/Encontro)
De volta à empresa da família, Érica Drumond brinca que já passou os 120 dias de experiência e chegou para ficar. Com ela vieram algumas novidades. Pela primeira vez o hotel passa a ser pet friendly, com hospedagem que inclui os animais de estimação. Para as famílias, o Kids Club com conceito montessoriano, garante a recreação da criançada e a tranquilidade dos pais. No restaurante do hotel, os hóspedes e visitantes contam com pratos de alta gastronomia e, aos sábados, com apresentação musical ao piano. "Estamos trabalhando a parte de lazer, com piscina para a família e refeições no estilo resort. Pequenas mudanças que fazem a diferença em um produto de 25 anos", diz Érica.

Movimento atípico no mercado e muito bem-vindo, segundo a empresária, é o belo-horizontino estar descobrindo os hotéis da própria cidade e os turistas viajarem mais dentro do seu próprio país. Um nicho novo para a hotelaria que precisa se adaptar. "Temos recebido moradores da capital querendo conhecer o hotel pela primeira vez", afirma. "Essa é uma tendência que deve permanecer." Fundadora da Vert Hotéis, empresa mineira criada em 2011 e vendida para a Atlantica Hotels em março de 2020, Érica se considera uma mulher de sorte. Afinal, o projeto cresceu tanto que se tornou "muito grande para o seu tamanho". A parceria entre as duas empresas teve início em 2018, levando a um faturamento superior a 1 bilhão de reais no ano seguinte e na ampliação da visibilidade das marcas no mercado nacional.  "Finalizamos a venda com 26 hotéis abertos e 35 contratos em andamento, e com uma marca própria da qual me orgulho, a E-suites."

A piscina do cinco-estrelas: segundo Érica, infraestrutura vem atraindo famílias da capital mineira(foto: Uarlen Valério/Encontro)
A piscina do cinco-estrelas: segundo Érica, infraestrutura vem atraindo famílias da capital mineira (foto: Uarlen Valério/Encontro)
Sob o comando de Érica, a Vert Hoteis lançou, em novembro de 2015, um projeto ousado e inovador. O Ramada Encore Virginia e o E.suites são empreendimentos que dividem os andares de um mesmo prédio, localizado no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul de BH. Duas torres interligadas abrigam 90 quartos no hotel econômico e 33 suítes no E.suítes. Um hotel inteiro pintado e sinalizado por artistas plásticos.

O desejo de uma vida mais tranquila ficou mesmo para depois. E Érica não poupa esforços. Em muitos dias, chega a trabalhar mais de 15 horas seguidas. Pretende estabilizar a empresa familiar para então desenvolver a marca Ouro Minas em outros estados. "Quem sabe consigo uns dez hotéis em dez anos?", diz a empresária, já revelando seus planos para a próxima década. Considerando que a previsão inicial da Vert Hotéis era construir uma média de seis hotéis em dez anos, o que no segundo ano da empresa já mudou para 45 hotéis no mesmo período, ninguém duvida que ela chegará lá.

O segredo do sucesso, diz Érica, é estar atenta ao essencial. "Temos de fazer primeiro o básico bem feito, para depois nos preocuparmos com uma flor para enfeitar o ambiente." Ela garante que segue à risca os seis pilares da hotelaria: dar aos hóspedes um bom café da manhã, banho revigorante e uma excelente noite de sono, sem esquecer o prazer em servir, a conectividade e a sustentabilidade. Mas no Ouro Minas as flores já começaram a enfeitar o ambiente. Mudas de árvores foram plantadas recentemente e a praça ao lado foi adotada pela empresa. "Vert é verde em francês. Eu sempre busquei soluções sustentáveis, partindo do princípio da economia, gastando pouco mesmo antes de reutilizar ou reciclar materiais, com desperdício zero."

O restaurante do hotel: hóspedes e visitantes podem curtir apresentações ao piano, enquanto saboreiam algumas das receitas do cardápio de cozinha variada(foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
O restaurante do hotel: hóspedes e visitantes podem curtir apresentações ao piano, enquanto saboreiam algumas das receitas do cardápio de cozinha variada (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Apesar da crise enfrentada por todos ao longo da pandemia, o hotel já trabalha com capacidade quase plena, com picos que chegaram a 82% de ocupação. Para evitar aglomeração nas áreas comuns, aposta nas reservas antecipadas e no investimento em tecnologia para disponibilizar mais segurança, eficiência e qualidade no atendimento. "Algumas mudanças têm sido positivas. O mineiro que adorava dar três beijinhos agora não dá nem aperto de mão e acaba se preservando mais." A empresária acredita que a vacina é a solução para que os transportes aéreo e público voltem a se normalizar, possibilitando o retorno efetivo do turismo, mas sem abrir mão dos protocolos de segurança. "Funcionamos 24 horas por dia. Com o transporte público indo apenas até 11 da noite, fica difícil para os funcionários noturnos voltarem para as suas casas, o que acaba aumentando os custos das empresas."

Mesmo driblando contratempos, Érica não perde o otimismo. A determinação, a seu ver, é uma característica importante para todo empreendedor. Empreender, diz ela, é saber lidar o tempo todo com altos e baixos, seja com o poder público, a economia do país, os funcionários e até mesmo, familiares. "O meu pai me ensinou que o trabalho é tudo na vida da gente, por isso não me permito desistir." Quando não está à frente das empresas, se desdobra entre dar atenção à família - tem três filhos - praticar corrida, fazer balé clássico e tomar um bom vinho. Dormir? Nem tanto quanto gostaria. "O dia pra mim é longo", brinca ela. Com tamanha versatilidade, defende que a mulher tem de ocupar o seu lugar no topo dos grandes negócios. Lembra que mesmo recebendo 43% a menos que os homens, mais de 60% dos lares brasileiros são mantidos pelo sexo feminino.

Érica é do tipo que não se intimida e adora desafios, como quando atuou como secretária de Estado de Turismo (Setur-MG), entre 2007 e 2010, nas gestões dos governadores Aécio Neves e Antonio Anastasia. "Para mim foi um privilégio. O estado me deixou o sentimento de que é possível fazer bem feito, mesmo sendo gestor público." E fazer bem feito é o que ela busca, agora à frente do Ouro Minas.

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